20 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 18/04/2019 às 22:27

Caiado entre o bônus e o ônus de ser governo

O governador Ronaldo Caiado experimentou aplausos e vaias na abertura da Procissão do Fogaréu, na Cidade de Goiás
O governador Ronaldo Caiado experimentou aplausos e vaias na abertura da Procissão do Fogaréu, na Cidade de Goiás

O governador Ronaldo Caiado (DEM) experimentou aplausos e vaias ontem  (quarta-feira, 17) a noite, na abertura da Procissão do Fogaréu, na Cidade de Goiás. O ato religioso, uma tradição com dois séculos e meio de tradição, foi iniciado em 1745, e simboliza a perseguição dos soldados romanos e dos soldados do Templo de Salomão a Jesus Cristo.

Caiado se preparava para acender a tocha que é levada pelos farricocos, homens vestidos com túnicas e capuzes, representando os soldados, quando ouviu vaias de parte do público presente. Apupos e a expressão “vergonha, vergonha”, marcaram o protesto, feito, possivelmente, por servidores públicos, que ainda estão irritados com o atraso no pagamento do mês de dezembro de 2018.

O governador manteve a serenidade. Deu prosseguimento à cerimônia e respondeu com um “Glória a Deus”, aos manifestantes.

Esta não é a primeira, e nem será a última vez que um governador é alvo de protestos e vaias. O que importa neste contexto é a reação do mandatário. Em 2009, durante uma visita a obras da UEG em Ceres, o governador Alcides Rodrigues (PP) foi cercado por professores que estavam em greve por melhorias salariais.

O grupo iniciou a manifestação com vaias, e pedidos de que o governador os recebesse. Alcides desceu da van que conduzia a comitiva, composta por secretários e lideranças locais e se dirigiu aos manifestantes. Ouviu as lideranças do movimento e esclareceu que não era possível atender às reivindicações devido às condições financeiras do Estado. Feito isto, dirigiu-se à solenidade de entrega das obras.

Noutra festa religiosa, em outubro de 2011, num incidente que envolveu vaias e troca de provocações, o  governador  Marconi Perillo (PSDB), que exercia o seu terceiro mandato, agrediu verbal e fisicamente o presidente da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, entidade que reúne os devotos das congadas de Catalão. A assessoria do governador informou a época que Marconi teria doado R$ 100 mil para os ternos do congo e ao chegar a Catalão teria sido informado por moradores que os capitães da congada não teriam recebido o cachê conforme tradicionalmente é feito. Com certeza a troca de agressões não foi a melhor forma de resolver o problema.

Reação

Ontem a assessoria do governador emitiu nota ressaltando que Ronaldo Caiado também recebeu manifestações de apoio durante sua participação no evento.  “Com a intimidade de quem se sente em casa na cidade de Goiás, o governador Ronaldo Caiado deixou a sacada do Palácio Conde dos Arcos para participar da procissão a pé e no meio do povo”, frisa, salientando que entre outros, foram ouvidos incentivos como: ” Governador não andava no meio da multidão.  Esse anda!” 

O próprio governador enfatiza que “político tem que estar no meio do povo, minha vida toda vai ser assim”.

O desejo de interagir com a população é válido. E o governador deve saber que as críticas são tão importantes quanto os elogios. 

É inegável o desconforto de setores do funcionalismo público com o atraso no pagamento da folha de dezembro. Esta é uma situação que se agravou por falhas de comunicação do próprio governador, que não soube explicitar as reais condições em que recebeu o Estado.

O importante deste episódio, na Cidade de Goiás, é o governador manter a serenidade e abri-se cada vez mais ao diálogo com os representantes dos servidores públicos, com a sua base política e os setores organizados da sociedade.

Goiás não precisa mais de mandatários com rompantes. Na democracia as manifestações pacíficas são necessárias. Elas devem ser compreendidas na sua essência como a demonstração de um descontentamento.

Meu pai dizia que problema é um bicho que nasce pequeno, mas se não for resolvido logo, vira monstro e engole a gente. Eis aí o desafio do governador.


LEIA TAMBÉM

Os buracos nas estradas e a furada caça às bruxas

Governo quer guerra, mas brasileiros querem paz

O monólogo do governador