O ambiente político, em dias normais um vulcão prestes a explodir, está mais contaminado por teorias da conspiração. Políticos pouco experientes com o poder acabam sucumbindo aos males que isso provoca. Por exemplo: isolar-se. Ou, se não tanto, cercar-se de dois ou três sabichões que o orientam, informam e fatalmente o controlam.
Cercado por uma bolha, aquele que detém o poder vira refém e vítima do próprio privilégio. Como não ouve ‘nãos’, sempre há um dedo dos conselheiros apontado para este ou aquele assessor, secretário ou cidadão, tudo lhe parece um céu de brigadeiro não fosse tais elementos no meio do caminho. Aí vai a raiva, a demissão, o exercício da mão de ferro do que pode, e vêm as consequências: articulações quebradas por tais teorias conspiratórias, instabilidade na gestão, derrocada.
Não dá para dizer a alguém cercado por teóricos da conspiração o que ele deve fazer para se salvar se este grupo não quiser que o político em questão seja salvo. Não dá para salvar uma candidatura, uma gestão de fora para dentro, se de dentro para fora o fogo é dobrado. Ninguém entra na cabeça ou no coração de outro se os olhos desse outro estão vedados.
Teorias da conspiração atendem também pelo nome de fofoca. Administrar um estado ou uma cidade não é difícil, mas desviar-se de um exército de fofoqueiros é um épico digno de Homero. No ambiente criado por tais escaramuças é que floresce o fogo amigo e o suicídio político. A terra tombada é na prática o campo minado da (des)ilusão. Quem senta na cadeira que aguente a realidade.
Há método na ação dos conselheiros fofoqueiros e zelosos do dono do poder. É garantia de poder próprio para fazer não o que, em tese, poderoso precisa, mas o que pretendem. E o que pretendem? Cada caso é um caso. Cada grupo tem seus objetivos. Podem mirar a política, podem cobiçar outra coisa ainda. Quanto maior a ambição e a voracidade, maior a ação e reação a qualquer ameaça.
O maior fogo amigo de um gestor é o seu zeloso grupo protetor, que nada deixa fazer a seu favor, nada promove que signifique salvação de seu nome ou atividade. Gestão, em boa parte das vezes. A esse grupo pode cair bem uma reeleição. Mas se não for o objeto de desejo? Pode ser que a maçã colhida seja a da auto-realização. E aí cada um que imagine o que realiza cada um nesses momentos.
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).