O maior adversário do prefeito Paulo Garcia é Paulo Garcia (PT). Seu temperamento intempestivo em entrevistas, sua necessidade de ter razão muito além da de ganhar eleição, sua intemperança diante das provocações dos adversários, tudo isso é que trabalha contra sua vitória no primeiro turno – por enquanto.
Durante pouco mais de uma semana, pesquisas de intenção de voto em Goiânia mostraram o mesmo cenário: Paulo Garcia, hoje, ganharia no primeiro turno; o governista Jovair Arantes (PTB) não avançou; os outros, oscilam para mais ou para menos, e não ameaçam ninguém.
Paulo Garcia ganhou fôlego, desde as pesquisas anteriores, com a presença do ex-governador e ex-prefeito Iris Rezende (PMDB) na campanha. Iris passou por cirurgias, reapareceu em um evento e foi notícia durantes vários dias, antes e depois dessas cirurgias e após o evento-comício.
Depois disso, o que aconteceu? Começaram os programas eleitorais. Mas estes nada acrescentaram. A pesquisa mais recente, Serpes/O Popular, mostra claramente que os programas eleitorais tiveram zero de influência para os candidatos.
Mas isso não quer dizer que a eleição está definida.
O número de indecisos ainda é grande. Capaz de decidir uma disputa.
Normalmente, nesse ambiente a tendência é de acomodação com estes indecisos consolidando o que já estamos vendo. Porém, há sempre o risco do imponderável.
Imponderável é aquele jogador que entra em campo aos 44 minutos do segundo tempo para decidir uma partida, e ocorre dele decidir contra o óbvio.
Para Paulo Garcia, o momento é de reflexão sobre o que fazer daqui pra frente. E de não perder o foco, muito menos a paciência.
A campanha do petista é uma campanha bonita, principalmente porque encontra motivação nas militâncias – do PT e do PMDB –, e porque tem o impulso da possibilidade real de vitória. Tem o cheiro da perspectiva de poder agora e em 2014.
Houve um tempo em que a campanha petista teimava em alimentar o clima de já ganhou. Mas nem isso há mais. Ao contrário, a campanha está com os pés no chão. Por isso, acertar nas ações do último mês de movimentação é imprescindível. Não errar, fundamental.
Uma curiosidade em relação à estratégia de Paulo Garcia é que, embora seja evidente a força eleitoral de Iris, o ex-prefeito é pouco usado. Ele é forte para impulsionar os peemedebistas, mais forte para atingir a periferia e muito mais forte para se passar a mensagem de aliança política vencedora e administração realizadora.
É certo que Iris, por conta das cirurgias, não pode fazer caminhadas nem se movimentar em atividades de rua. Mas a sua presença, por exemplo, nos programas eleitorais, é tímida, embora seu depoimento em favor de Paulo Garcia seja contundente na expressão das virtudes do próprio Paulo mais que nas dele, Iris.
Pode ser que se planeje justamente uma intensificação na presença de Iris nesta reta final. E nas presenças do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma. Aí, nenhum reparo.
O que se aponta aqui é apenas a importância do cabo eleitoral pouco explorado, ante o instante crucial para definição da disputa. Esconder Iris é um risco nessa hora; pouco expor, talvez outro. Porém risco maior é deixar a eleição ir para um imprevisível segundo turno.
No mais, note-se que Paulo Garcia conta com outro cabo eleitoral que tem dado o que falar: o ex-prefeito Darci Accorsi (PT).
Darci tem aparecido em ‘pílulas’ na TV e no rádio com um discurso enfático, que desconstrói o de Jovair Arantes (PTB), que anuncia ter feito obras que, na prática, foram realizadas quando Darci era prefeito – na época, Jovair era o vice, não era o dono da caneta.
Darci é um homem bom que está dedicado à tarefa de reeleger Paulo Garcia. Mostra sinceridade. E em todas as pesquisas aprofundadas, surge em geral na periferia com imagem positiva.
Talvez, do ponto de vista eleitoral, o contraponto a ele, para Jovair, pudesse ser o também ex-prefeito de Goiânia Nion Albernaz (PSDB). Mas… Cadê Nion?
E Jovair, o que dá pra fazer?
Para Jovair, há pouco a fazer a não ser apostar no investimento de reta final, a aposta na chamada estrutura de campo – contratação de cabos eleitorais, contatos e acertos com lideranças, presença maciça nas ruas etc. –, e esperar que algo extraordinário aconteça.
Jovair, mais do que nunca, precisa que o Imponderável entre em campo e opere um milagre. O milagre da virada. Mas… Cadê o imponderável?
Nos últimos dias, a aposta da estrutura de Jovair segue o mesmo tom adotado por seu maior cabo eleitoral, o governador Marconi Perillo (PSDB): a aposta no jogo duro, que muitas vezes escorre para o jogo baixo.
É a provocação exacerbada na tentativa de puxar Paulo Garcia para a vala da guerra de nervos. É o ataque na altura do estômago, sem dó. É a busca da polarização por baixo, em vez da disputa de ideias e propostas.
Tem funcionado um pouco porque Paulo Garcia está aceitando o jogo baixo do grupo de Jovair Arantes. Coisa que ninguém entende. A ponto de se ouvir aqui e ali coisa do tipo: “Uai, mas Paulo está caindo nas pesquisas? Porque só isso pra justificar ele entrar no jogo do Jovair.” É isso. Ponto.
É uma aposta arriscada, a de Jovair. Ele pode inclusive deteriorar o patrimônio político que lhe construiu. Corre o risco de sair menor, politicamente, da campanha.
E é uma aposta só dele, diga-se, porque, para quem ataca em seu nome, nada muda, já que tudo é feito anonimamente, como um chicote nas mãos de um bêbado perdido na noite.
Até este início de setembro, a campanha arrastou-se. Campanha quase sem campanha. Campanha na marra. Mas não há mais como adiar. Outubro vem com pressa.
É a hora do jogo duro? É para todos – para quem ataca, e para quem se defende. Chorar, perder a paciência, espernear não ganha eleição.
Errar, a partir de agora, é fatal. Especialmente Paulo Garcia. Ele pode muito bem evitar um segundo turno. Mas pode derrotar-se. Ou, ainda que seja, prolongar o evitável sofrimento.
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).