Uma coisa que nunca muda no universo da política é a avidez por pesquisas. Todos querem saber da última. Todos dão notícia de alguma que foi feita por um ser anônimo, que pretende ser candidato. Números são citados com autoridade e fatalidade. O prefeito não ganha, está muito mal avaliado. O governador manda e desmanda, está muito bem avaliado. Na prática, tudo é névoa.
As pesquisas que mais balançam os comentários de bastidores nunca são as mesmas que, eventualmente, são feitas. Porque, além dos índices, há a diversidade de interpretações. Cada uma ao gosto do freguês. O freguês do boteco, do café, da sala de reuniões. O sentido se perde no interesse natural de quem vive de torcer a realidade a seu favor, ou a favor de seu chefe ocasional.
Em campanhas, é de notório saber que tem candidato que economiza tanto que prefere se guiar pelas pesquisas dos adversários. Tem sempre alguém infiltrado que lhe passa números anotados em papéis escondidos. E às vezes até consegue o relatório completo, para gáudio da equipe. Mas e daí, se a economia está na feitura mas também na leitura? De que adianta olhar a bússola e tomar o caminho errado?
A poucos ocorre investir em pesquisa, em vez de gastar para ter um relatório – fazer relatório é fácil; fazer pesquisa é são elas. A poucos ocorre sonhar com a vitória e planejar a vitória, em vez de esperar que ela lhe caia na cabeça por azar do adversário ou por obra divina. Faça sua parte, elemento, ensina o Senhor aos escolhidos. Não somos todos escolhidos? Mais ungido é aquele que desafia os índices, principalmente os da linha inimiga, em nome de seu inaudito feeling. Ele faz sua própria pesquisa nas ruas, diz. E taca-lhe o pau!
Nas últimas semanas, em Goiânia, vi ou fiquei sabendo de várias pesquisas. Quali e quanti. Qualitativas e quantitativas. De qualidade e inqualificáveis. Mas não vi ninguém que sabe o que está falando. Os números nas páginas se desmancham no ar dependendo dos olhos que os avistam. Profusão de índices, caos de leitura e interpretação. Estão todos assanhados. Basta-lhes o papel. O resto é tergiversação, outro nome para os bochichos inevitáveis de ocasião.
Quem tem pesquisa e sabe o que está fazendo? Eis a questão.
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).