Prefeito de Aparecida de Goiânia foi um aliado providencial para o governador tucano nos últimos anos, mesmo PMDB e PSDB sendo inimigos no Estado. Agora, Marconi joga no colo de Maguito a origem de outro caso de amor (por interesses): o do Estado com o contraventor Carlinhos Cachoeira. Mas… Marconi vai renegar os dois, Maguito e Cachoeira, e tudo ficará por isso mesmo?
(Do Goiás 247) – Nenhum inimigo foi tão bom para o governador Marconi Perillo (PSDB) nos últimos anos como o prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela (PMDB). Os dois, adversários históricos, viveram uma verdadeira love story, desde que Maguito decretou, ao final da disputa eleitoral de 2010: “É hora de dar as mãos a Marconi, na busca de benefícios para a população.”
Foram vários encontros, trocas de elogios, deferências mútuas. Para desespero de peemedebistas históricos. Para desespero maior ainda do ex-governador Iris Rezende, derrotado por Marconi em 2010 e marido traído a defender que o seu PMDB se comportasse como oposição.
Como se só pra contrariar, Maguito, que já chegou a dizer que o tucano roubou a Celg, e que já ouviu de quem passou a elogiar algo semelhante em relação à venda da usina de Cachoeira Dourada, ocorrida quando era governador (1995-1998), insistiu nas declarações calorosas a Marconi sempre e principalmente quando o seu partido atirava no velho inimigo.
Em alguns momentos, o prefeito chegou a bater com o chicote do discurso duro e público em próprio filho, deputado estadual Daniel Vilela (PMDB), que insiste em ser oposição na Assembleia. Daniel tem sido um menino desobediente ao pai. Também ele, toda vez que levantou a voz contra o governo, ouviu uma reprimenda. Uma reprimenda que vinha logo em seguida a recados e ameaças nada sutis ao seu pai em colunas de veículos ligados ao governo.
Tanto amor de Maguito por Marconi foi correspondido da boca pra fora. É o que se sabe agora. Porque bastou Marconi ser pressionado para voltar-se contra quem lhe dedicou tanto carinho, tanta paixão.
Na coluna deste domingo assinada por Dora Kramer, o governador foi direto ao ponto: “Quem primeiro levou Cachoeira a fazer negócios com o governo foi o Maguito (Vilela, do PMDB), em 1995, para exploração da loteria estadual por meio da empresa Gerplan.”
Ou seja: jogou no colo do ex-amor a batata quente de quem de fato ‘pariu’ Cachoeira. Mais: jogou para o PMDB que Maguito tanto magoou nos últimos tempos o desgaste que vem lhe corroendo a alma e a imagem, pelas ligações tão perigosas reveladas nas gravações da Polícia Federal dentro da Operação Monte Carlo. Espertamente, o tucano, que é alvo, vai para o ataque, como um menino maluquinho com um estilingue na mão.
Maguito, porém, já devia ter ficado esperto. Era só reparar na CPI criada na Assembleia pelos governistas – os marconistas – para ver que ele era e é um dos principais alvos, pela mesma razão apresentada pelo tucano a Dora Kramer.
E tudo isso no momento em que pesquisas apontam para queda na avaliação da administração de Maguito Vilela em Aparecida e empate técnico nas intenções de voto com o ex-prefeito e marconista de carteirinha Ademir Menezes (PSD).
E agora, Maguito? Vai correr para os braços de quem?
E Marconi, vai renegar tanto Maguito quanto Cachoeira?
E Cachoeira, vai deixar ficar tudo por isso mesmo?
Pensando bem, pode ser que o final desta história seja outro: o triunfo de um amor inusitado, de um tucano e um peemedebista, banhados na Cachoeira que os banhou de poder.
Afinal, o amor tem razões que a própria razão desconhece. Faz uma CPI pra ver…
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).