Marcus Vinícius
O prefeito Iris Rezende (MDB) é o politico em atividade com maior experiência em Goiás. Seus mais de sessenta anos de vida pública foram de erros e acertos. Os tropeços quase lhe custaram a vida pública. Os acertos o mantiveram nela. E é nesta soma que Iris se mantém como presença no cenário político.
O governador Ronaldo Caiado (DEM) demonstra que quer tirar proveito desta experiência. O primeiro sinal foi sua participação nos mutirões da prefeitura, onde tem tomado “um banho de povo”, ao lado do prefeito. De outro lado, o governador também sinaliza que pretende ser mais acessível às demandas politicas.
Nesta semana Ronaldo Caiado anunciou que pretende dedicar um dia na semana, como faz o prefeito Iris com os vereadores, para ouvir os deputados estaduais. Fica implícita aí a vontade de reforçar sua base de apoio no Legislativo Estadual. Caiado tem larga experiência no Legislativo. Iris conhece mais o outro lado do balcão, o Executivo.
Nas suas seis décadas de vida pública, Iris amargou dez anos de cassação política, 16 anos como legislador e 29 anos como gestor, nos seus quatro mandatos como prefeito, dois como governador e duas passagens no governo federal como ministro da Agricultura e da Justiça. E é a experiência administrativa e política que sobra em Iris que ainda faz falta a Caiado.
O Legislativo é muito diferente do Executivo. Ao parlamentar basta o discurso. Ao gestor público o que conta são os atos. É na materialização do que foi prometido é que se constrói o nome do administrador.
Iris Rezende é conhecido por muitos nomes, um deles é o de tocador de obras, mas pode ser chamado também de prefeito dos mutirões, do asfalto, dos Cmeis, dos parques ou ainda, governador da habitação, da eletrificação rural e construtor de estradas. São todos títulos consolidados no trabalho.
Antes de ser o tocador de obras, Iris pavimentou suas eleições em cima de grandes articulações políticas. Venceu o primeiro pleito para governador em 1982 unindo o seu partido, o PMDB e rachando o partido do regime, a Arena. Em 1990, rachou o governo e a oposição, aglutinando a maioria em favor de sua volta ao Palácio das Esmeraldas. Nestas amarrações políticas costurou maiorias folgadas na Assembleia Legislativa, que lhe permitiram governar sem sobressaltos, garantindo nas duas vezes a eleição de seu sucessor.
Neste mandato atual, Iris experimentou um novo arranjo político. Foi eleito prefeito sem maioria na Câmara Municipal e, talvez por isto levou mais tempo para fazer a acomodação que hoje dá sustentação ao seu governo.
Caiado, por outro lado, venceu a eleição com folga no primeiro turno, e já assumiu com maioria numérica, embora na prática não tenha feito jus a esta superioridade. Faltou diálogo com a sua própria base política e por isto o candidato do governo foi derrotado na eleição para a presidência da Assembléia Legislativa do Estado de Goiás.
O rescaldo das eleições, permitiu ao governador aprovar, ainda em 2018, projetos importantes para a sua gestão. Neste primeiro semestre de 2019 não sofreu revezes nas votações, mas isto pode mudar.
O segundo semestre que se inicia no Legislativo não flerta mais com as eleições de outubro passado, ao contrário, os deputados miram o pleito municipal que se avizinha em 2020, e isto vai exigir do governador outro comportamento com a Alego.
Se Caiado quiser ter um papel importante na eleição de prefeitos, terá que fazer mudanças na condução de sua agenda política. Possivelmente é isto que está sinalizando ao indicar que vai dedicar as segundas-feiras para receber deputados de sua base de sustentação para ouvir deles os seus pleitos e colher sugestões para o seu governo.
No meio político há quem diga que o governo Caiado tem como símbolo o mandacaru, espécie de cactus do semi-árido nordestino que não dá fruto, nem sombra, só espinho. Mas esta é uma blague de deputados que querem dizer que não nomearam ninguém para o governo, ou ainda não tiveram os pleitos atendidos.
Abrir-se para o diálogo, aproximar-se das bases, acolher pleitos e proposituras é o caminho para o governo acertar mais. Este, no entanto, é um movimento que deve ser só de ida. Se no meio do caminho o governo refluir e fechar-se de novo em copas, corre o risco de dispersar apoios e colocar-se em dificuldades. O tempo dirá.