29 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 30/04/2019 às 11:38

As lições de Kipling e Gabo aos homens que querem ser reis

Foto do filme "O Homem que queria ser Rei" (foto divulgação)
Foto do filme "O Homem que queria ser Rei" (foto divulgação)

Joseph Rudyard Kipling, escritor britânico laureado com o Nobel de LIteratura em 1907, nasceu na “Índia Britânica”, em Bombain (1865), quando este país fazia parte do império da Rainha Vitória. Entre os seus livros mais conhecidos está “O livro da selva”, que ganharia vida no cinema pelas mãos de Walt Disney como “Mogli, o menino lobo”.

Mas nos chama atenção outro de seus best-sellers: “O homem que queria ser rei”. Esta obra, segundo Kipling, chegou a ele pela narrativa de um velho que contou-lhe a história de dois ex-soldados, expulsos do exército e que se dirigiram inexplorada região do Cafiristão, onde nenhum homem branco havia posto os pés desde Alexandre, o Grande.

Lá ambos são confundidos com divindades por uma obra do acaso, após um dos personagens, o solado Daniel Dravot ser ferido em batalha por uma flecha no peito não sangrar ou morrer. A flecha foi detida pela bandoleira de couro que estava por baixo de sua camisa.

Drevot se torna rei, mas é desmascarado na noite de núpcias quando sua noiva o arranha e descobre que ele poderia sangrar,e portanto, não é um deus. O seu destino é a morte, mas seu amigo Peachey Carnehan é poupado e já velho conta a história para Kiplyng.

Na história recente do país há exemplos de líderes políticos que se acreditava invencíveis, quase uma divindade. A história os desmentiu. O povo que os elegeu, tempos depois tomou-lhes o poder. O caso mais recente foi em 2018, com o desmoronamento do sistema de poder do governador Marconi Perillo (PSDB). Seu lugar como inquilino da Casa Verde foi ocupado por um desafeto, o senador Ronaldo Caiado (DEM).

Mas Caiado, assim como Marconi, não é uma divindade. É de carne e osso, sangra, comete erros e também está sujeito ao juízo popular.

Em 1998, Marconi Perillo ascendeu ao poder derrotando um mito: Iris Rezende. E a partir daí ficou 20 anos dirigindo a política de Goiás. Iris, por sua vez, recompô-se, e reescreveu sua história conquistando o seu quarto mandato como prefeito de Goiânia. O povo dá, o povo tira, e se quiser, coloca no poder de novo. Aconteceu com Iris. Pode acontecer com Marconi.

Marconi não tem vocação para ser prefeito de Goiânia. Ele e o eleitorado da Capital não combinam. Poderia, talvez, ser prefeito de Anápolis, onde sempre foi bem votado, à exceção desta última, quando teve menos votos que a vereadora anapolina Gelli Sanches (PT), que também foi candidata ao senado.

Caiado trás consigo uma longa tradição política, cujos antepassados governaram o Estado no Palácio Conde dos Arcos, em Goiás, e no Palácio das Esmeraldas, em Goiânia. Sua própria trajetória o credenciou ao cargo que hoje ocupa após cinco mandatos de deputado federal e um de Senador.

Mas governos não se sustentam somente em mitos. Como se vê na obra de Kipling, as lendas ao serem confrontadas com a realidade podem perder o apoio que lhes sustentava no poder..

Há um descontentamento na base do governador. Aliados de primeira-hora, prefeitos, deputados, lideranças partidárias, que estão impacientes com os rumos do governo.

Se a noiva no livro de Kipling destruiu o marido, levando-o a um fim trágico, no caso dos governos, os padrinhos, ou seja – aqueles líderes políticos que afiançaram o casamento do povo com o ungido , podem ser também os mesmos que alegram a cerimônia ou que acabam com a festa.

A obra de Kipling foi roteirizada e virou filme em 1975, que contou com as excepcionais atuações de Sean Connery, no papel de Devrot, “o homem que que ser rei”, e Michael Caine, como Peachey Carnehan, o sobrevivente da aventura.

Segundo a sinopse que está no Wikipédia, The Man Who Would Be King, “trata-se de uma história fundamentada na filosofia maçônica e trás dentro de seu contexto vários ensinamentos da Ordem, sendo que vários participantes da obra são maçons, como o próprio Sean Connery. Um de seus principais ensinamentos alude à ambição dos Homens que em nome do poder e da vaidade acabam perdendo até mesmo o seu mais precioso bem, a vida”.

Outro escritor, o colombiano Garcia Garcia Marques, o Gabo, trouxe à luz o “realismo fantástico”, onde prova que a vida, o mundo real, podem tão o mais incríveis do que a ficção. Vale a pena olhar com atenção os clássicos.

Os personagens de Kipling perderam-se porque confundiram ficção com realidade. Os governos às vezes também se perdem por não compreender a diferença entre as duas coisas.

 

Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .