Ronaldo Caiado já anunciou o seu vice, Daniel Vilela, como sucessor no Governo de Goiás. Disse também que ele vai governar no último ano deste mandato, o que significa que renunciará até abril de 2026. Bom para o vice. Ruim para outro aliado, o senador Wilder Morais, que sonha com o governo. Daniel basicamente já, é e pode se reeleger.
O discurso em que o governador anuncia Daniel com todas as letras pegou todo mundo de surpresa. Não estou exagerando. Entre adversários e aliados o vaticínio era um só: Caiado não cumpriria com Daniel. Agora o caso ganha novo capítulo: palavra pública empenhada, gravada e ratificada.
Caiado discursou em tom calmo, alegre, brincalhão. Não mostrou qualquer dificuldade em dizer o que disse. Para ele, é fato consumado, dá para entender assim, por isso a visão de que falou com sinceridade. E vamos lembrar que Daniel já está agindo como governador. Escrevi sobre isso aqui outro dia.
Wilder desponta como o líder de uma direita mais à direita que Caiado, mas não carrega as bombas do extremismo em suas ações. Tem o aval e a confiança de Jair Bolsonaro, por exemplo, e ao mesmo tempo dialoga com mais partidos e segmentos que o próprio Bolsonaro. Caiado e Bolsonaro caminham na mesma direção, mas não juntos.
Façamos contas. Caiado tem se distanciado mais (é fato que não comunga do extremismo) do bolsonarismo por estar se revelando menos radical no antipetismo. Bolsonaro não perdoa tal desfeita ao seu ideário. Daniel nada tem de bolsonarismo, e pode se aproximar do lulismo, puxando para seu lado o PT goiano. Nesse caso, Caiado ajuda com um pouco de direita na guerra de Daniel centro-esquerda versus Wilder centro-direita.
O que ainda conta: Caiado quer ser candidato a presidente da República com apoio, quem sabe, do MDB – para o qual estende tapete em Goiás, ou tende a fechar a porteira, caso contrariado – e representando a direita. A questão: uma direita sem Bolsonaro? Dá para chegar lá? Com um MDB que terá nome próprio ou apoiará quem, para presidente, na dança das alianças? E um Daniel, portanto, que terá de apoiar quem para presidente? Um Wilder que apoiará quem, afinal, para presidente? E que poderá ter Caiado ao seu lado, por conta das tratativas nacionais?
Daniel, governador e já candidato, e Wilder, ganhando status de nome em consolidação, apontam para a possibilidade de disputa pelo governo goiano, o que antes não parecia factível. Significa que o desenho de estruturas de poder no Estado começa a se estabelecer. E isso quer dizer outra coisa ainda: há espaço para outros nomes surgirem. Do PT, correndo por fora em vez de entrar na guerra mais dentro da direita do que da esquerda e centro.
Caiado, ao consolidar Daniel, abriu caminho para o estouro do novo ciclo político em Goiás, o que era fato, mas não mostrava pressa. Nada será como antes. Jogo é jogo, guerra é guerra. Apostas, por favor.
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).