GOVERNADOR ESTÁ PERDIDO: NÃO SABE A QUEM OUVIR, NÃO TEM QUEM O DEFENDA NO ESTADO E SEU DISCURSO NÃO COMBINA COM A REALIDADE. NA QUARTA, ELE TANTO AMEAÇOU DETONAR UMA BOMBA QUANTO PEDIU PARA CONVERSAR COM MEMBROS DA CPI. PARA PIORAR, O PSDB COMEÇA A ABANDONÁ-LO À PRÓPRIA SORTE – OU AZAR
(Texto originalmente publicado no www.brasil247.com.br
O governador Marconi Perillo (PSDB) está perdido. Faz um discurso de coragem, mas deixa claro que está com medo. Não sabe o que faz: se insiste na estratégia de ameaçar para mostrar-se no controle da situação, ou se se mostra humilde e disposto ao diálogo, o que para muitos poderia até ser visto como humilhação, mas seria uma boa alternativa para a preservação do mandato.
Sim, preservação do mandato, porque a possibilidade de perda já se tornou voz corrente, embora o mais esperado seja outra coisa: o sangramento público continuado. E é isso o que mais preocupa os marconistas e faz aumentar a articulação do governador para assegurar, pelo menos, que seja ouvido na CPI na terça, como programado, e não em agosto, como querem alguns petistas.
A ida à CPI pode ser um tiro no pé, reconhece até o mais apaixonado assessor de Marconi Perillo. Pior, porém, é não ir, avaliam. E, pior ainda, adiar a ida. Por isso o governador age, ao mesmo tempo em que se prepara com empresa especializada em treinamento para políticos e em conversas com seu advogado.
Mas, se pelo menos isso é consenso, como se comportar até lá? Como quem nada teme a ponto de lançar ameaças ao vento, ou como o mais humilde dos homens? As duas teses de ação são discutidas no Palácio das Esmeraldas, e isso tem mexido com os ânimos do governador.
As consequências desse debate mambembe não têm sido boas, basta ver o desgaste na imagem do governador agravado pelos fatos e novas de denúncias, mas igualmente por suas reações, mais direcionadas ao confronto – e o processo aberto contra jornalistas em nada ajudou – do que ao esclarecimento das dúvidas que não param de surgir.
A disputa para ver quem aponta a melhor saída para o governador evidencia outro fato: ele não sabe em quem confiar e, consequentemente, sua assessoria não sabe o que fazer. O resultado é um governo atirando para todos os lados, tentando passar a ideia de que está tudo bem, quando todos sabem que as coisas vão de mal a pior. Outro fato claro: diminuem a olhos vistos aqueles que, mesmo no governo, se dispõem a fazer defesa aberta do governador. O silêncio, neste caso, pode-se dizer que é ensurdecedor.
Sem saber a quem ouvir, Marconi dá mostras de que está ouvindo todos, daí agira como quem anda de pés trocados, com o discurso indo numa direção, e a realidade em outra. Por exemplo: quanto mais surgem fatos novos e detalhes inexplicáveis sobre a venda da casa para Walter Paulo/Cachoeira, mais ele se mostra irritado por ninguém acreditar que ele nada tem a explicar.
A irritação ficou visível de novo justamente com o depoimento do empresário Walter Paulo na CPI. E o que ele fez? Fez circular, como que em resposta, uma ameaça: “Uma denúncia bombástica será feita contra políticos goianos”, revelou, de manhã, na rádio 730, o jornalista Marcos Cipriano.
A frase foi reproduzida no site Diário de Goiás (leia aqui). A ameaça tinha endereço certo, e não era propriamente aos políticos goianos: os deputados e senador da CPI mista do Cachoeira, onde ele estará na terça. O aviso era o de que Marconi fará, na CPI, “um espetáculo da república”.
Trocando os pés, à tarde, porém, a Folha de S. Paulo trouxe a notícia de ele procurou um mensageiro para tentar uma conversa privada com integrantes da CPI (leia aqui). E isso no mesmo dia em que o PSDB, segundo contou o jornalista Josias de Souza, avaliava cuidar de sua vida e de seu futuro (sucessão em 2014), deixando à sua própria sorte o governador goiano.
Enquanto busca uma saída para sua situação, o governador tenta imprimir uma “agenda positiva” no Estado. Ele escolheu o interior do Estado para armar palanques onde possa falar em sua própria defesa, diante de aliados. A região norte foi escolhida para esta nova fase estilo final de campanha, com muito discurso e pose de vítima e luta contra os inimigos Lula e, acreditem, o PMDB goiano – que, a bem da verdade, está mais para cordeiro do que para lobo, neste momento.
O problema aí, para Marconi, é outro: pré-candidatos a prefeito estão se desviando de encontros públicos com ele neste momento de definição de suas candidaturas. Agora é hora das convenções, e não de arriscar o capital político para defender um governador com desgaste crescente, apurado em pesquisas abundantes de orientação interna.
Ninguém quer arriscar a expor-se negativamente, esse o recado que o governador faz de conta que não recebeu, ao mesmo tempo em que cobra a fatura da sua defesa e do apoio. Como a pressão tem sido alta, o descontentamento fica, como a avaliação negativa, maior a cada investida.
Marconi Perillo busca a sobrevivência. Está cada dia mais isolado e a cada momento com menor número de soldados para esta guerra. Perder o escudo do PSDB nacional foi, talvez, a pior notícia da semana, por significar que, se está vulnerável no seu Estado, fora dele não vai encontrar salvação (leia aqui).
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).