No programa partidário (veiculado no dia 06/08/15) o PT não usou a palavra “impedimento”, mas substituiu por “crise política”. E, no fundo, buscou combater a ideia e estabelecer uma área de proteção para o governo de Dilma Roussef. A temática do programa foi acertada e comunicou, principalmente, com as camadas mais beneficiadas com a recente política econômica. E, por sim, ironizou com o “panelaço” ao mostrar que o resultado dos governos petistas foi mais comida na panela. Como ignorar que exista uma crise política?
Recentemente, o presidente do PT de Goiás, Ceser Donizeth, e o deputado federal Rubens Otoni, argumentaram que existe uma crise econômica, de fato, mas que não existe uma crise política. Eles afirmam, assim, que haveria uma confusão entre a existência de uma crise política junto com a crise econômica. Pura ilusão, as crises estão aí e não podem ser ignoradas.
Realmente, há que se considerar qual é o âmbito do qual o conceito de crise política deva ser avaliado. Se o parâmetro delineado abordar a relação entre o governo Dilma Roussef e vários de seus (pseudo) aliados, que levou a derrotas na Câmara dos Deputados, e vitória do adversário Eduardo Cunha (PMDB), existe a crise.
Se análise tratar da estrutura da República e da Democracia, como quis estabelecer o programa no rádio e TV do PT, realmente, não há que se falar em crise política. No entanto, a criação desta situação, naturalmente, é trabalhada pelos partidos da oposição. Se não há crise, ela tem que ser criada. Inclusive, com reprovação de contas da presidente e outros instrumentos, na Câmara dos Deputados.
O professor e filósofo Milton Luíz, em várias entrevistas, já explicou que a palavra “crise” vem de encruzilhada, portanto, há que se ter duas opções para uma caminhada a ser traçada. E o governo de Dilma Roussef está exatamente neste ponto: ou recompõe sua articulação política com os partidos que podem dar sustentação ao governo no Congresso, ou caminha para uma estrada cheia de dúvidas. Na verdade, pode ser dada à presidente e ao PT, uma sobrevida com a recuperação econômica. Esta sim, uma crise real.
A imagem do governo de Dilma Roussef, uma das maiores reprovações entre os presidentes (71%, no Datafolha), é outra evidência que contrapõe à rejeição dos petistas à existência de uma crise política. Não há dúvida de que o ambiente econômico mais favorável, se ele vier, poderá conduzir a uma retomada da aprovação do governo da presidente. Até lá, como sobreviver às atuais crises?
A recomposição tem um caminho feito por vários outros presidentes: Reforma ministerial; recomposição dos cargos; atendimento aos aliados. A receita é a mesma já utilizada pelos que comandam Executivos. O problema é que esse tipo de articulação reforça a “velha política” que é tão rejeitada pelos eleitores, mas é a política real. Sobreviver, esta é a prioridade para o governo Dilma e suportando pressões como disse a presidente aos governadores, e no programa do PT. No entanto, a dúvida persiste: Dilma e aliados (os que restam) conseguirão superar as crises?
Altair Tavares
Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .