Pensando aqui…
A sintonia entre o governador Marconi Perillo e o seu vice, José Eliton (PSDB), é grande e tem sido reforçada por uma série de ações e discursos nos últimos meses.
A estratégia faz parte da consolidação de Eliton como pré-candidato a governador da base marconista. Um é o outro, esta a mensagem levada a todos os cantos do Estado.
E parece estar funcionando, já que as reações contrárias ao vice, entre os governistas, diminuíram bastante. Há até focos de entusiasmo.
Diminuir as restrições já é ganho para José Eliton, que ao ser apresentado por Marconi como seu sucessor enfrentou forte resistência interna.
Daí chama a atenção o mote que um e outro adotam na contraposição a Daniel Vilela (PMDB) e Ronaldo Caiado (DEM), pré-candidatos da oposição.
Sim, nada é gratuito. O objetivo principal é carimbar os adversários como portadores de ódio, para tentar minar o impacto das críticas e das denúncias.
Caiado, que tem a verve mais ácida contra o governo, é ao mesmo tempo o alvo principal de Marconi e Eliton. Principalmente de Eliton.
Também isso não é gratuito. Ao chamar o democrata para o confronto, Eliton busca passar a mensagem que, nos últimos dias, ficou mais evidente no material que jogou nas redes sociais: é um homem de coragem etc.
Há aí outra mensagem subliminar: o reconhecimento do democrata como o adversário direto neste momento. Por ser favorito – o que mostram as pesquisas – e/ou por ser a melhor ‘escada’.
Atirando em Caiado o discurso de que Caiado atira a esmo contra o governo, Eliton pretende fortalecer o seu nome. Fortalecer, especialmente, entre os marconistas, que tem no senador o inimigo mais temido.
Uma vitória de Caiado, entendem os marconistas, seria o fim do poder para muita gente, e a desconstrução do legado iniciado lá em 1998.
A pergunta é: por que Caiado cai tão tranquilamente na estratégia de Eliton, aceitando a briga que tanto ajuda seu ex-aliado (lembrando: o vice foi indicação do democrata para a chapa de Marconi)?
Uma resposta: para Caiado, o confronto com Eliton também é bom, já que mantém vivo seu discurso agressivo de renovação necessária e escanteia Daniel Vilela como referência na oposição ao marconismo.
Enquanto a briga principal for Eliton X Caiado, Daniel será coadjuvante, estará em segundo plano, não crescerá nas pesquisas. Logo, terá mais dificuldade para firmar-se como candidato dentro do próprio PMDB. E, todos sabem, Caiado conta com o PMDB na vice.
O ponto fora da curva é: se os governistas não temem tanto Daniel Vilela quanto tem Caiado, por que não dão corda, então, para Daniel como potencial adversário?
Porque, em relação a Daniel, a estratégia é outra: mostrá-lo frágil, e sendo sabotado continuamente por seu próprio pai, Maguito Vilela. Mas isso são outros quinhentos.
Em matéria de discurso, Daniel tem procurado outro caminho ao de Caiado. O tom adotado contra o governo é mais ameno, embora firme.
E talvez por reconhecer a estratégia do governo em relação a ele, sua ação neste momento está mais centrada em juntar o PMDB. E seduzir os peemedebistas ao seu projeto.
Na prática, Daniel trabalha para conter a debandada de companheiros para Caiado. Tem que ganhar primeiro a ‘eleição’ contra Caiado para então pensar na outra, contra o governo.
O embate entre os dois oposicionistas continuará forte nos próximos meses, apesar do reconhecimento público de que, separados, são presa fácil, como foram nos últimos anos.
Nenhum deles dá mostra de que vai desistir. Muito pelo contrário. Mas há tempo pra se resolver isso. E é preciso aguardar uma definição do cenário nacional, em impasse total.
E aí chegamos ao encontro deste final de semana entre Marconi Perillo e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM). Maia este na intimidade da fazenda do governador em Pirenópolis.
Maia é um nome cotado, hoje, para a Presidência da República. Pode assumir interinamente em caso de derrota de Temer na votação de nova denúncia da PGR contra ele na Câmara que vai acontecer nos próximos dias. E ser candidato depois, em eleição indireta. Poder, pode.
Marconi é nome cotado para assumir o PSDB, que sonha com a Presidência da República. Maia e Marconi juntos pode ser coincidência? Ou início de uma conversa política? Conversação nacional? E/ou local?
Para Caiado, uma foto de Maia e Marconi juntos não ajuda. Dá lastro a várias interpretações, inclusive a negativa para ele: pode ter de recuar na sua candidatura a governador em caso de negociação nacional entre DEM e PSDB.
Mas também para Eliton a foto pouco ajuda: e se Marconi é que tiver de recuar? E se for ele, e não Caiado, a moeda de negociação em um jogo muito maior que o governo de Goiás?
Voltamos à afinação alimentada entre José Eliton e Marconi Perillo. O vice está construindo seu futuro unicamente na imagem e semelhança com o governador. O que é bom para ele hoje, mas é uma questão em aberto no futuro.
Para Marconi, mais interessante do que um candidato sucessor, é ter um defensor de seu legado. Eliton, como pré-candidato, cumpre bem esse papel de escudo, em especial contra Caiado. Mas é a perspectiva de poder que rege as ações políticas.
Por enquanto, os interesses do vice e do titular estão afinados na mesma direção. Assim como os do senador. Mas o jogo que importa está sendo jogado em Brasília. Nesse, o único titular é Marconi.
E onde cabem, nessa equação, o ódio e a pregação que o denuncia?
A bem da verdade, o discurso intenso contra o discurso do ódio carrega a mesma carga intensa da dinamite que combate. É bomba de autodestruição.
Homens-bomba costumam ser os derrotados úteis de vitórias alheias.
Mas estou só pensando aqui. E, pesando bem…
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Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).