06 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 04/08/2024 às 16:53

As dúvidas sobre legalidade da eleição na Venezuela na visão do Centro Carter

Em recente entrevista por Patricio Vallados, concedida à Deustche Welle, o chefe da missão do Centro Carter na Venezuela levanta sérias preocupações sobre a integridade das eleições presidenciais realizadas em 28 de julho de 2024. As revelações de Vallados destacam um processo eleitoral repleto de falhas que minam a credibilidade democrática do país. Se as observações do Centro Carter estiverem corretas, estamos diante de uma eleição que desrespeita os princípios fundamentais de uma verdadeira democracia. ( Veja a entrevista abaixo, em Espanhol)

“Os Estados Unidos decidiram reconhecer a vitória do candidato opositor Edmundo González Urrutia, que de acordo com Washington teve uma vitória clara,” afirmou Vallados. Essa declaração sublinha uma disparidade alarmante entre os resultados apresentados pela oposição e os anunciados pelo Conselho Eleitoral Nacional (CNE), controlado pelo governo. A oposição afirma que González obteve cerca de 70% dos votos, enquanto o CNE proclamou a reeleição de Nicolás Maduro. Essa discrepância é um sintoma claro da profunda crise de confiança nas instituições eleitorais venezuelanas.

O convite do CNE ao Centro Carter para observar as eleições parecia inicialmente um gesto de transparência. No entanto, como Vallados revelou, a realidade no terreno foi bem diferente. “Estudamos um pouco mais de um mês no terreno, todos em Caracas e em três províncias,” disse ele. Apesar desse esforço, a equipe encontrou “irregularidades graves que não alcançam os padrões internacionais.”

Entre as irregularidades, Vallados destacou problemas no registro de eleitores e candidaturas, além de uma campanha eleitoral marcada por uma clara desigualdade. A cobertura midiática favorável ao oficialismo é um exemplo gritante dessa desigualdade. “A campanha do oficialismo foi muito mais presente com cobertura mediática tanto em noticiários como em geral,” comentou Vallados, apontando para um desequilíbrio que prejudica a competição justa.

A transparência na totalização dos votos é outro ponto crítico. “O CNE deu um resultado no domingo à voz de seu presidente, o senhor Elvis Amoroso, mas os venezuelanos não conhecem a desagregação desses 80% que a autoridade eleitoral mencionou,” explicou Vallados. Sem essa transparência, a verificação independente dos resultados torna-se impossível, minando ainda mais a confiança no processo.

A alegação de um ataque hacker ao sistema eleitoral foi desmentida por Vallados. “A autoridade não mostrou evidência alguma desse hackeamento,” afirmou. A transmissão dos dados foi feita por um canal dedicado, o que, segundo ele, torna um ataque dessa natureza praticamente impossível. Esse tipo de desculpa parece mais uma tentativa de desviar a atenção das falhas internas do processo.

Apesar de algumas vozes internacionais, como a União Africana e o governo brasileiro, terem elogiado o processo eleitoral, a avaliação do Centro Carter é clara e contundente: “Uma eleição que não tem garantias não pode gerar mandatos legítimos,” declarou Vallados. A falta de divulgação dos resultados detalhados impede qualquer validação real da reeleição de Maduro.

A situação dos venezuelanos no exterior é outra área de preocupação. “Apenas 60.000 de mais de 5 milhões estavam registrados para votar,” destacou Vallados. Esta exclusão massiva é uma falha grave que compromete a legitimidade do processo eleitoral.

A esperança de Vallados é que o CNE ainda possa divulgar os resultados detalhados das eleições. “A transparência é um dos princípios fundamentais de qualquer eleição,” concluiu ele. Sem essa transparência, as eleições na Venezuela continuarão a ser vistas como uma farsa, mais uma manobra autoritária do que um verdadeiro exercício de democracia.

As observações de Vallados e do Centro Carter são um alerta claro: a democracia na Venezuela está em sério risco. Sem reformas significativas e um compromisso real com a transparência e a justiça, o país continuará a afundar em uma crise política e social, afastando-se cada vez mais dos ideais democráticos que deveriam nortear qualquer nação.

Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .