(Texto publicado originalmente no Tribuna do Planalto )
DEFINIÇÃO DAS COLIGAÇÕES MARCA INÍCIO DOS EMBATES ENTRE VELHOS E NOVOS CONHECIDOS AO GOVERNO ESTADUAL
A palavra-chave da eleição deste ano em Goiás é ‘mudança’. O conceito de resistência: o novo, a renovação. Na prática, o governador Marconi Perillo (PSDB) é a antítese, por isso alvo natural de todos os outros candidatos. Cinco contra ele.
Principalmente, três, que representam forças majoritárias constituídas: Iris Rezende, candidato do maior partido de oposição e agora representante da maior aliança (PMDB/DEM/Solidariedade na ponta), e Vanderlan Cardoso (PSB) e Antônio Gomide (PT), que se lançam como terceira via, uma alternativa à tradicional polarização no Estado, puxados por seus candidatos a presidente: Eduardo Campos e a petista Dilma Rousseff.
Na teoria, Marconi também se apresenta como o novo, também propõe renovar. Com 16 anos de poder (direto e indireto), mais de 11 só ele (e ninguém mais) à frente do governo, ele quer avançar. Se vencer, ultrapassará a marca dos 15 anos de governo direto, contra o 15, número-símbolo do maior adversário (PMDB).
Nesta guerra de palavras e versões, Gomide é o mais ativo com a arma do novo em punho. Ex-prefeito de Anápolis com aprovação de 92%, nunca disputou o governo. Mas está só no campo de batalha, sem estrutura, sem exército de candidatos a deputado estadual e federal. Se discurso ganhar eleição, será o próximo governador de Goiás.
Vanderlan disputa pela segunda vez. Aparece em terceiro nas pesquisas. Como Gomide, seu exército de candidatos ao Legislativo é pequeno. E, segundo o prefeito de Senador Canedo, Misael Oliveira (PDT), continua a padecer do mesmo mal de 2010: é pouco conhecido dos goianos. Fosse mais conhecido, estaria melhor. Fosse. Não é, depois de quatro anos em campanha aberta e assumida, rodando e discursando pelo Estado.
Na boca de Iris, renovação e mudança têm a ver com alternância de poder. Ele ficou 16 anos (direta e indiretamente), perdeu, agora quer voltar. A seu favor estão dois ex-aliados de Marconi: Armando Vergílio (SDD), candidato a vice, e Ronaldo Caiado, que busca o Senado. Na boca de Caiado e Armando, o aval de quem estava na origem da outra mudança, em 1998, quando Iris perdeu: agora, Marconi é que ficou velho; Iris é o novo que Goiás precisa.
O mais flagrante em tudo é que a chave da vitória nunca está no candidato, e sim no eleitor. Uma coisa é o que se pretende ser, outro o que se é. Outra ainda, o que o dono do voto reconhece. É neste que ele vota – quando não se vende, é certo, em flagrante negócio de ocasião eleitoral.
A história e Maquiavel ensinam que, no final das contas, a propaganda eleitoral no rádio e na TV, as ações de campanha nos municípios, o corpo-a-corpo e o mote certo que capture o coração e a mente do eleitor é que vão vencer. Não é o justo que ganha. É o que erra menos, o que trabalha melhor, o mais competente, o que acerta o rumo e no rumo. Eleição não é tese, é desaforo da realidade.
A estrutura do governador continua maior que todas as outras juntas, em número de partidos e de gastos potenciais. Ele já está em campanha virtual, com massiva divulgação dos feitos de sua gestão. Pode-se dizer que está em agosto, enquanto os demais nem em julho chegaram.
Sintomático é perceber que Marconi faz campanha, por ora, contra ele próprio. Não para se derrotar, mas para derrotar a rejeição ao seu nome e a avaliação de seu governo hoje ainda na mira do negativo. Vencer esse adversário é o primeiro passo. Perder aí é perder a eleição na saída. Ele cuida de preparar-se para o outro embate curando feridas de um terceiro governo tumultuado por denúncias e discórdias internas alimentadas, na falta de oposição real, por fogo amigo.
Mais sintomático ainda é ver a campanha peemedebista começar maior que todas as anteriores. Iris juntou aliados que nunca teve, desfalcando o adversário – Caiado e Armando –; na largada, mostra estrutura que mais lembra os tempos anteriores a 98 do que depois, quando foi derrotado; na motivação, sai embalado pela ‘chegada’ justamente de Caiado e Armando. Iris está maior que o Iris que perdeu eleições; mais parecido com os tempos de vitória.
Pesquisas qualitativas nas mãos de governistas e adversários apontam que a campanha não está ganha para ninguém, nem perdida. Há cansaço, fadiga e um grande desejo de menos do mesmo. O goiano quer quem dê conta do recado. Com honestidade. Quem fale e saiba fazer – e faça. Quer a verdade.
Será a mudança e a renovação quem traduzir isso em algo mais que discurso: em atitude. Em outubro, a confiança do eleitor vai decidir a disputa. Sem choro de dinheiro curto ou excesso de estrutura. Choro é para os derrotados.
Mas esta é a guerra pelo poder. Este é o jogo dos candidatos. E o Estado que está em jogo? Este ainda nem começamos a discutir. Este é o que muito mal vai aparecer nas propostas de campanha. Por três razões básicas:
1) eleição é força, antes de tudo – propostas são um detalhe;
2) campanha é política, e não planejamento;
3) e porque o eleitor não se prende a debates sólidos –quando muito, se deixa ganhar pelo espetáculo das promessas direcionadas.
É fato: o eleitor também dá o tom da campanha. E sempre prefere o frenesi dos combates à monotonia das ideias. Daí não estar cansado da polarização PMDB x PSDB (e aliados), embora esteja ansioso por mudanças. Daí querer uma coisa e pensar outra, bem diferente.
Assim é que Vanderlan e Gomide têm contra eles, além das estruturas maiores dos tradicionais adversários e a história – terceira via é um sonho nunca realizado –, essa predisposição para mais um marconismo x irismo.
Em Goiás, há tempos é ou Marconi, ou Iris. Isso não mudou. Apenas se renovou.
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Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).