23 de dezembro de 2024
Publicado em • atualizado em 26/03/2019 às 10:25

Documento da CIA sobre a soja brasileira mostra que agronegócio deve chamar Bolsonaro “na regulagem”

Corria o ano 2000, o último do século XX. O assunto nos primeiros meses do ano era a visita de uma comissão de agricultores norte-americanos ao Brasil.  Percorreram o Sul e o Centro-Oeste do país e verificaram in loco a força da agricultura brasileira. A proposta que traziam na bagagem era um tanto quanto esdrúxula: queriam pagar agricultores brasileiros para que não ampliassem a área de soja no Brasil. Temiam que em pouco tempo o nosso país superaria os Estados Unidos como celeiro do mundo. A grande quantidade de terras agricultáveis, outro tanto maior para ser aberto à agricultura, o grande volume de água disponível à irrigação, e a possibilidade de safra e safrinha assustaram os agricultores do Kansas, Iowa e Illinois que participaram da comitiva yanque.

O lobby não deu certo. E dezoito anos depois, a profecia daquele grupo de agricultores se tornou realidade: o Brasil superou no ano passado os Estados Unidos como maiores produtores de soja. Os dados foram confirmados pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), que informaram que a estimativa de produção dos Estados Undios era atingir 116,8 milhões de toneladas para safra 2018/2019, enquanto que a safra colhida no Brasil (2018) foi de 117 milhões de toneladas.

CIA aponta agricultura brasileira como ameaça aos EUA

Mas por que os agricultores norte-americanos se mobilizaram quase duas décadas atrás para paralisar o avanço da soja no Brasil? O jornal Folha de Sl Paulo trouxe neste domingo a solução deste mistério, ao revelar um documento da CIA (Central Americana de Inteligência) produzido há 46 anos, que alertava que a produção de soja brasileira era a maior ameaça à hegemonia dos Estados Unidos no setor agrícola.

A reportagem é assinada pela experiente Paula Sperb e trouxe trechos do documento onde se lê: “É quase certo que o Brasil ganhará uma maior fatia da exportação mundial de soja no longo prazo”. 

O  documento produzido pelos espiões yanques avalia que a China seria o mercado a ser disputado entre agricultores norte-americanos e brasileiros. Noutra página, o texto da CIA diz, claramente, que o nosso país se tornaria o principal concorrente dos norte-americanos – e com vantagens imensas – no mercado mundial deste grão, exatamente como é hoje. E que o mercado chinês seria decisivo nesta disputa.

“Chinofobia” de Bolsonaro e do Itamaraty prejudica o Brasil

A leitura do documento  da CIA é importante, sobretudo nestes dias em que o presidente Donald Trump e sua política “American First” (em tradução livre América Em Primeiro Lugar), se coloca frontalmente contra os interesses do Brasil.

Na sua visita aos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ) mostrou total desconhecimento da realidade comercial entre os dois países. Nos três dias em que esteve em Washington, Bolsonaro atacou a China e fez concessões comerciais impensáveis aos EUA, como, por exemplo, retirar o Brasil da OMC (Organização Mundical do Comercio), entidade com a qual o Brasil tem vencido importantes disputas comerciais no agronegócio contra o “primo rico do Norte”.

 Os Estados Unidos são rivais do Brasil em vários setores, o principal deles é a agricultura. Há outros como o setor de petróleo, o aeroespacial e de aviação comercial, onde, a sessão da Base de Alcãntara, no Maranhão – sem nenhum tipo de contrapartida de parceria tecnológica -, e a autorização do governo federal para a venda da Embraer para a Boeing, demonstram total descompromisso de Sua Excelência com o desenvolvimento nacional.

O documento da CIA reforça aquilo que vários analistas econômicos vem denunciando: o alinhamento automático do Brasil aos EUA defendido pelo presidente Bolsonaro e pelo Itamaraty, através do Chanceler Ernesto Araújo, é nocivo aos interesses da agricultura e da indústria brasileira.

Safra

De acordo com relatório do  Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), divulgado pela produzido pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), os Estados Unidos prevêem neste ano a redução 1,45% da área plantada de soja nos EUA. A área de plantio ficará na casa de 88,2 milhões de acres (35,7 milhões de hectares), enquanto no ciclo já colhido no Brasil a área atingiu cerca de 35 milhões de hectares, segundo dados do Ministério da Agricultura.

O Brasil, que já é há alguns anos o maior exportador global de soja. A estimativa é de colher 117 milhões de toneladas na próxima temporada, com plantio a partir de setembro.  Este cálculo também foi confirmado pelo próprio USDA, numa demonstração do alto grau de preocupação do governo americano com o potencial agrícola brasileiro .

Na safra 2018/19, os chineses deverão importar 103 milhões de toneladas de soja e a tendência é que os sojicultores brasileiros  participem com 72 milhões de toneladas.  Isto, é claro, se o Itamaraty não atrapalhar.

Em defesa do Brasil

Está na hora das entidades classistas do agronegócio como a FAEG (Federação da Agricultura do Estado de Goiás), CNA (Confederação Nacional da Agricultura),  os deputados da bancada ruralista  e o próprio governo de Goiás chamarem o governo federal na chincha.

 É preciso acabar com a quixotesca “caça aos comunistas”, defendida pelo presidente e seus auxiliares. Já publicamos aqui neste espaço a notícia da agência Bloomberg, que no final do mês de fevereiro revelou em primeira mão o contrato de 50 milhões de toneladas de soja do governo chinês com o governo norte-americano. 

Se Trump (ídolo da familia Bolsonaro) não faz qualquer empecilho ao comércio EUA-China, por que é que o Brasil tem que embarcar na canoa furada de rejeitar negócio com os chineses?

Brasil acima de tudo,deve significar, trabalhadores, produtores e industriais brasileiros em primeiro lugar. Ou é isso, ou  o governo federal está empenhado mesmo é em criar empregos nos EUA, onde os “vagabundos brasileiros” (nas palavras do filho do presidente), estão indo buscar empregos.

Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .