Galvão Bueno é uma figura dicotômica no mundo esportivo. Há quem o considere brilhante e também tem quem o odeie. E há quem tenha nutra ambos os sentimentos ao mesmo tempo. Galvão é um típico chato brilhante. Seja como for, o cara continua marcando época no esporte brasileiro. Nos esportes olímpicos, futebol ou mesmo na Fórmula 1 – que anda se afastando pouco a pouco, talvez por vislumbrar uma aposentadoria próxima, é impossível não se lembrar de momentos marcantes que foram narrados por ele. Haja coração porque o cara tem história. Assim como eu, uma geração foi formada assistindo jogos de futebol narrados por ele. Há quem tente rivalizá-lo com o eterno Luciano do Vale mas a verdade é que ambos nos presentearam com brilhantes recordações.
Uma semana após a tragédia do Maracanazo, nasceria Galvão Bueno. O cara está fazendo 70 anos hoje e ao longo desse tempo todo narrou vitórias de um tal “Ayrton Senna do Brasil”, na Formula 1 e também o “teeeeeeeeeeeetra” da seleção brasileira em 1994. Em 2002, quis que um tal de garoto chamado Kaká entrasse nos minutos finais de um Brasil e Alemanha que culminou no pentacampeonato. “Todo mundo quer que o Kaká entre… Mas não dá tempo… acaboooou! Acaboou! É pentaaaaa! É pentaaaaaaaaaa!”.
Se não viu a tragédia do Maracanazo, narrou a tormenta do Minerazo em 2014 e se perdeu ao ver uma Alemanha ‘passear’ (para não citar outros termos um tanto humilhantes) em cima de um Brasil totalmente irreconhecível. 7 a 1. “Virou passeio, amigo”. Aquele “absurdo” difícil de ser engolido, até hoje, não muito bem compreendido. Mácula na carreira? História! Se ele pudesse pedir para o Felipão não entrar no segundo tempo do jogo ainda assim a partida não seria menos vexatória. “Pode isso, Arnaldo?”, não, não podia e a seleção teve de voltar à campo para completar a pelada.
Há momentos que também viraram verdadeiros memes. E quando o nadador e multicampeão olímpico MIchael Phelps parecia distante de uma vitória olímpica mas numa prova dramática Galvão não sabia mais se o cara ganharia ou perderia e numa confusão mental homérica mandou: “Braçada com braçada! Ele e Cavic! Vai perder! Vai ganhar! Vai perder, vai ganhar, perdeu! Ganhou! Michael Phelps na batida de mão!”. A partir daí a gente não sabe o que aconteceu mais, o mundo deu um giro e ninguém mais soube quem ganhou ou perdeu na vida.
E existem aqueles lances que eternizaram jogadores. Impossível não se lembrar da seleção das Copas de 1994 e 1998 e se esquecer de Taffarel. Mais difícil ainda é não se recordar das defesas milagrosas do arqueiro acompanhada do “SAÍ QUE É SUAAAAAAAA!”. 7 de julho, 1998: Brasil x Holanda. Semi Finais da Copa da França. 2 defesas de pênaltis em sequência. Apenas um dos muitos exemplos que a narração emocionante se confundiu com a beleza e competência da atuação do atleta.
Como já disse um filósofo contemporâneo muito apreciado por Galvão, também tenho saudades do que nunca vivi. Falta mesmo para coroar a glória do aniversariante narrar um título do meu time de coração. Aquele time mediano que me faz chorar em seus rebaixamentos e berrar com os acessos. Que prova meu coração em quase todos os jogos e me faz passar por um “teste para cardíacos” nas rodadas finais do Brasileirão e em uma semifinal de Copa do Brasil. Ver Galvão narrar um desses jogos seria saboroso.
Provavelmente, por estar num Estádio eu não teria a oportunidade de ‘vê-la’ no momento da transmissão mas seria uma das histórias que eu contaria para meus netos. O dia em que Galvão narrou o jogo do meu time. O dia em que Galvão narrou o título que talvez nunca veio. O dia que Galvão fez história no Planalto Central. O dia em Galvão participou da história do meu time de coração que nunca aconteceu. Haja coração, amigo…