13 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 15/03/2017 às 13:13

‘Fogo amigo’ na OAB – e o inimigo à espreita

Na eleição passada, a OAB passou por uma disputa dura.

Contra um grupo que estava ‘de velho’ no poder, venceu a renovação, representada pelo atual presidente, Lúcio Flávio.

Desde então, o que se viu: um presidente tateando nas mudanças, e uma oposição aguerrida na trincheira. A ponto de quase anular a eleição.

Até aí, nada de mais. Oposição forte é pressuposto da democracia.

O que mais chama a atenção hoje é outra coisa: a maior disputa na OAB não é a que coloca situação contra oposição, e vice-versa, mas a pior de todas: situação contra situação.

Pior de todas, para quem está no poder, porque nada é mais destrutivo do que o chamado ‘fogo amigo’.

O clima interno na atual gestão é de conflito, não é de paz. Um por todos e todos por um? Longe disso.

Nesta segunda, um artigo advogado Bruno Pena colocou mais lenha nesta fogueira.

Ele aponta várias propostas da campanha de Lúcio Flávio – apoiada com entusiasmo por ele – que ainda não foram implantadas.

Mas tudo pode ser resumido em suas primeiras palavras, que fazem trocadilho com o mote da campanha vencedora, ‘A OAB Que Queremos’.

Diz Bruno Pena: “A OAB que temos hoje não é a OAB que queremos, tampouco a que merecemos, e muito menos a que nos foi prometida.”

foto oab vitoria

Palavras fortes.

O curioso é não se ver uma contraposição adequada da parte dos aliados imediatos do presidente. A reação é tímida, perto do significado do fato. Trata-se de um aliado; trata-se de uma delicada e possível ruptura em um grupo que, unido, provou-se vencedor.

Os defensores de Lúcio Flávio poderiam dizer, por exemplo, que, se tudo não foi feito, muito do prometido já se tornou realidade.

Porque isso é fato, embora seja fato também que a divulgação dos feitos da atual gestão esteja longe de ser uma de suas virtudes.

O próprio Bruno Pena reconhece, ao ponderar que tomava posição crítica “apesar de reconhecer alguns avanços…”

Posição legítima, diga-se.

Ressalto isso por entender que há outro ponto mais perturbador em tudo.

Uma mudança como a que foi proposta pelo atual grupo no comando da OAB não é tarefa fácil, e muito menos missão para poucos, ou pouco tempo.

Para mudar tão profundamente o que precisa ser mudado na OAB, é necessário que Lúcio Flávio faça sua parte, mas que também aliados da campanha, e novos aliados até, se empenhem em participar.

(Assim como é preciso uma oposição que se ocupe menos da picuinha eleitoreira e mais das questões fundamentais.)

Que todos se disponham a participar mesmo, com ônus e bônus.

Principalmente, compreendendo que nem tudo é possível de uma vez, ao mesmo tempo, muitas vezes com sacrifícios de interesses pessoais ou de grupos.

Os esforços precisam ir além do imediatismo. Ponto.

Pode ter razão quem veja em Lúcio Flávio uma real dificuldade para aglutinar, deixando escapar agora forças que foram decisivas para sua eleição.

Um líder precisa fazer gestos e ir à frente, em busca. Não dá para esperar que todos o sigam simplesmente pela atração do cargo. Fazer por merecer é pressuposto da liderança.

Mas, insisto, o trabalho demanda mais de um. Logo, um só também não pode ser culpado de tudo.

Tem razão quem simplesmente parte para o confronto aberto, sem primeiro buscar a unidade que vai sendo perdida?

Este o ponto de reflexão para os que venceram no ano passado.

Porque, enquanto a situação briga entre si, a oposição se faz forte. E, aqui, sem trocadilhos.

Um dos lances mais conhecidos no tabuleiro das disputas é justamente o da desunião do inimigo. Dividir para ganhar. Elementar.

A eleição que só vai acontecer no ano que vem corre solta nos bastidores. Isso é inegável.

Como é inegável, ao que parece, que a renovação, com seus vários líderes cheios de razão, desfaz-se no tempo.

Nessa desabalada toada, daqui a pouco ‘a OAB que queremos’ vai acabar virando a “a OAB que perdemos’.