Os deputados que colocaram a faca no pescoço do governador Marconi Perillo (PSDB) na semana passada, para segurar um aliado no cargo, agora lideram uma ação para tentar mostrar que o tucano, apesar dos contratempos com as histórias mal contadas envolvendo Carlinhos Cachoeira, continua tendo a força, no Estado. Jardel Sebba, presidente da Assembleia Legislativa, e o líder do governo na Casa, Helder Valin, ambos do PSDB, lideram grupo de parlamentares realizado esta manhã com Marconi Perillo. Jardel não foi, pois estava no dentista.
Os tucanos entregaram ao governador, no Palácio Pedro Ludovico, uma “Nota de Apoio de Confiança” com 28 assinaturas de deputados estaduais, que também se colocarm à disposição da imprensa para entrevistas. “O gesto tem por objetivo demonstrar a união do grupo e a certeza de que o governador Marconi Perillo não está envolvido com nenhum tipo de irregularidade”, anota o material de divulgação do ato distribuído à imprensa, atribuindo a afirmação ao líder Helder Valin. É também uma comprovação da difícil situação do governador, que busca até em ato público de apoio de quem já naturalmente o apoia uma forma de mostrar força.
Diz textualmente Valin: “Marconi Perillo é a maior liderança política do nosso Estado. Ao longo de seus três governos, ele implantou uma nova maneira de administrar, pautada na responsabilidade social e eficiência administrativa. Queremos reforçar nossa confiança na integridade e no caráter do nosso governador e o orgulho de sermos companheiros de um dos melhores administradores públicos da atualidade.”
Como que preparando o ato de hoje, ontem Jardel Sebba ocupou o pequeno expediente na Assembleia para dizer que não mais apresentará projeto de lei estabelecendo que só quem já disputou eleição poderia assumir cargo no primeiro e segundo escalões. O projeto seria apresentado por ele com aval de Valin. Foi visto como um aviso ao governador dos problemas que ele poderia ter caso levasse a cabo a decisão de tirar do governo presidente da Agência Goiana de Comunicação (Agecom), José Luiz Bittencourt.
Bittencourt está no cargo por indicação dos dois, e é o marqueteiro de Jardel, candidato a prefeito de Catalão. Valin entra na articulação porque quer ser presidente da Assembleia na sucessão de Jardel. Marconi já recuou e decidiu manter Bittencourt, contrariando sua vontade e de boa parte de seus auxiliares diretos, que torciam pela queda do presidente da Agecom. O fato evidencia a fragilidade do governador dentro de seu próprio governo. Ele não consegue demitir que quer, portanto não manda no governo.
Jardel e Valin, com os discursos ontem e o ato de apoio hoje procuram contornar os desgastes que eles mesmos criaram. “O governador Marconi Perillo é a maior liderança política deste Estado. Sou leal. Costumo dizer que a política nos fez companheiros, mas a vida nos fez amigos, irmãos. Jamais seria responsável por fogo amigo”, fez coro ontem o presidente com o líder.
A justificativa para retirar o projeto é uma pérola, partindo do presidente de uma casa de leis. Seria até motivo de vergonha jurídica para um parlamentar experiente, não fosse a clara motivação política por trás de tudo. “Uma consulta mais detalhada, feita pela procuradoria da Assembleia mostrou que o projeto é inconstitucional, já que é iniciativa privativa do governador projetos de lei que fixem requisitos para o provimento de cargos que integram a estrutura do Executivo”, explicou, com tranquilidade.
De acordo com Jardel, ao falar publicamente da possibilidade de apresentação do projeto, seu intuito teria sido, principalmente, chamar a atenção para a insatisfação dos deputados da base aliada com alguns auxiliares do governador Marconi Perillo. “Essas pessoas olham para o próprio umbigo e se esquecem do governo e do nosso líder maior. Falta sensibilidade política”, disse ontem.
É público e notório no governo que, da mesma forma que defende José Luiz Bittencourt, Jardel luta para tirar do Estado o secretário de Segurança Pública, João Furtado Neto. Ou seja: Marconi o agradou em um ponto, mas o desagrada em outro. Enquanto isso, vive na corda bamba: ora é afagado, ora é chantageado pelos próprios companheiros. Companheiros? Sim, mas negócios à parte.
(texto originalmente publicado no www.brasil247.com , com atualização)
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).