28 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 13/06/2017 às 03:57

Cúpula e base do PSDB estão desafinados no apoio a Temer, do PMDB

A decisão da cúpula do PSDB de manter o apoio ao presidente Michel Temer (PSDB) não está afinada com o sentimento da base. E isso pode não acabar bem.

Coisa incomum até pouco tempo atrás, está ficando repetitivo ouvir desabafo de tucano revoltado com o comando nacional do partido. Sobra indignação.

Por que continuar apoiando um presidente reprovado pela grande maioria dos brasileiros, marcado pela corrupção e que pertence a um partido que até há poucos dias era adversário, porque aliado do maior inimigo, o PT?

Por que, depois de fazer uma cruzada nacional pela moralidade, colar a imagem em um governo no qual o que não falta é investigado na Lava Jato?

Por que abrir mão do discurso de oposição, entregando-o de bandeja justamente ao PT, assumindo um desgaste que deveria ser dos petistas, e só deles?

As perguntas são muitas. As respostas, poucas – e insatisfatórias; e causa de mais indignação e mais revolta.

O PSDB está deixando colar no seu bico o carimbo do interesse próprio em vez do interesse público. Está ficando com cheiro de mesquinharia.

Apoiando firmemente Temer, o partido suscita razões nada republicanas, como estar fazendo isso para manter as benesses dos ministérios que comanda – dinheiro de orçamento, mordomias, cargos – e o foro privilegiado de seus ministros, e para garantir o mandato do senador Aécio Neves.{nomultithumb}

Também passa recibo de que está de olho tão e unicamente nas eleições do ano que vem, sem se preocupar com as consequências de se manter vivo, respirando pelos seus aparelhos humanos no Congresso e no Estado, um presidente que está politicamente morto.

Nem a argumentação de que age para assegurar a continuidade da atual política econômica e a conclusão das reformas da Previdência e trabalhista soa crível e razoável, já que está consolidada a visão de que a economia não depende de Temer, e que a pauta das reformas mais desgasta do que melhora a imagem da legenda no atacadão eleitoral.

A cada decisão de ficar no governo o PSDB manda um novo recado de partido fiador intransigente do que simboliza hoje Michel Temer: o fim do caminho da ordem e da moralidade pública.

Sem o PSDB, Temer cai. Com o PSDB, Temer fica. Logo, o PSDB é o culpado do Brasil que temos sob Temer. É isto o que a cúpula comunica com suas decisões e é exatamente isso que a base tucana não entende.

No descompasso de suas decisões na cobertura, o PSDB dá passos largos para implodir os próprios alicerces.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).