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Quando o presidente Fernando Collor de Melo (PRN) caiu em desgraça, pouca gente lhe continuou fiel. Um deles foi o finado José Gomes da Rocha (PRN), a época deputado federal, que posteriormente seria prefeito de Itumbira. O outro, Ronaldo Caiado, que naquela ocasião estava no seu primeiro mandato na Câmara Federal, eleito pelo PFL.
Naquele histórico 29 de setembro de 1992, foram 441 votos que cassaram o mandato de Collor, 38 contra, uma abstenção e 23 ausências. O voto de número 336, que garantiu o impeachment , foi dado por um colega de Caiado, o deputado Paulo Romano (PFL-MG). Com a votação obedecendo lista alfabética, quando Caiado votou contra a cassação, o veredicto já estava dado. Collor renunciou naquele mesmo dia ao mandato, e em 1994, obteve uma vitória jurídica no Supremo Tribunal Federal (STF), que o absolveu por falta de provas. Dilma Roussef teve o mandato cassado no dia 17 de abril de 2016 por um placar menor: 367 a favor – um deles de Caiado -, e 137 contra, sete abstenções e duas ausências. Ao contrário de Collor o seu recurso ainda não foi julgado pelo STF, mas isto é outra história.
Bolsonaro na berlinda
O presidente Jair Bolsonaro (PSL), eleito em outubro de 2017 com 57, 1 milhão de votos (55,1%). Assim como Collor, faz um governo impopular. As pesquisas lhe dão a pior avaliação a um presidente eleito (pós-ditadura). Chegando aos seis meses de gestão, sua aprovação (34%) é menor que a sua rejeição (36%), conforme registrou no dia 24 de maio o instituto Ipespe, contratado pela XP Investimentos, empresa ligada ao Banco Itaú.
Seu governo de cortes de investimentos na Educação, na Saúde e na Assistência Social desagrada cada vez mais os brasileiros. O resultado da redução no orçamento das universidades, ensino fundamental e ensino médio, somado ao fim dos programas Mais Médicos (com a expulsão dos médicos cubanos do país), as regras mais duras do Fies, que reduziram de 700 mil para apenas 100 mil as bolsas do programa, além das mudanças que tornaram raquítico o Minha Casa Minha Vida levaram três milhões de brasileiros às ruas em protesto contra o seu governo nos dias 15 de maio e 30 de maio.
Bolsonaro está em queda. Numa de suas falas mais recentes sua Excelência disse que com todas as letras que não gosta de pobre. “Eles (o PT) gostam de pobre é o PT. Para eles quanto mais pobre melhor”, afirmou ao vivo numa transmissão ao vivo pelo Facebook ao dizer por que deve vetar emenda feita por deputado do PT que pediu a reintrodução do direito dos passageiros de despacharem gratuitamente 23 kg de bagagem nos aviões em vôos domésticos e internacionais.
A economia sob o governo Bolsonaro vai mal. O PIB (Produto Interno Bruto) encolheu 0,2%. A economia está estagnada e em recessão. Há 1.400 obras federais paradas. O desemprego atinge diretamente 13,7 milhões de brasileiros, e cerca de 30 milhões vivem de bicos ou no sub-emprego. Mas Bolsonaro ainda não mencionou nenhuma vez no seu mandato as palavras “emprego”, “geração de emprego”, “desenvolvimento”, “retomada do crescimento”. Tudo que sai da sua boca é liberar armas, autorizar policiais e caminhoneiros a matarem em confronto e a reforma da Previdência – ideia copiada pelo ministro Paulo Guedes do governo ditatorial de Pinochet, que se aprovada pode reduzir a aposentadoria a apenas metade do salário mínimo.
Bolsonaro não sinalizou nada sobre a reforma Tributária, a repactuação de recursos da União aos Estados e Municípios, ou a renegociação da dívida pública, que sufoca as administrações estaduais e municipais.
Mesmo assim o governador Ronaldo Caiado (DEM) mantem acesa a esperança de que seu governo será bom para os brasileiros.
Durante a convenção do DEM, realizada no dia 30 último, Caiado fez um apelo enfático para que o partido declare apoio formal ao governo de Jair Bolsonaro.
” Não é hora de dar uma de Pôncio Pilatos, nem de lavar as mãos, peço a todos: vamos assumir o governo para nós e tirarmos o país da crise e responder à população brasileira. Não existe outra alternativa”, enfatizou.
Seu amigo pessoal, e ministro do Gabinete Civil, Onyx Lorenzoni, discurso em seguida, e sugeriu que Bolsonaro deveria se filiar ao DEM: “Nós vencemos e hoje nós temos na Presidência um ex-filiado do PFL, do Democratas. E que olha para o nosso partido com imenso respeito – e por que não dizer? – com olho de que, quem sabe, gostaria de voltar para casa”, disse
Na sequência, emendou: “Ele (Bolsonaro) foi escolhido para fazer a transformação para dar consequência à aliança liberal-conservadora que nós do Democratas, e do velho PFL, sempre desejamos ver no Brasil. Essa é a nossa chance. Renasceu a centro-direita no Brasil”.
O DEM é o partido melhor aquinhoado no governo. Tem três ministros – Agricultura, Casa Civil e Saúde -, e comanda o Congresso Nacional com o Davi Alcolumbre na presidência do Senado e Rodrigo Maia na presidência da Câmara. É natural que o partido declare apoio formal ao governo.
Talvez seja bom Bolsonaro se filiar ao DEM e a partir daí ter ao seu lado um partido que tem experiência administrativa. Durante os oito mandatos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), foi o PFL/DEM o principal sustentáculo daquela gestão, que ficou marcada pelas polêmicas privatizações da Vale do Rio Doce e da Telebrás e pela compra de votos na Emenda da Reeleição.
É importante o DEM por a cara. Assumir as rédeas do governo, dando-lhe um rumo.
Até agora Bolsonaro mostrou-se incompatível com a função de ser governo. O DEM gosta e sabe ser governo.
Governos são recuperáveis. Desde que se proponham a isto.
Briga China-EUA é boa para o Brasil
A economia está estagnada por inanição do governo. Não é por acaso. É que não existe notícia de alguém que governe pelo twitter. “Ah, mas o presidente norte-americano, Donald Trump, vive no twitter”… Sim, Trump usa muito o twitter, mas governa aprovando projetos protecionistas contra a China e a Europa. Ele tem uma política: “American first”, e é dentro dela que aumenta as tarifas de importação da China (25%) e garante – mesmo que provisoriamente, empregos para os trabalhadores norte-americanos. Nosso representante tupiniquim utiliza o twitter para perseguir adversários, xingar estudantes, fazer lobby pela liberação das armas, humilhar os militares e dar vazão às loucuras do pseudo-guru Olavo de Carvalho.
O Brasil faz parte dos Brics – grupo criado magistralmente pelo ex-chanceler Celso Amorin e pelo ex-presidente Lula -, que criou o maior mercado consumidor do mundo ao unir Brasil, Índia, China e África do Sul num só bloco econômico e político.
Fossem outros tempos, o Brasil estaria aproveitando a guerra comercial entre EUA e China para vender mais para os chineses. Neste momento, por exemplo, em retaliação à mega tarifação de 25% feita por Trump contra os produtos chineses, o presidente da China, Xi Jinping, anunciou que não vai mais comprar soja dos EUA. O Brasil pode se tornar o maior exportador de soja para a China – se houver movimentação política para isto e se o presidente Bolsonaro parar de se comportar como subalterno de Donald Trump.
Desconstruir vs Construir
Caiado e o DEM poderiam colocar juízo na cabeça do presidente.
Influenciar positivamente a sua pauta política e econômica.
Quem sabe, fazê-lo largar o twitter e tomar gosto pela arte de governar.
Mas esta é uma aposta de alto risco.
Bolsonaro já disse também, em alto e bom som, que veio para desconstruir, e não para construir. Esta afirmação aconteceu em Washington (EUA), durante um jantar com lideranças conservadoras onde declarou que “o Brasil não é um terreno aberto onde nós podemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa. Para depois nós começarmos a fazer”.
O presidente tem sido fiel à sua fala, e trabalha aceleradamente para desconstruir o SUS, o ensino público, a politica habitacional e a política de assistência social no Brasil que tem na Previdência Social o seu principal sustentáculo.
Parece que Bolsonaro tem influenciado Caiado neste sentido. Assim como o presidente, o governador também tem apostado mais no confronto com adversários do que no diálogo. A caça às bruxas em Brasília também se reproduz em Goiás, e isto também está travando o governo aqui.
A bem da população, Bolsonaro, Caiado e o DEM devem cultivar o diálogo com a sociedade. Apostar numa autocracia pode ser danoso para o país, como já foi demonstrado na mal sucedida experiência de Fernando Collor de Mello.
A vida é de escolhas, e os governos pagam o preço das escolhas que fazem.