28 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 06/07/2017 às 13:35

Daniel e Caiado têm holofotes, mas não têm estratégia; Eliton tem foco e tempo; Marconi joga com o inimigo

Tá certo que as oposições estão mais uma vez se dividindo, facilitando a vida dos governistas. Foi assim em 2002, 2006, 2010, 2014… Tá certo. Podemos até acrescentar aí que foi assim em 2000 e 2004, com outra oposição, que só mudou a história em 2008, quando se uniu. Tá certo. Mas, convenhamos: tem muita campanha até o fechamento das coligações, em agosto do ano que vem.

Isso implica dizer que essa disputa de agora é própria de período de definição de alianças. Não passou da hora de Ronaldo Caiado (DEM), Daniel Vilela (PMDB), Iris Rezende e até outras legendas governistas se unirem. Há tempo para isso. Implica dizer ainda que há um aspecto positivo, apesar do potencial negativo, na divisão de hoje: Caiado e Daniel estão em evidência.

Estão mais evidenciados até que o candidato do governo, José Eliton, embora seja justo dizer que a estratégia de Eliton é outra: o contato corpo a corpo com os líderes políticos do interior, cabos eleitorais de eleição para o governo, oferecendo boas novas de um governo com algum dinheiro no cofre para distribuir e pauta positiva para discursar. Eliton busca se consolidar na base; como se diz em política, “comendo sal no cocho” com os companheiros. Age com foco e estratégia. Pode dar errado, mas tem tudo para dar certo.

Caiado e Daniel, com o enfrentamento direto, não mais disfarçado, colocam a oposição em destaque, no aspecto da perspectiva de poder, tão ou mais que o governo. Não que isso seja uma ação estratégica articulada em tabuleiro de xadrez. Quem conhece a oposição em Goiás sabe que não há esse nível de articulação entre seus líderes. Mas, que seja involuntariamente, isso está acontecendo.

O que os dois vão fazer disso é que são outros quinhentos. A chave para o futuro eleitoral oposicionista. Porque, vale repetir, isso só é estratégia quando tocada como tal, quando acompanhada de elementos adicionais como diálogo, profissionalismo, mobilização etc. Do contrário, é trombada de elefante. É fogo amigo consumindo paiol. Prenúncio de mais do mesmo: implosão certa, com campanha involuntária para o adversário.

Para refrescar a memória: não faz muito tempo a discussão era se o governador Marconi Perillo (PSDB) estava ou não colocando lenha na fogueira de vaidades do PMDB, que se dividia entre Iris Rezende e Júnior Friboi. Em um seminário organizado pelo professor Luiz Signates no ano passado, Marconi admitiu indiretamente, com largo sorriso de canto de boca, que fez isso. O resultado, em 2014, todos conhecem. Jogar com os erros e as fragilidades do inimigo é só uma das muitas artes e manhas da política. E de Marconi.

Muito se pode dizer do governador. Jamais que é amador. No fundo, a eleição do ano que vem será decidida neste exato ponto: quem joga pra ganhar custe o que custar X quem joga o jogo de perder, com custo maior ainda, no final das contas. Custo social, pelas consequências para a população, e custo político, pelo amargo da derrota. Xeque mate.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).