No Brasil, a cada 60 minutos, em média, pelo menos cinco pessoas morrem vítimas de acidente de trânsito. Os desastres nas ruas e estradas do País também já deixaram mais de 1,6 milhão de feridos nos últimos dez anos, ao custo direto de quase R$ 3 bilhões para o Sistema Único de Saúde (SUS). Os números fazem parte de um levantamento elaborado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que na semana passada realizou em Brasília (DF) um evento nacional para entender esse problema que atinge proporções epidêmicas.
Para o coordenador da Câmara Técnica de Medicina de Tráfego do CFM, José Fernando Vinagre, os números mostram que os acidentes de trânsito constituem um grave problema de saúde pública e que provoca sobrecarga nos serviços de assistência, em especial nos prontos-socorros e nas alas de internação dos hospitais.
“É preciso reconhecer o importante aprimoramento da legislação ao longo dos anos e também o aumento na fiscalização, especialmente após a Lei Seca. No entanto, precisamos avançar nas estratégias para tornar o trânsito brasileiro mais seguro”, destacou.
Bolsonaro na contramão
Enquanto médicos e especialistas em trânsito defendem mais rigor na legislação de trânsito e na formação dos condutores, o presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ), faz demagogia o com assunto. Na última semana, o presidente voltou a defender mais uma fez a retirada dos radares das estradas, a ampliação do prazo de validação da carteira de motorista de cinco (5) para dez (10) anos e também aumentar de 20 para 60 os pontos na carteira. Todas medidas do presidente tem um objetivo: fazer demagogia para agradar os caminhoneiros, uma de suas principais bases eleitorais.
De acordo com a Agência Brasil, a fala do presidente foi feita em Cascavel (PR), onde conversou rapidamente com algumas pessoas e reforçou o envio de projeto de lei ou medida provisória para alterar as regras da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Em um vídeo divulgado pelo Palácio do Planalto na semana passada, Bolsonaro aparece respondendo algumas perguntas de uma pessoa que reclama da burocracia exigida para a profissão de caminhoneiro.
“Vou te dar uma boa notícia. Eu devo, na semana que vem, depende do presidente da Câmara, se será projeto de lei ou medida provisória, mexer no Código Nacional de Trânsito, onde a gente passa para 40 o número de pontos. O ideal era passar para 60, mas a gente teria dificuldade. E, também, a validade da carteira de motorista, de cinco para 10 anos”, disse Bolsonaro.
Reduzir acidentes de trânsito pode gerar economia de R$ 1,14 trilhão para o país
Enquanto o presidente Bolsonaro faz demagogia às custas de vidas inocentes, o o coordenador do SOS Estradas Rodolfo Rizzoto, informa que somente no ano passado, estima-se que os acidentes custaram R$ 340 bilhões, e o déficit da previdência foi de R$ 195 bilhões. Mensalmente o Brasil registra 3 mil mortos e 24 mil feridos no trânsito. Esta média é feita a partir do pagamento do seguro DPVAT, mas os números podem ser ainda maiores, observa.
“Reduzir os acidentes em 10% ao ano permitirá economizar R$ 1,4 trilhão e ainda salvar vidas. A redução prevista com a reforma da Previdência no mesmo período é de R$ 1 trilhão”, adverte Rizoto.
Para o especialista em trânsito, investir em políticas de prevenção de acidentes do trânsito salva vidas, diminui os gastos com a saúde pública e ainda pode evitar que aposentados e pensionistas venham a ter uma vida de miséria com a aprovação da reforma da previdência proposta pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
Tocantins lidera ranking
Entre 2009 e 2018, houve um crescimento de 33% na quantidade de internações em todo o País. O pior cenário, proporcionalmente, foi identificado no estado de Tocantins, que saiu das 60 internações, em 2009, para 1.348, no ano passado (aumento de 2.147%). Na sequência aparece Pernambuco, onde o salto foi de 725% na última década. O Estado de Goiás iniciou a série, em 2009 registrando 5.072 internações, e em 2018, registrou 6.547 internações, num aumento de 29,08%, totalizando nesta década 61.440 internações.
Apenas cinco estados registraram queda no número de internações por acidente de transporte: Maranhão (redução de 40%), Rio Grande do Sul (22%), Paraíba (20%), Distrito Federal (16%) e Rio de Janeiro (2%).
Altair Tavares
Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .