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A morte do jornalista Paulo Henrique Amorim deixa um vazio, uma lacuna no bom jornalismo no Brasil.
PHA sabia o tempo exato das frases e tinha um raciocínio rápido. Bom frasista. Texto fluído. Comentários ácidos.
Tinha a elegância de um lorde inglês, mas também chutava o pau-da-barraca como bom carioca e tricolor que foi.
Estive com Paulo Henrique Amorim em duas oportunidades em Goiânia. A primeira, no dia 06 de maio de 2016, quando veio a Capital a convite da deputada estadual Isaura Lemos para lançar o seu livro, “O Quarto Poder”, onde relata o conluio entre a Rede Globo e a Operação Lava Jato para derrubar a presidenta Dilma Rousseff (PT). Na ocasião, escrevemos a resenha do livro em nosso blog que foi lida por Isaura Lemos, na apresentação de Amorim, que depois fez uma bem-humorada palestra sobre os temas que tratou na sua obra. (https://portal.al.go.leg.br/noticias/ver/id/142250/tipo/geral)
Voltaria a me encontrar com PHA no mês de novembro do mesmo ano, quando ele foi um dos convidados do X Congresso do Sintego, onde fez palestra crítica ao governo do então presidente michel Temer, pela aprovação da PEC 241, que congelou investimentos em saúde e educação. O jornalista também condenou o governo de Marconi Perillo pela militarização das escolas estaduais (http://sintego.org.br/noticia/4613–amorim-critica-militarizacao-das-escolas-em-goi-e-diz-que-pec-241-e-para-privatizar-a-educacao ).
“Nunca tinha ouvido falar em militarização da educação pública. Nem nos governos militares tentaram isto. Mas também, nem, nos governos militares eles ousaram mexer na CLT do governo Vargas, e agora estão rasgando a CLT e não vai ser o Temer, nem o Congresso, vai ser o Supremo! O STF vai estabelecer que o negociado vale mais do que está na lei. E com a terceirização total os trabalhadores vão perder 30% dos salários”, profetizou a época.
Paulo Henrique Amorim foi o primeiro a denunciar o golpe travestido de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff. Foi também, desde o início, crítico aos desmandos da operação Lava Jato. Considerava o ex-juiz Sérgio Moro como um fascista, que não escondia sua posição ideológica pela indumentária (sempre vestido de preto, como o “duche” Mussolini) e pela explícita perseguição a lideranças e partidos à esquerda do espectro político.
É de autoria de Amorim o termo “PIG” (Partido da Imprensa Golpista), que cunhou para designar a Globo e outros veículos que se alinharam ao golpe contra Dilma. Tratou também de “colonistas”, os articulistas de alguns jornais que tinham, na sua opinião, uma visão colonizada do país, alinhada aos interesses dos Estados Unidos.
Amorim iniciou a carreira no jornalismo em 1961 e, antes de criar oTV Afiada em 1999 (que viria a ser Conversa Afiada), atuou tanto na televisão como na mídia impressa. Entre as empresas por onde passou estão a Record, Rede Globo, Band, TV Cultura, jornal A Noite, Jornal do Brasil, além das revistas Veja, Exame, Realidade, Fatos e Fotos e Manchete.
O carioca Paulo Henrique Amorim era um fã confesso do jornalista norte-americano Edward R. Murrow, da rede CBS de televisão, cujo bordão,”Good night and good luck” (Boa Noite e Boa Sorte) seria depois utilizado por Amorim.
Murros era um jornalista talentoso e corajoso como Amorim. Ele enfrentou o senador Joseph McCarthy, político que transformou uma Comissão de Investigação do Congresso dos Estados Unidos (Comitê de Atividades Antiamericanas) em palco de uma campanha anticomunista falaciosa, baseada em acusações levianas, usadas para constranger e desmoralizar milhares de cidadãos norte-americanos ou estrangeiros, na década de 1950.
PHA se alinha ao pensamento de Edward R. Murrow quando faz sistemático combate ao discurso único da Operação Lava Jato e de setores expressivos da mídia que fizeram verdadeira caça às bruxas contra os alvos da Lava Jato, prioritariamente, políticos ligados ao Partido dos Trabalhadores, empreiteiras, a Petrobrás e a indústria naval, empresas que mais se desenvolveram durante os governos petistas (2003-2016).
O filme “Boa Noite e Boa Sorte” (Good Night and Good Lucky), dirigido pelo ator George Clooney foi lançado em 2006, e retrata a importante contribuição de Murrow para restabelecer a liberdade de imprensa e pensamento nos EUA, que até então estavam contaminados pelo discurso de ódio e intolerância que empesteou o país a partir do macartismo.
Ironicamente outro norte-americano, Glenn Greenwald, através do site The Intercept Brasil, está desmascarando outra onda macartista, representada pelo” Lavajatismo” e o “morismo”, que legaram ao nosso País o espantoso número de 14 milhões de desempregados, a prisão do maior líder popular do país (Lula) e a falência de empresas tradicionais do ramo de engenharia como a Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão e outras.
Fará muita falta ao Brasil o bom humor, a correção e o compromisso com a verdade e a ética que nortearam a carreira de Paulo Henrique Amorim. Fica a certeza de que seu exemplo será seguido por muitos outros profissionais de imprensa, que como ele, não se deixam calar pela intolerância, e insistem em jogar luz na hora mais escura de um país.