Uma casa se começa pelo alicerce, não pelo teto. A proposta de instalar 30 estações com 300 bicicletas espalhadas em pontos estratégicos de Goiânia é positiva, mas a popularização das bikes pela cidade não começará desta forma.
Projetar uma política de transporte por meio de bicicletas é pensar em uma boa alternativa para locomoção de pessoas. Afinal a intenção é fazer com que as pessoas não utilizem seus carros, os deixando em casa e também não utilizando o precário sistema de transporte coletivo, que por uma série de motivos no final das contas não atende à necessidade do cidadão.
Como instalar 30 estações e disponibilizar bicicletas, se temos poucas ciclovias, (tecnicamente não são ciclovias, mas sim, pistas compartilhadas entre ciclistas e pedestres) sendo que fora delas não há respeito ao ciclista por parte dos condutores dos demais veículos e também do pedestre.
Estrutura
O primeiro passo nesta construção, ou seja o alicerce para uma base sólida começa por viabilizar uma estrutura adequada para as pessoas andarem de bicicleta. Não pode se resumir as ciclovias já construídas nos corredores preferenciais e nas ciclorotas e ciclofaixas que funcionam aos domingos.
Entendo que é começar a construir as ciclovias nos corredores preferenciais é um começo, mas também o poder público deveria fazê-las em pontos fora deste corredores, criando rotas alternativas e que possam promover a ligação entre diferentes pontos da cidade.
Um exemplo claro é que não há projetos que possam fazer a interligação norte sul da cidade por meio de bicicletas. A primeira ideia de ciclovia na atual gestão era a de fazer a ligação entre a UFG e a Praça da Bíblia, seria importante, pois se criaria um eixo cicloviário.
Estruturar meios de locomoção para bicicletas não deve ser apenas pensado para lazer e em áreas nobres de Goiânia. A proposta deve ser popularizada e levada para diferentes regiões, principalmente para as áreas menos desfavorecidas economicamente, em que realmente as pessoas já utilizam a bicicleta para ir aos seus locais de trabalho.
Segurança
Com uma base bem sólida, a construção da estrutura segue com o desenvolvimento de políticas de trânsito, que não deve se restringir aos domingos e em áreas nobres da cidade para que aqueles que usam a bicicleta como lazer.
Deveria ser uma força tarefa entre os órgãos da prefeitura da capital para desenvolver campanhas educativas. Mostrar ao condutor aquilo que está no Código Brasileiro de Trânsito, que o veículo de maior porte deve sempre dar prioridade ao menor, ou seja deve protege-lo.
Agentes da Secretaria Municipal de Trânsito que muitas vezes apenas trabalham na fiscalização autuando as pessoas e isso deve ser feito mesmo, afinal se há irregularidade deve haver punição, mas também poderiam trabalhar na educação de trânsito, indo para as ruas conversar com as pessoas.
A ação poderia ter apoio da Guarda Civil Metropolitana que por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que eles têm, sim, competência para fiscalizar o trânsito. O ciclista precisa se sentir seguro para andar pelas ruas, ou a boa ideia de instalar bicicletários pode ir para o ralo, quem teria coragem de pegar uma bicicleta e sair pelas ruas e avenidas tendo a certeza de que pode não chegar ao destino.
No dia 1 º de abril deste ano, o músico Joaquim Alves de Souza, de 70 anos, morreu ao ter a bicicleta atingida por um carro na Avenida Dona Gercina Borges, no Centro de Goiânia. Câmeras de segurança registraram quando um carro, que seguia no mesmo sentido, muda de pista e atropela a vítima, que pedalava junto ao meio fio.
Pedalar junto ao meio fio é mais seguro, mas aí precisa de uma atuação melhor da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg). Os cantos das vias geralmente são muito sujos; é comum encontrar pregos, grampos e cacos de vidro e outros objetos que possam furar ou cortar o pneu da bicicleta. Para isso, a limpeza deveria ser feita de forma adequada, repetindo: em toda a cidade.
Segundo a Companhia Metropolitana de Transporte Coletivos (CMTC), cerca de 4% da população de Goiânia e 6% da região metropolitana já utilizam a bicicleta como meio de locomoção. O transporte público coletivo é usado por 30% desta população. O número pode ser melhor, mas primeiro é preciso construir a casa começando pelo alicerce e não pelo telhado.