Neste domingo, ao terminar um curso, acionei um Uber no Jardim América para o retorno à minha residência, na região Leste da Capital. O motorista, muito simpático, era um baiano de Vitória da Conquista, mas que mora em Goiás há mais de 20 anos, com passagem por Posse, na divisa de Goiás com a Bahia e hoje residente em Goiânia. A corrida não ficou cara, menos de R$ 15,00, mas ao longo do trajeto, travamos uma conversa agradável.
Vilmar contou que está morando na Região Noroeste, no Recanto do Bosque, mas está de mudança para Goianira. Motivo: o valor do aluguel e o custo das tarifas de água e luz. “Estou indo para uma casa menor, vai ficar apertado para mim e para minha duas filhas, que terão que dividir o mesmo quarto, mas tenho que diminuir as despesas”, revela.
Segundo ele, vai reduzir o aluguel de R$ 800,00 para R$ 550,00 e que pretende baixar o gasto com a Saneago e a Enel, que segundo ele estão impactando demais no seu orçamento. “Eu, a patroa e as meninas fazemos de tudo para economizar. Estamos reutilizando a água da chuva para lavar as vasilhas e as roupas, usamos a água do tanquinho para limpar a casa, troquei as lâmpadas amarelas (incandescentes) por lâmpadas brancas (fluorescentes), mas ainda assim pago entre água e luz R$ 350,00. Ganho pouco. Não dá”, desabafa.
Vilmar sabe que vai ficar dificil morar em Goianira. É mais longe, o trânsito é intenso na GO-070, mas a casa onde vai morar tem placas solares e ele espera ecomizar também no valor da energia elétrica.
Fiquei com esta história na cabeça, e hoje, num dos grupos de whatssap que participo vejo o vídeo de um empresário do ramo de calçados, que reclama da conta de R$ 317,00 que recebeu neste mês. No vídeo ele conta que trocou todo o sistema de iluminação de suas vitrines, onde as luminárias são de led, de baixo consumo, e durante o dia, mantém desligada as lâmpadas centrais da loja, aproveitando ao máximo a iluminação natural. Além disso, trocou as lâmpadas do estoque, que eram as antigas lâmpadas de calha de neon, por lâmpadas econômicas com sensores de movimento, que só acionam quando a pessoa está no local, evitando o desperdício de permanecerem ligadas sem necessidade. “Fizemos isto porque todo mundo pede, vamos economizar, vamos economizar”, justifica.
O empresário Cristiano Godinho, sócio da Pé Fresco Calçados com 5 lojas em GoIânia, mostra os talões onde ressalta que houve redução no valor da energia, mas, alguns meses depois recebeu uma carta da Enel, onde sugere que ocorreu uma tentativa de bular a empresa, e que por isto sua loja poderia ser penalizada. Além da comunicação, ele conta que a Enel trocou o medidor.
Nesta altura do vídeo, o empresário comenta que as contas da loja, antes das mudanças, os talões de energia eram na faixa R$ 250,00 a R$313,00. “Conseguimos abaixar para R$ 277,00; depois com toda a mudança para R$ 121,00; R$ 102,00 e R$ 99,00. E o que acontece? Depois que colocaram o sistema novo a conta veio a R$ 317,00 de novo. Querem que eu fale o que? Brasil de ladrão! Brasil de safado! Empresas que não conseguem trabalhar por causas de empresas como esta aqui”, desabafa, apontando para o talão de energia. “Aí vem falar de seriedade? lFica aí a minha revolta. Grande abraço a todos”.
Depois do vídeo, o empresário foi visitado pela Enel que teria feito “ajustes” no medidor. “É estranho baixar custos operacionais e ser considerado um ladrão”, disse ele, citando a “cartinha” da Enel. “Eu acho que a população está revoltada”, concluiu.
Na Argentina, desde o início do governo do presidente Maurício Macri as contas de energia subiram 600%. Matérias veiculadas nos principais jornais do país como Clarin e La Nacion mosrtram que milhares de argentinos ficam sem energia várias vezes ao ano, porque simplesmente não tem dinheiro para manter fazer o pagamento da tarifa. O país está em recessão econômica há quatro anos, a inflação está na faxia de 47% ao ano, os juros em 60% a.a. os custos domésticos consomem 47% da renda e o dólar oscila em 40 pesos. O desemprego atinge quase 10% da população, sendo maior entre os jovens (14 a 29 anos), 21,5% entre as mulheres e 17,3% entre os homens.
Matéria veiculada pelo Portal G1, em 19 de abril do ano passado, mostra que Goiás pode estar a caminho de repetir o que ocorre na Argentina. O G1 trouxe dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostrando que Goiás foi onde a Enel mais aumentou o valor da energia elétrica: 13,73% enquanto a média nacional foi de 1,46%. “Além de ser o estado que apresentou a maior variação no preço da conta de energia, Goiás teve, de 2017 até o mês de março deste ano, 9,9 mil reclamações registradas na Agência Nacional de Energia Elétrica, por conta de falhas nos serviços oferecidos pela Enel Distribuição, antiga Companhia Energética de Goiás (Celg), informa a matéria assinada pelo jornalista Murilo Velasco.
Noutra notícia veiculada pelo G1, no dia 20 de março deste ano, trouxe como manchete: “Enel é considerada a pior companhia de energia elétrica do país, diz Aneel”. O próprio DG, registrou a indicação dos empresários de Goiás, que numa reunião na FIEG (Federação das Indústrias do Estado de Goiás) reclamaram da má qualidade dos serviços prestados.
Estes últimos registros – de um motorista do Uber e de uma pequena empresa -, apenas se somam a outros. É preciso que a empresa reflita sobre o papel que desempenha em Goiás. Com a renda da população abaixando, o desemprego em alta, as vendas em baixa, a tendência é de que as críticas aumentem.
O humor dos goianos está péssimo com a Enel. E pode piorar ainda mais.
Altair Tavares
Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .