A pouca fé – com cacofonia é mais saboroso – na decisão anunciada por Ana Paula, filha de Iris Rezende e Iris Araújo, de não entrar na disputa pela prefeitura de Goiânia está produzindo efeito contrário ao esperado. No prazo em que viajou e voltou, cerca de dez dias, o fogo amigo contra ela aumentou, em vez de diminuir.
No início, a reação na base do governador Ronaldo Caiado e entre os possíveis candidatos foi de susto. Todos queriam que ela dissesse não ao convite do seu partido, o MDB, e de Caiado, mas ninguém acreditava muito nisso ou que a resposta viesse tão cedo. Ela, que vinha apanhando de aliados, passou a ser poupada e até a ser elogiada.
Durou pouco. O movimento “Volta, Ana Paula” e o fato de o governador ter baixado a bola dos outros nomes da base parecem ter mexido com os ânimos dos demais pretendentes, que voltaram à carga, uns tentando reforçar que a decisão dela é definitiva e outros reativando a artilharia negativa contra.
Há ainda a dúvida sobre a real pretensão de Caiado, se ele vai incentivar a volta de Ana Paula ao jogo ou se começa a acenar com outra alternativa: o apoio ao senador Vanderlan Cardoso (PSD). Os dois voltaram a dialogar e as notícias de que já se entenderam de novo vem sendo alimentadas principalmente por aliados do senador.
Tudo isso significa que o jogo volta a ficar embolado. O famoso “giro de 360°”:
Porque tem mais: o Republicanos deu um ultimato ao prefeito Rogério Cruz, que tem prazo para dizer o que resolveu. O prazo: hoje, amanhã ou a qualquer momento. Ou o partido entra na prefeitura de verdade, com espaços (cargos) que considera relevantes, ou está fora e ele terá de procurar outra legenda.
Se não ficar com Rogério, um dos caminhos do Republicanos é liberdade para dialogar com pré-candidatos já postos e/ou preparar outro nome próprio. E isso: Rogério, pressionado ainda entre continuar com a consultoria do marqueteiro Jorcelino Braga, acatando suas recomendações, e caminhar de forma errante como vinha, confiando na sorte. O que vai fazer? O dilema está no ar e nas manchetes.
A falta de respostas a tantas questões no processo eleitoral em Goiânia mostra que no vácuo da indefinição do prefeito, da guerra interna na base mais os estragos do fogo amigo, e da falta de um favorito ou uma favorita naturalmente, o que temos:
- 1 – Vanderlan ganhou espaço e cresceu como jogador. Ele está em conversa também com o senador Wilder Morais, do PL;
- 2 – Adriana Accorsi (PT) passou a ter mais visibilidade, ela que em várias pesquisas surge em empate na liderança com Vanderlan;
- 3 – Caiado ficou de expectador e ampliou sua visão do jogo, o que significa que agora tem um leque com mais opções;
- 4 – os outros possíveis candidatos da base estão atirando a esmo, e como não há inimigo definido, acabam acertando o próprio pé;
- 5 – o MDB passou de protagonista, com uma candidata que se sobrepunha a todos os outros da base governistas, a coadjuvante e não sai do lugar. Daniel Vilela, presidente da legenda, vice-governador e governador anunciado para assumir em abril de 2026 e buscar reeleição em outubro do mesmo ano, tem menos opções que Caiado. O único fato que o partido criou nesses dias sem Ana Paula foi o auto-lançamento do pré-candidato a prefeito do suplente de deputado federal Felipe Cecílio;
- 6 – Rogério Cruz não sai do lugar comum: entre a cruz e a espada.
Minha humilde sugestão. Compre pipoca. A semana será de fim de temporada. E a série tá longe de terminar. São tantas emoções…
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).