28 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 20/06/2017 às 06:04

Demóstenes Torres está de volta, em grande estilo: “Continuo sendo uma espécie de mãe Dinah”

O ex-senador Demóstenes Torres (sem partido), cassado no embalo da Operação Monte Carlo, está de volta. Não, não recuperou o mandato. Nem está em campanha para o ano que vem. Continua procurador, tentando se aposentar. Está de volta ao lugar que ele mais gostava, mais frequentava, e no melhor estilo: a mídia.

Ele é destaque nesta terça, 20, no jornal O Popular, em longa entrevista feita pela jornalista Fabiana Pulcineli. Ótima entrevista. Que foi aguardada com expectativa nos bastidores desde que ela publicou nas redes sociais uma foto com ele na redação do jornal, no meio do dia, na segunda.

E ele chega chegando: “Quero um partido que tenha condição de disputar eleição e chegar no Senado ou na Câmara e poder ter expressão”, avisa, em meio a frases que procuram enfatizar humildade. Não foge nem à possibilidade de disputar mandato nacional. Nos bons tempos de destaque como senador, ele chegou a ser cotado para disputar a Presidência da República. No futuro, quem sabe? “Preciso me recompor primeiro em Goiás. Depois vamos ver o que acontece.”

Demóstenes no melhor estilo Demóstenes. Dado como morto politicamente por muitos, mas firme e forte no discurso. Vivo como nunca. E ele não fala em vão. Diz que tem pesquisas qualitativas que atestam a possibilidade de sua volta. Para o momento oportuno, explica. Enquanto isso, ajuda companheiros.

“O que sou hoje é uma espécie de conselheiro. Políticos me procuram muito. Tenho experiência política. Sempre acompanhei e sempre fui procurado”, conta. De fato, ele é um interlocutor frequente de vários parlamentares, prefeitos, vereadores e outros expoentes do poder no Estado. Recentemente, a inauguração do escritório de advocacia de sua mulher virou evento político, com presença de vários deputados estaduais.

Bom de combate, Demóstenes admite, na entrevista, que errou na dose ao se expor no Senado. Foi ofuscado pelo próprio brilho: “Meu erro foi achar que eu podia levar a vida como se não fosse um parlamentar. Parlamentar tem de restringir sua atuação. Em vez de ser um pop star, tem de ser uma pessoa apenas dedicada a seu serviço. Eu fui dedicado. Fiz muita coisa de qualidade em favor dos brasileiros. Meu erro foi achar que podia jogar sempre para poder ter popularidade. O parlamentar não precisa de popularidade, precisa mais ter pé no chão. Tanto é que a queda foi vertiginosa porque eu era grande.”

Ele fala de Carlos Cachoeira, centro das atenções no momento de sua queda. Continuam amigos, garante. “Eu gosto dele. Dizer que vamos ter a mesma proximidade se eu voltar à atividade pública, que vamos conviver, não sei…” Demóstenes diz que não guarda mágoa de ninguém. Quer acima de tudo provar sua inocência. “Acho que houve excesso em relação a mim? Acho”, diz.

Defende-se: “Tudo o que o Conselho de Ética disse foi porque queriam me ver fora do Senado. Além do caso do mensalão, eu tinha outros inimigos por causa do combatente que eu era. Essas pessoas se uniram contra mim. E hoje ao ver à distância o que foi apurado de verdade, eu digo: não foi apurado nada.”

Demóstenes define-se como governista, em Goiás: “Obviamente que se eu voltar (para a política), eu voltarei por ali”, afirma, fazendo referência à base aliada do governador Marconi Perillo (PSDB). Mas faz a ressalva: “A não ser que o governo não me queira.” Ele revela que sua relação com o governador é protocolar. E elogia o vice, José Eliton (PSDB): “É um homem de caráter, de bem e é fiel. É uma característica muito pouco comum em políticos.”

O ex-senador acredita na eleição de José Eliton para o governo. Segundo ele, o quadro hoje faz prever disputa entre Eliton, um dos Vilela (Daniel ou Maguito) e o senador Ronaldo Caiado (DEM), de quem era amigo e com quem trocou farpas duras durante o processo que levou à sua queda. Ele, porém, se refere de forma positiva ao democrata.

“Acredito piamente que pessoas com bom nome e que sobreviverem até o ano que vem têm chance, independentemente de força partidária, de disputar uma boa eleição, como é o caso do Caiado”, pondera. Para então fazer uma previsão curiosa: “Se (Caiado) tiver o PMDB do lado, então, acho que pode grandemente se fortalecer. E o PMDB, se optar por isso, vai criar uma cisão com o grupo dos Vilela. E se esse grupo se aliar ao do governador, pode fortalecer ainda mais o grupo do José Eliton.”

Os Vilela e Marconi juntos na campanha de Eliton, no ano que vem? “Tudo é incógnita, conjectura”, observa. Pode ser. Mas pode ser apenas, também, outro momento de humildade do ex-senador. Porque, em geral, ele sabe do que está falando. Deixou escapar isso durante a entrevista: “Continuo sendo uma espécie de mãe Dinah, tenho acertado as previsões.”

Sim, ele também está de volta: o bom humor, característica marcante do ex-senador. Demóstenes está com tudo e está prosa.

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A seguir, mais alguns pontos da entrevista ao O Popular:

– “Tenho sido sondado por alguns partidos, mas é algo que só o tempo vai dizer. Na situação de hoje, eu só posso ser candidato em 2022 a deputado federal ou senador, que tomam posse em fevereiro de 2023. Estou inelegível até 31 de janeiro de 2023.”

– “Se o Senado reconhecer (que a decisão que o afastou foi feita com base em prova considerada ilícita pelo STF), eu obtenho meu mandato de volta e a condição de me eleger. Se não, eu vou ao Supremo.”

– “Também a secretária particular do governador (tinha telefone Nextel), tinha vários secretários, presidentes de agências, deputados federais tinham. Porque realmente ninguém quer ter conversa gravada. E a promessa que se tinha era de que aquilo lá não poderia ser gravado. Quanta idiotice a gente comete na vida, não é verdade?”

– “Felizmente tenho amigos muito queridos, pessoas que estiveram ao meu lado sempre, a minha família toda. Gente que sempre acreditou em mim e nunca me abandonou. (…) Tem gente que não pula em galho seco. Essa turma vai estar sempre por aí.”

– “O Wilder (Morais, suplente que assumiu seu mandato, no Senado) é meu amigo, mas… Ele até tem muito prestígio junto aos prefeitos, é sinal de que está prestando um bom trabalho municipalista, mas lei é lei. Seria ridículo eu pedir só para cair a elegibilidade e não voltar ao mandato. Isso levantaria uma suspeita. Será que fiz algum acordo? Se conseguir, voltarei.”

– “O que tenho visto em pesquisas extraoficiais, há uma força grande do [vereador] Jorge Kajuru (PRP). Essa imagem dele pode levá-lo a ter uma vaga assegurada para o Senado. Dizem que ele não tem base partidária, mas hoje o nome está valendo mais do que base. Teremos ainda depurações, especialmente com as delações.”

– “Quero um partido que tenha condição de disputar eleição e chegar no Senado ou na Câmara e poder ter expressão.”

– “Vivo do salário do MP, tenho patrimônio inferior a muitos membros. Gosto de pescar e de viajar, de ir a museu, visitar igreja velha, de comprar livros e discos.”

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).