23 de dezembro de 2024
Publicado em • atualizado em 20/05/2019 às 12:05

Bolsonaro derrete e, se Caiado não agir, seu governo pode fazer água também

Desde que juscelino kubitschek fez o seu discurso de campanha em Jataí, no dia 4 de abril de 1955, prometendo construir em Goiás a nova Capital Federal, todos os governadores que se seguiram à construção de Brasília tiveram boas relações com o inquilino do Palácio da Alvorada.

A proximidade de Goiás com Brasília exige isso, afinal, todo goiano sabe que os o presidente mora no quadradinho cedido por Goiás.
Juscelino terminou o seu mandato em 1960 e por gratidão dos goianos foi eleito senador por Goiás ao lado de Pedro Ludovico. Seu sucessor, o presidente João Goulart (PTB),  tinha relações próximas com governador Mauro Borges (PSD), que participou da Cadeia da Legalidade para garantir a sua posse, após a renúncia de Jânio Quadros, que foi  organizada pelo seu colega, o governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola (PTB).

Na ditadura, como os governadores indicados pelos generais, era natural que houvesse uma relação direta entre os comandantes e seus subordinados. Com a volta da democracia, Iris Rezende (PMDB), eleito governador em 1982 e 1990, ocuparia duas vezes o cargo de ministro, uma com o presidente José Sarney (PMDB), na pasta da Agricultura, outra com Fernando Henrique Cardoso (PSDB), na Justiça. O ex-governador Maguito Vilela foi indicado pelo presidente Lula para vice-presidência do Banco do Brasil  (PMDB) e Marconi Perillo (PSDB) manteve boas relações com o petista, até desentender-se com este, mas recuperou as boas graças do Planalto, cultivando profícua relação com a presidenta Dilma Roussef (PT).

O governador Ronaldo Caiado (DEM), seguiu a mesma trilha e buscou proximidade com o presidente Jair Bolsonaro (PSL). Há entre ambos afinidade política e ideológica. Ambos conspiraram pela queda da presidenta Dilma Roussef e tem um histórico de diferenças com o PT.

Mas é preciso dizer que nenhum dos antecessores de Caiado dependeu tanto do apoio de Brasília para governar.
Caiado iniciou o seu governo contando com a parceria líquida e certa do presidente para superar as adversidades dos primeiros meses de mandato. Fiou-se nesta parceria, a ponto de indicar para o governo secretários que têm ligações diretas com o presidente e vários dos seus ministros. Rodney Miranda, Secretario de Segurança Pública, foi sugerido a Caiado pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro; Cristiane Alkmin Junqueira Schmidt,  Secretaria da Economia, teve as bênçãos do ministro da Economia, Paulo Guedes. Fátima Gavioli, Secretária de Educação, tem o dedo da Fundação Lemann, do empresário Jorge Paulo Lemann, da Ambev, que apoiou a eleição de Bolsonaro. Ricardo Soavinski, presidente da Saneago, foi um dos principais cotados por Bolsonaro para o Ministério do Meio Ambiente.

Por enquanto pouco, ou quase nada brotou desta parceria entre o Palácio das Esmeraldas e o Palácio do Planalto. E para piorar, o governo do presidente Jair Bolsonaro começou a fazer água. A incapacidade de sua Excelência em lidar com o Congresso Nacional,paralisou o governo. Resultado: 1.400 obras federais paralisadas, desemprego aumentando, dólar nas alturas e PIB em queda.

Nesta semana, graves denúncias atingiram o clã. Um dos filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) é acusado pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro de lavagem de dinheiro, envolvimento com milícias, formação de quadrilha e de repassar um cheque no valor de R$ 24 mil à primeira-dama Michelle Bolsonaro. As denúncias são fruto da a quebra do sigilo bancário e fiscal de 95 pessoas e empresas ligadas ao senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), com ajuda do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) onde o Ministério Público do Rio apontou indícios de que o parlamentar comprou e vendeu imóveis para lavar dinheiro no período em que ele era deputado estadual.

Mais: uma das linhas de investigação  ligam Flávio e o pai à morte da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ). Há evidências da relação de ambos com milicianos presos, entre eles o sargento reformado da Polícia Militar, Ronnie Lessa, um dos acusados de atirar na vereadora. Lessa é vizinho de Bolsonaro no condomínio onde moram na Barra da Tijuca, e na casa dele foram encontrados 117 fuzis M-16, arma padrão das forças armadas norte-americanas.

A insensibilidade social do presidente, que num decreto libera o uso de armas de grosso calibre para todo tipo de gente  e noutro corta dinheiro da Educação, tiraram a sua credibilidade. No último dia 15, dois milhões de pessoas irem ás ruas em mais de 200 cidades do país protestar contra os cortes e também contra o desemprego e a Reforma da Previdência. A população teme que a mudança na aposentadoria venha a repetir no Brasil o que ocorre com o Chile, país no qual o ministro Paulo Guedes se inspirou para fazer o seu projeto. A mudança na previdência feita pelo ditador Augusto Pinochet fez com que  os idosos recebam a metade de um salário mínimo, e é por isto  que o país lidera o tenebroso ranking de suicídio de aposentados.

Bolsonaro já disse nos Estados Unidos, num jantar com a presença do seu guru , Olavo de Carvalho, que “o Brasil não é um terreno aberto onde nós iremos construir coisas para o nosso povo. Nós temos que desconstruir muita coisa”.

O presidente tem cumprido esta promessa diariamente. Sua aposta é mesmo na desconstrução. Ao invés de diálogo com o Congresso, ou com os governadores, prefere bravatas nas redes sociais, onde espera governar acima das instituições, instigando seus seguidores a intimidar membros do Legislativo e do Judiciário.

Talvez Bolsonaro sonhe com um Pacote de Abril, como fez o general Ernesto Geisel, que no 13 de abril de 1977 fechou temporariamente o Congresso Nacional. Geisel temia que a ditadura perdesse a maioria no Senado nas eleições de 1978, e instituiu a figura do “senador biônico”, que não seria eleito, mas indicado pelos generais.
Há várias colunas temos abordado a necessidade do governador não se fiar muito na ajuda de Brasília. O jogo que Bolsonaro joga não é para coletividade, mas apenas e tão somente para os seus grupos de interesse.

O DEM do governador Ronaldo Caiado está numa sinuca de bico com Bolsonaro. Foi até agora o partido que mais deu apoio ao seu governo, onde ocupa três ministérios estratégicos, a Casa Civil , Agricultura e a Saúde, além das presidências da Câmara e do Senado. As investigações sobre a lavanderia do clã Bolsonaro correm par e passo com as investigações do assassinato da vereadora que tanto incomodava os milicianos amigos do presidente. 

Neste ritmo o governo vai derreter rápido como gelo no sol de um meio dia no mês de agosto. Aliás, dois presidentes caíram em agosto: Getúlio Vargas que se suicidou no dia 24 e Jânio Quadros, que renunciou no dia 25 do mesmo mês. Na velocidade em que anda crescendo a impopularidade de Bolsonaro, talvez ele seja o primeiro a não passar do primeiro semestre de governo.

A virtual queda do presidente lança o país novamente na incerteza de uma nova transição política e na certeza de uma recessão econômica.

Caiado terá que se preparar para tempos desafiadores, onde só poderá contar com ele mesmo e sua equipe para reerguer as finanças do Estado e cumprir seus compromissos de campanha. Quanto antes se antecipar a esta crise, mas chances terá de superá-la.

Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .