07 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 25/08/2023 às 14:43

Geração botox

Esticar a pele como quem estica também a vida. A geração botox trouxe uma reflexão sensata sobre o tal medo de envelhecer. A gente não receia a pele caindo, as rugas surgindo e a jovialidade se esvaindo. A gente teme os sinais do tempo. O tal precioso tempo, que nos lembra que, a cada dia, um pouco de nós morre.

Injeta, preenche, retoca, molda, transforma. Como se transformasse também os processos naturais. Temer o envelhecimento não seria nada mais do que temer a morte? Envelhecer é ver várias versões de si mesmo morrendo em frente ao espelho. A gente se transmuta, se recria e, às vezes, nem mais se reconhece. 

Quem nunca se assustou com a própria imagem jamais vai saber o impacto de perceber que o tempo passa, ainda que calmamente, e, leva, arrasta e sinaliza, que a vida está indo. Beleza é passageira, assim como o tempo, que não volta, por mais que a gente tente. 

Confesso que já pensei, muito mais vezes do que deveria, em esticar o que enruga em mim. Mas percebi que meu medo maior é perder a mão, ficar cafona, estática, sem expressão. E se eu me tornar escrava dos procedimentos? E se desenvolver um transtorno de imagem? E se o celular não reconhecer meu rosto para desbloquear a tela? Um tanto quanto dramática, talvez. 

A gente estica a pele tentando esticar o tempo, pra se sentir mais vivo, mais bonito, pra voltar atrás no que um dia foi. Mas, o botox não paralisa o relógio, o calendário, só as expressões. O que enruga a alma é diferente do que enruga o rosto. Entende?!

Não há botox que estenda a vida, não há ácido hialurônico que preencha a alma, não há medicamento, cosmético ou composto mágico capaz de nos dar mais tempo. Não é possível injetar mais horas, mais anos, mais vivências. As rugas são a própria experiência, marcas do que um dia fomos. E por que, afinal, queremos nos livrar delas?

Injeta alegria nesse rosto, preenche a vida de sentido, retoca o bom humor. Gente feliz não tem tempo pra ver defeitos no espelho, porque entende que a vida é agora, está passando, e não há seringa que dê jeito. Melhor harmonizar a vida, do que desarmonizar a face. 

Luana Cardoso Mendonça

Jornalista em formação pela FIC/UFG, Bióloga graduada pelo ICB/UFG, escritora e eterna curiosa. Compartilho um pouco do mundo que eu vejo, ouço e vivo, em forma de palavras, afinal, boas histórias merecem ser contadas