Marcus Vinícius
As atitudes intempestivas e por que não dizer, irresponsáveis do presidente Jair Bolsonaro (PSL) em relação ao meio ambiente já estão afetando o agronegócio brasileiro. A ligação direta entre o presidente e as lideranças ruralistas, sobretudo aquelas que estão ligadas à pecuária de corte os Estados do Pará, Mato Grosso, Roraima e Rondônia, está se transformando num transtorno para a economia brasileira.
Desde que assumiu o presidente Bolsonaro tem incentivado todo o tipo de desregulamentação na política de proteção ao meio-ambiente. Desde que deu posse ao ministro Ricardo Salles, no Ministério do Meio Ambiente, o presidente incentivou o desmonte do Ibama e do ICMBio, institutos criados para fiscalizar agressões ao meio ambiente, e incentivar políticas protetivas à fauna e flora brasileiras.
Sem equipamento, com redução de orçamento e de pessoal, o Ibama e o ICMBio se tornaram inócuos ante as agressões perpetradas pelos ruralistas na região Norte do país, sendo que no dia 5 de agosto último, estes realizaram “o dia do fogo”, onde iniciaram o incêndio criminoso que consumiu imensa área de floresta, que está devastando uma área estimada de 5 milhões de hectares, o equivalente a 500 mil campos de futebol, numa verdadeira hecatombe ambiental que cobriu os céus da capital paulista de fumaça, e está causando grave repercussão à imagem do país no exterior.
O incentivo do governo federal à desregulamentação do meio-ambiente é o causador da maior queimada registrada no país, tendo sido 55 mil focos de incêndio, um número 86% maior do que em 2018.
Os governos da Alemanha, França, Canadá, Irlanda, Noruega já defendem que a não seja realizado o acordo entre União Européia e o Mercosul, do qual o Brasil é signatário. As consequências são gravíssimas para a economia brasileira, pois ao mesmo tempo o governo destes e de outros países, como a Finlândia por exemplo, já defendem o boicote a produtos agropecuários brasileiros, principalmente a carne bovina.
Há muito tempo estamos alertando nesta coluna que a irracionalidade da política econômica do presidente Jair Bolsonaro iriam causar graves prejuízos à balança comercial brasileira. Os ataques de Bolsonaro à China, aos países Árabes e ao Irã (maiores compradores de produtos brasileiros), já causaram arranhões na imagem do Brasil perante estes mercados, que foram duramente conquistados, graças ao trabalho árduo realizado por grandes homens públicos a partir dos governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula como os ex-ministros Celso Amorim (Chanceler), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e Roberto Rodrigues e Pratini de Morais (Agricultura).
O governador Ronaldo Caiado (DEM) é um dos fundadores da UDR (União Democrática Ruralista), movimento criado nos anos 1980 para combater a reforma agrária, contrapondo-se sobretudo ao Movimento dos Sem Terra, iniciado em 1983. A UDR evoluiu para o movimento ruralista que ganhou cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado, onde Caiado foi um dos seus representantes, ao lado de outros nomes como o Roberto Balestra (PP), que foi deputado por oito mandatos.
Caiado, que já demonstrou sensibilidade ambiental, como um dos defensores de políticas de proteção ao Rio Araguaia, não pode se furtar a este debate, que é sensível às finanças de Goiás. A balança comercial goiana é composta por 80% pelas exportações de proteína animal (carne bovina, suína, de aves e caprinos), e do complexo soja-milho, e também por produtos minerais.
Não se deve brincar com as ameaças de sanção comercial aos produtos brasileiros. Como bem informou o ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi, o Brasil não é o único país com capacidade de suprir o mundo com produtos alimentares. A Argentina, o Paraguai, e os países da África estão aptos para assumir este compromisso de alimentar o mundo.
Em entrevista ontem (quinta-feira) à BBC News Brasil o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Marcelo Vieira, disse que não é preciso desmantar nenhum centímetro de floresta para ampliar a produção agrícola brasileira, e tampou, desmatar a Amazônia para que ampliar as pastagens. Ele disse ao portal inglês que não vê contradição entre preservar as florestas e aumentar a produção agropecuária no país.
“A área atualmente ocupada pela agropecuária é de 30% do território brasileiro apenas, mas com os ganhos de produtividade que vêm ocorrendo, nós temos condição de produzir mais que o dobro do que nós produzimos hoje na mesma área. Então, a agropecuária brasileira não precisa expandir (a área utilizada)”, afirmou.
Desde os governos do presidente Fernando Collor de Mello (PRN), sediou no Brasil a ECO-92, no Rio de Janeiro, o Brasil passou a ser reconhecido internacionalmente como um país fortemente comprometido com a preservação ambiental. Este entendimento evoluiu nos governos seguintes, tendo sido criados órgãos e institutos para preservar as florestas nos governos de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luis Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
O presidente Jair Bolsonaro está jogando fora toda a boa imagem do Brasil, o “soft power” do qual falou uma vez o presidente dos Estados Unidos Barack Obama ao se referir à proeminência da diplomacia do Brasil na OMC (Organização Mundial do Comércio) e nas tratativas das questões climáticas.
Bolsonaro brigou com a Alemanha e Noruega, país que mais contribuem com o Fundo da Amazônia, que foi criado em 2007 no governo do presidente Lula para destinar recursos à preservação das florestas. O fundo destina recursos para brigadas anti-incêndio, bombeiros, e toda infra-estrutura de prevenção e de combate aos focos de incêndio. Sem estes recursos o que se vê é a inoperância do governo federal em combater os incêndios.Ronaldo Caiado pode desempenhar o papel de bombeiro nesta crise que está pondo fogo no principal ativo brasileiro: o agronegócio. Num dos momentos mais decisivos da Guerra do Paraguai, o General Osório virou a batalha de Itororó, que estava quase perdida, conclamando os soldados: “Os que forem brasileiros, me sigam”! Quem sabe está na na hora do governador Caiado liderar outro grito em defesa do Brasil e dos brasileiros.