05 de dezembro de 2025
Publicado em • atualizado em 18/08/2025 às 14:59

Filho de Bolsonaro xinga governadores e indica que nenhum deles vai ter apoio para presidente em 2026

A postagem de Carlos Bolsonaro (Claramente articulada com o pai Jair e seus irmãos) nas redes sociais cumpre um papel revelador no tabuleiro político: mostra que nenhum candidato da direita que não seja da própria família Bolsonaro terá o apoio efetivo do clã na eleição de 2026. Ao chamar governadores de direita de “ratos”, Carlos não apenas ataca possíveis aliados, como também delimita com clareza o projeto político em curso: garantir que, em 2026, o candidato à Presidência seja alguém que carregue o sobrenome Bolsonaro. De preferência, um dos filhos.

Usando uma das maiores competências do clã Bolsonaro (Afastar aliados e possíveis apoiadores políticos, a frase escrita por Carlos no X (antigo Twitter) foi incisiva: “Os governadores, ditos de ‘direita’, se comportam feito ratos!”.  A postagem foi feita logo após o anúncio da pré-candidatura a presidente de Romeu Zema (NOVO), governador de Minas Gerais.

Poucas horas depois, o deputado autoexilado nos EUA, Eduardo Bolsonaro endossou: “É verdade. Tenho visto muito isso.” A dupla, claramente, mirou, sem citar nomes, figuras que se propuseram até agora a entrar na disputa eleitoral presidencial: Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ratinho Júnior (PR) e Ronaldo Caiado (GO) — todos governadores alinhados à pauta conservadora.

No entanto, a política como na física tem a lei: Toda ação leva a uma reação. Do mesmo modo que os bolsonaristas se acham poderosos e inteligentes, os governadores que querem disputar a eleição também têm sua carga de experiência.

Tome-se aí o caso de Ronaldo Caiado. Ele já declarou que dará indulto para Jair Bolsonaro se for eleito. Mantém postura crítica ao governo do PT e de Lula e já esteve até em eventos do ex-presidente na Avenida Paulista. Não é o suficiente. O governador goiano já declarou várias vezes que “Caiado não aceita cabresto”.  Agredido, como os outros, sabe que há muita água para correr debaixo da ponte e que os filhos de Jair, que parecem ter um parafuso a menos, podem mudar de ideia.

Na prática, os bolsonaristas são um problema para a esquerda, mas também são criadores de caso para a direita. Alimentam a desunião e uma política extremista: Ou é tudo ou é nada. A divisão chama um segundo turno da eleição presidencial na qual Luís Inácio Lula da Silva já está, pois do lado dele não tem divisão.

A recorrência da postura bolsonarista não é novidade. Desde 2018, Jair Bolsonaro e seus filhos demonstram extrema habilidade para agredir potenciais aliados. A lógica é simples e brutal: quem não se curva totalmente ao núcleo familiar é descartado ou atacado. Joice Hasselmann, Alexandre Frota, Gustavo Bebianno, General Santos Cruz, Sergio Moro, Luciano Bivar, Janaína Paschoal e, mais recentemente, o senador e ex-jogador de futebol, Romário (RJ). Eles, e outros, foram aliados de primeira hora, todos se tornaram inimigos públicos após questionar ou contrariar algum interesse dos Bolsonaro.

O bolsonarismo não é um movimento de coalizão. É um projeto dinástico. E se há algo que a família Bolsonaro aprendeu com o poder foi que manter o controle absoluto sobre sua base eleitoral é mais importante do que ampliar alianças. Por isso, quem espera por um gesto de generosidade ou reconhecimento vindo de Jair Bolsonaro está fadado à frustração.

O ex-presidente — agora inelegível — já demonstrou que prefere levar o jogo à ruína do que ceder o protagonismo a um terceiro, mesmo que do próprio campo ideológico.

É por essa razão que as movimentações em torno de uma candidatura viável da direita para 2026 estão travadas. Jair Bolsonaro ainda sonha com um “plano A”: a reversão de sua inelegibilidade. Mas mesmo que isso não aconteça, há um “plano B” em curso — e ele passa por Flávio, Eduardo ou até mesmo Michelle Bolsonaro. O importante é que a cabeça de chapa tenha o sobrenome da família.

Essa postura, embora compreensível dentro da lógica de poder do clã, mina qualquer tentativa de unidade. Os governadores que foram alvos da postagem de Carlos Bolsonaro sabem disso.

 Tarcísio, por exemplo, que ainda conta com expressivo apoio do eleitorado bolsonarista, tenta se equilibrar entre fidelidade simbólica e independência administrativa. Mas mesmo isso parece ser insuficiente. A crítica pública de Carlos indica que nem ele, nem Eduardo, aceitarão qualquer candidatura de fora do núcleo familiar.

O efeito político disso é profundo. Ao deslegitimar previamente qualquer nome da direita que não seja um Bolsonaro, a família impõe um teto ao crescimento do campo conservador. Reproduz uma lógica de seita: só é legítimo quem permanece fiel até o fim. E isso, sabemos, não se sustenta em um sistema democrático que exige articulação, negociação e representação plural.

A direita, no entanto, não pode alegar surpresa. Os sinais de isolamento e autofagia são evidentes desde o primeiro mandato de Jair Bolsonaro. Ainda no governo, ele desprezou os partidos que o elegeram, rompeu com aliados de campanha, hostilizou o Congresso com a história de Velha República e apostou no confronto permanente com o Judiciário.

Após a derrota em 2022, continuou a agir como se estivesse no poder, esperando lealdade cega de quem ocupa cargos eletivos e se elegeu com apoio de sua imagem.

Quem acredita que Bolsonaro e seus filhos serão fiadores de uma candidatura externa em 2026 ignora a natureza do bolsonarismo. Não há espaço para compartilhamento de protagonismo. Não há tolerância com autonomia. O projeto é centralizador, personalista e, agora, familiar. Tudo o que foge disso é visto como ameaça e, portanto, deve ser combatido, ainda que com palavras duras como as de Carlos nesta semana.

A direita brasileira precisa decidir se seguirá refém desse modelo ou se vai se reestruturar com base em lideranças capazes de dialogar, articular e construir uma alternativa política que vá além de slogans e fidelidades pessoais.

Mas, para isso, é preciso primeiro entender o óbvio: quem pensa em contar com o apoio de Jair Bolsonaro e seus filhos está redondamente enganado. Eles não apoiarão ninguém que não seja… eles mesmos.

Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: altairtavares@diariodegoias.com.br .