Sofro de bloqueio criativo. Esse é o diagnóstico dos sintomas que me acometem nas últimas semanas. Sento para escrever e nenhuma palavra me vem. Nenhuma ideia me ocorre na mente. Nada de história, só informações de notícias factuais. Totalmente limitada imaginativamente. Sinto que me falta poder.
O medo de qualquer escritor é depender das palavras e elas, sorrateiramente, se esvaírem. Na vida de quem escreve as coisas deveriam ser o contrário, as palavras dependerem da gente. Virem até nós, sedentas por serem colocadas no papel, vistas, entregues ao mundo. Quando o bloqueio criativo se instala as palavras somem. Fogem de nós e não nos resta meio de capturá-las. O trabalho solitário se torna um calvário. Sinto que é culpa do Mercúrio retrógrado, um planeta andando em rota contrária é capaz de atrocidades. Dizem que estará assim até a última semana de agosto, que aliás, passou voando.
Sempre que me perguntam como vai a vida, respondo: corrida! Nem eu sei bem ao certo como. De tanto falar, atraí ainda mais correria, não só na vida, também na mente. Está passando tudo muito rápido. As horas se arrastam e me arrastam junto no cotidiano. Por culpa do tempo, da velocidade descabida, me falta o prazer de olhar ao redor para me inspirar. Nenhuma história me atravessa. A criatividade não mais me encontra.
Feito flor sem água, me ponho a murchar. Sequei sem história, tal qual goiano em mês de agosto; se bater um vento se esfarela de tanta secura. Semana que vem Mércurio, o planeta, volta a correr no prumo normal, e eu, talvez, volte a me inspirar. Até lá, deixo as palavras passarem por mim correndo, assim como corro no tempo cotidiano enquanto a minha imaginação se resseca ainda mais nesse clima sem umidade de Goiânia. Palavras soltas ao vento resolveram se aquietar aqui. O bloqueio criativo continua, mas ao menos quatro parágrafos saíram. Fim.