23 de dezembro de 2024
Publicado em • atualizado em 13/08/2019 às 11:14

Bolsonaro mistura radares móveis, Argentina e Ancine em estratégia parecida com campanha eleitoral

Bolsonaro visita canteiro de obras da BR116 no RS (foto Cléber Caetano, PR)
Bolsonaro visita canteiro de obras da BR116 no RS (foto Cléber Caetano, PR)

O presidente Jair Bolsonaro(PSL), que no último final de semana aconselhou os brasileiros irem ao banheiro um dia sim e outro não para “preservar o meio ambiente”, disparou várias vezes hoje, de novo, sua  metralhadora escatológica.

Mercosul

Ao receber a notícia de que seu aliado, o presidente argentino Maurício Macri tomou uma surra da oposição nas prévias das eleições presidenciais da Argentina, ele ameaçou tirar o Brasil do Mercosul, bloco econômico que, depois da China, é o principal destino das exportações brasileiras.

Auxiliares do chefe do Planalto ligados ao seu grupo ideológico defendem rever a participação do Brasil no Mercosul com uma eventual vitória do candidato de esquerda Alberto Fernández, que tem a ex-presidente e senadora Cristina Kirchner como vice. A ala mais conservadora do Planalto entende que é preciso aguardar os desdobramentos da eleição no país vizinho e evitar posicionamentos precipitados.

A culpa é do radar

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira (12), em Pelotas (RS), que pretende acabar com os radares móveis no país já na semana que vem.

“A partir da semana que vem, não temos mais radares móveis no Brasil”, disse Bolsonaro. A declaração foi dada no evento de liberação de um trecho de 47 km  de duplicação da BR 116.

“O radar é decisão minha, Presidente da República. É só determinar a PRF que não use mais e ponto final. Se alguém me provar que esse trabalho é bom, eu posso voltar atrás, mas todas as informações que eu tenho, inclusive dos caminhoneiros que botam na conta final do que você vai comprar no mercado o preço do trajeto que ele faz pra entregar a mercadoria, abusaram do sistema eletrônico de controle de velocidade no Brasil, virou caça-níquel”, afirmou.

Ancine no alvo (Apesar de arrecadar)

Ainda durante a inauguração de obras de duplicação de trechos da BR-116, Jair Bolsonaro voltou a fazer ataques ideológicos à Agência Nacional de Cinema (Ancine) e afirmou que não admitirá produções fora dos “interesses e tradição judaico-cristã”.

A Ancine fomenta o cinema brasileiro, que gera 300 mil empregos diretos e indiretos e movimenta cerca de 0,9% do Produto interno Bruto (PIB) do Brasil. No início de julho, o presidente ameaçou fechar a Ancine se não puder analisar previamente os projetos financiados pela agência. Cineastas, diretores, produtores e atores reagiram renunciando Bolsonaro por tentar a volta da censura.

Alemanha

O presidente Bolsonaro demitiu Ricardo Galvão da presidência  do  Inpe(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) depois que este mostrou que no seu governo (de Janeiro a julho) houve 278% de aumento no desmatamento da  Amazônia. Em função  destes dados, a ministra do Meio Ambiente da Alemanha, Svenja Schulze, anunciou, em entrevista ao jornal “Tagesspiegel”, a suspensão do financiamento de projetos para a proteção da floresta e da biodiversidade na Amazônia por causa do aumento do desmatamento na região.

Questionado sobre o corte do investimento alemão, Bolsonaro afirmou que a Alemanha estava tentando “comprar” a Amazônia.

“Investir? Ela não vai comprar a Amazônia. Vai deixar de comprar a prestação a Amazônia. Pode fazer bom uso dessa grana. O Brasil não precisa disso”, declarou.

O que o presidente não considerou é que o acordo entre Brasil-Mercosul-União Européia passa também por cláusulas ambientais. Bolsonaro, segundo analistas políticos, age como se quisesse romper o recém assinado acordo com a UE para privilegiar outro, de natureza bilateral com os Estados Unidos do presidente Donald Trump, de quem se diz seguidor.

Temos leis?

Alguém  precisa avisar “Sua Excelência” que ele foi eleito presidente, tem mandato de quatro anos, e que ao contrário do que ele e os filhos pensam, não é Imperador do Brasil, ou tampouco passou o País para o seu nome num cartório, para fazer o que quiser.

O Brasil ainda tem Constituição e leis. Qualquer mudança sobre o Mercosul, União Européia,  Ancine ou Leis de Trânsito passa pelo Congresso Nacional.

Se no vaticínio do mandatário é importante sentar no vaso um dia sim, outro não, que o faça. É direito de escolha seu. O que o povo brasileiro pede é que faça isto no banheiro, de portas fechadas, e não em público,  de frente para as câmeras.

Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .