Por mais que Iris seja Iris, ainda tem quem se surpreenda – na oposição, na situação, meio lá, meio cá – com ele sendo quem é, e não quem gostariam que fosse ou que fizesse.
Nesta quinta, 13, o prefeito de Goiânia, que anda falando pouco e com isso incomodando bastante, falou firme e forte sobre dois nomes sobre os quais poderia ter se calado, neste momento – sobre um deles, mais ainda.
Iris Rezende defendeu o seu companheiro de partido, Michel Temer (PMDB). E elogiou Lula, de seu ex-companheiro PT, partido que só deixou de ser aliado depois que ele e o ex-prefeito Paulo Garcia (herdeiro de meio mandato e reeleito com seu total apoio) romperam.
Temer está denunciado pela PGR; Lula, condenado por Sérgio Moro. Assim mesmo, Iris, que está de boa na volta dos mutirões e no reencontro com o povo nas ruas, não titubeou diante das câmeras e microfones.
“Eu tenho feito uma força íntima para que não toquem no Michel (Temer)”, disse, sobre o presidente, que corre o risco de perder o mandato.
“Colocando na balança o que o Lula fez de positivo e o que ele fez de mal, a balança pesa mais positivamente”, afirmou, sobre o petista, que corre risco de ser preso.
As primeiras reações surgiram entre aliados do próprio prefeito. Reações de bastidores, claro, porque ninguém ousa expressar em público o que pensa. Tudo fica no limite do conveniente anonimato.
Pra quê o prefeito se expor desse jeito? Defender Lula? Quem deixou Iris falar? Eis algumas perguntas que foram surgindo aos borbotões, em tom de censura e reprimenda.
A reação dos adversários, esta sim explícita, ocorreu em clima de comemoração, com destaque absoluto em seus meios, como se o prefeito tivesse cometido um crime, uma gafe gigante.
Mas Iris estava apenas sendo Iris. Talvez seja este o susto: a constatação de que ele não mudou, está em plena forma.
Não foi a primeira vez que Iris defendeu abertamente Michel Temer. Em maio, quando da notícia da delação e da divulgação da gravação de Joesley Batista com o presidente, ele definiu a ação do empresário como “jogada”.
Atestou que Temer é um homem equilibrado, agiu corretamente. E disse que, se estivesse no seu lugar, teria feito o mesmo (referindo-se à decisão de não renunciar). Sem meias palavras, como agora.
Com Lula, o gesto de hoje não foi menor que o de meses atrás, quando da morte da ex-primeira-dama Mariza Letícia. Ao saber da notícia, Iris tomou a iniciativa, ligou para o petista. Mostrou solidariedade.
Tenho pra mim que o maior adversário de Iris tem sido o seu PMDB, que sobrevive de sua imagem, mas teima em trabalhar contra, na sua desconstrução. Já escrevi sobre isso algumas vezes.
Neste início de mandato, vê-se situação parecida na prefeitura. A oposição bate, mas nem tanto, escorada na boa relação entre ele e o governador Marconi Perillo (PSDB). Quem mais o atinge é o fogo amigo de auxiliares, apoiadores e aliados incomodados.
Os que não conseguem o que querem, na hora que querem, acabam atirando em Iris com força. Sempre nos bastidores. Porque fica mais fácil espalhar boatos de que ele está doente ou ficou doido, do que negociar os seus pleitos baixando as expectativas. E tem os interesses eleitorais em jogo.
Em volta de Iris estão peemedebistas que querem Daniel Vilela candidato a governador. Mas estão também peemedebistas e democratas que sonham ver Ronaldo Caiado (DEM) como nome da oposição. A guerra está declarada, correndo solta, apesar do discurso de unidade.
Daniel também apoia Temer, flerta com os petistas do Estado, mas não faz alarde de nada disso e não conta com a confiança dos iristas. Já Caiado, preferido dos iristas, defende todo dia a saída de Temer do poder, e é um antilulista de carteirinha.
Na prática, salvo pontuais exceções, ninguém está preocupado com o prefeito. Em respeitar o que ele pensa. Em considerar a sua experiência para então confiar no que ele está fazendo. Em seguir o líder e os objetivos da administração, em vez de querer guiar o líder no rumo de seus interesses.
Estes são os que realmente se incomodam quando Iris se revela Iris, como na coletiva desta quinta. E é a estes que Iris fala além das declarações, deixando claro que está seguro de seu rumo, no domínio de seus atos e no controle da situação.
Caiado, se quiser seu apoio, terá de respeitar este Iris, e não o que serviria melhor ao projeto de sua candidatura. Daniel, se quiser contar com ele, terá de conviver com este Iris, e não com aquele que gostaria de ver curvado à sua vontade.
Como demonstrou em relação a Temer e Lula, Iris é companheiro, e age segundo seu instinto e suas convicções. Não tem medo de se posicionar, muito menos de contrariar inimigos e aliados.
Providencial depois das declarações do prefeito foi o acesso rápido à íntegra de suas declarações. Regra básica de contenção de danos em guerra de informação e contrainformação: antes que prevaleça a mentira, espalhe a verdade.
Iris é maior de idade política – mais de 60 anos nessa vida. Conhece seu público. Sabe muito bem o que está fazendo e como lidar com as consequências de suas próprias palavras. As urnas falam por si.
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A seguir, o que disse o prefeito Iris Rezende disse na coletiva à imprensa, palavra por palavra:
Lula
“Olhe, depois de tantas condenações, parece que nós estamos preparados para tudo. Eu francamente não sei se o presidente Lula, depois de tantos serviços que ele prestou a esse país, um homem que saiu de operário e chegou à Presidência da República, recebesse ao final de sua vida uma sentença dessa natureza. Porque errar, quem não erra? Quem não errou? Então eu acho que o Lula estava a merecer da nação um perdão pelos possíveis erros que ele cometeu, porque eu não vi erros tão graves diante de tantos bilhões que noticiam a toda hora, todo dia, toda semana. Bilhões retirados do povo através das empresas públicas, das dotações orçamentárias de obras, de tudo, e falam de um apartamento que eu, na verdade, achei que ele estava a merecer uma consideração maior, que colocando na balança o que o Lula fez de positivo e o que ele fez de mal, a balança pesa mais positivamente.”
Michel Temer
“Bem, eu tenho feito uma força íntima para que não toquem no Michel. O que nós já estamos sofrendo hoje no país, se forem mudar de presidente para eleger outro daqui a um ano, aí que esse país vai entrar em uma anarquia, estou torcendo para que o mundo político nacional tenha juízo, tenha equilíbrio e não venha fazer politiquice no momento mais crítico da nação.”
“Isso (o partido punir quem ficar contra Temer) não será o PMDB. O povo vai dar a lição ao mundo, que nós aprendamos a escolher nossos representantes.”
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).