04 de dezembro de 2025
Publicado em • atualizado em 08/07/2025 às 00:16

“Aqui dentro da Videira não tem legendário”, afirma pastor Aluízio sobre grupo de Marçal

A declaração veio após o aumento da participação de membros da igreja em eventos dos Legendários, inclusive com relatos de líderes locais. Foto: Reprodução.
A declaração veio após o aumento da participação de membros da igreja em eventos dos Legendários, inclusive com relatos de líderes locais. Foto: Reprodução.

Durante uma reunião de liderança realizada no último dia 9 de junho, o pastor Aluízio Silva, fundador e principal líder da Igreja Videira, fez um pronunciamento enfático sobre a relação da igreja com o movimento Legendários. Em meio a um discurso que mesclou bom humor, leveza e autoridade, Aluízio deixou claro que: “Aqui dentro da Videira não tem legendário. Aqui não tem ninguém de roupa laranjada e ninguém aqui gritando ‘uhul’”, afirmou o pastor.

A declaração veio após o aumento da participação de membros da igreja em eventos dos Legendários, inclusive com relatos de líderes locais que procuraram o pastor com dúvidas e preocupações. Pablo Marçal, um dos nomes mais conhecidos do movimento, é membro da própria Videira e se declara publicamente discípulo de Aluízio, a quem considera seu mentor espiritual. Marçal, inclusive, participou de um retiro do Legendários nos Estados Unidos, o que ampliou ainda mais a visibilidade do movimento entre os fiéis.

“Depois de conversar e ponderar nós chegamos a uma conclusão unânime: o evento dos Legendários é sim positivo. Ele realmente faz diferença na vida de muitos e tem tido frutos de conversões. Há pessoas que vão até lá e se convertem. Então, o evento dos Legendários é uma coisa que nós estamos dizendo, que de fato é de Deus”, declarou. No entanto, Aluízio fez questão de reforçar os limites institucionais. “O TOP vai acontecer. E vai quem quiser. Ninguém é obrigado a ir”, completou.

“Então se você não quer ir, não precisa de ir. E ninguém vai te condenar dizendo que você não foi. Por quê? Porque nós vamos fazer só o TOP. Aqui dentro da Videira não tem Legendário. Você está me ouvindo?”, repetiu o pastor, reforçando o tom de decisão.

Em seu site, o movimento Legendários se define como uma iniciativa voltada à transformação de homens, famílias e comunidades por meio de experiências intensas e imersivas que visam despertar o potencial interior de cada participante. Com a missão de “devolver o herói a cada família”, o grupo se apresenta como um catalisador de mudanças de vida, promovendo valores como coragem, responsabilidade e espiritualidade. Os valores das inscrições variam, podendo chegar até mais de R$ 81 mil pela experiência.

O pano de fundo financeiro

Ainda que o pastor Aluízio não tenha mencionado diretamente a questão econômica, o contexto é difícil de ignorar. O ingresso para os retiros Legendários, promovidos por grandes nomes como Pablo Marçal, Thiago Nigro e Neymar gira entre R$ 60 mil e R$ 80 mil por participante. Valores que, para muitos fiéis, são pesados, especialmente se comparados ao padrão de contribuições voluntárias que sustentam financeiramente a igreja local.

Ao reforçar que “ninguém é obrigado a ir” e que “o Legendário está caro”, o pastor faz um alerta velado: investir grandes quantias em um projeto externo enquanto se negligencia a obra local pode não ser visto com bons olhos pela liderança.

“Enquanto eu estiver por aqui, bagunça não vai ter”, cravou o líder, num trecho da fala que pode parecer apenas uma defesa da ordem interna, mas que revela um desejo explícito de evitar qualquer divisão ou fuga de membros, seja em termos de engajamento, ministério ou, como muitos nos bastidores entendem, de recursos financeiros.

Cuidado com o ministério feminino

Outro ponto central da fala de Aluízio foi a resistência à criação de um braço feminino inspirado no movimento Legendários, que vem sendo chamado de “Ladies”. Ele foi taxativo: “Aqui não vai ter lady. Aqui tem líder de criança. Aqui tem mulher que discipula mulher. Todas são ladies para a glória de Deus, mas não tem esse movimento de lady.”

A preocupação, segundo ele, é não desestruturar o modelo de ministério feminino que a Videira construiu ao longo de décadas, especialmente o trabalho com crianças. “Nós gastamos 25 anos edificando esse ministério. É o maior trabalho com crianças do Brasil”, afirmou.

A fala pode soar apenas como proteção de um modelo, mas também funciona como um alerta para evitar que novas “tribos” se formem dentro da igreja, o que poderia gerar disputas por liderança, espaço e direcionamento de esforços.

A habilidade na comunicação

O pastor Aluízio usou o humor, a leveza e até a autoironia para entregar sua mensagem. Disse que está “cada vez mais perto de não estar aqui”, mas ao mesmo tempo deixou claro que, enquanto estiver, a ordem será preservada. “A ordem do Aluízio não se discute”, diriam alguns membros mais próximos, acostumados com o estilo de liderança dele.



(Colaborou: Elysia Cardoso)

Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: altairtavares@diariodegoias.com.br .