28 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 13/02/2020 às 09:38

A unidade da oposição em Goiás na teoria e na prática

Peemedebista histórico, Luiz Soyer bate no ponto central, nevrálgico, que envolve toda a oposição em Goiás: “Será suicídio se DEM e PMDB não estiverem juntos.”

Sua declaração está no Giro desta terça, 12. Lógica pura. Expressão de um raciocínio presente em praticamente toda conversa de oposicionistas no Estado hoje: DEM e PMDB, juntos, têm chance real de vencer a eleição para o governo ano que vem; separados, chance quase nenhuma.

Também o senador democrata Ronaldo Caiado tem batido bastante na tecla, assim como o presidente peemedebista, deputado federal Daniel Vilela. Todos com o mesmo pensamento: só a unidade ganha.

A unidade nas palavras, porém, está longe da prática. Na prática, Caiado e Daniel estão cada vez mais distantes. Logo, PMDB e DEM cada dia se parecem mais com água e óleo.

O assunto não é novo.

 

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Caiado e o PMDB que “fez questão” de participar do grande evento do “projeto de oposição” em Goiás

Ronaldo Caiado fala em unidade da oposição, mas age em direção contrária. Daniel Vilela reage

 

Mas fatos recentes justificam o retorno ao tema. Aliás, eterno retorno, quando se trata de oposição goiana. E falo isso referindo-me a esta do pós-1998, e à outra, de antes, que hoje está no poder. Mudam os artistas, não muda o picadeiro.

Em dois encontros pelo interior do Estado, Ronaldo Caiado pregou a ideia de construção de uma grande aliança que já reúne 11 partidos para disputar o governo. Fez festa, ouviu elogios ao seu nome, defendeu o um por todos, todos por um, mostrou que está por cima.

O problema que o ‘um’ é sempre ele. Ele como nome mais destacado, mais forte, acima de tudo favorito, como mostram todas as pesquisas, argumentam seus aliados. Ele como convergência irrefutável.

Problema porque fica fora desse tirocínio a margem de manobra para tornar natural essa convergência; para que não pareça jogo de força a empurrar goela abaixo uma vontade pessoal; para que não soe como xeque-mate: ou Daniel aceita, ou será responsável por mais uma derrota de todos!

O PMDB presente nos encontros de Caiado não é o PMDB que decide. É um PMDB de poucos nomes avulsos. Um PMDB sem qualquer peso para bater martelo, em convenção, no possível apoio ao seu nome. E, por isso, um PMDB que irrita, com sua pregação direcionada, o PMDB que manda.

Uma primeira reação às investidas de Caiado partiu do ex-governador Maguito Vilela, que bateu duro exatamente nos estereótipos caiadistas, ou seja, onde mais dói no senador.

 

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De Maguito para Caiado: “É praticamente impossível o PMDB não isputar o governo em 2018”

 

Maguito condenou, entre outras coisas, o critério de pesquisa para escolha do candidato da oposição. Em bom momento nacional e local, Caiado sempre está na ponta das pesquisas, ao contrário de Daniel, nome bem menos conhecido no Estado.

Daniel também reagiu em alguns momentos, deixando claro o incômodo com a estratégia caiadista. Em recente entrevista à TVDG, chegou a colocar em dúvida a aliança em construção, ponderando que vários dos partidos que hoje têm ido aos encontros da oposição, são na verdade governistas – ou algo do gênero.

 

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Nem todos os partidos que fazem parte da oposição vão continuar, diz Daniel Vilela

Vídeo: Altair Tavares e Vassil Oliveira entrevistam Maguito Vilela

 

O tempo todo, no palanque ou não mídia, Caiado insiste na tese da unidade, ora excluindo Daniel, ora colocando-o contra a parede, sob a lógica irrefutável da unidade imprescindível.

As notas em jornais e sites de peemedebistas pontuais defendendo essa unidade e sempre citando-o em primeiro plano funcionam, assim, como cutucadas adicionais que apenas elevam a temperatura da panela de pressão.

Esta semana, essa escaramuça de bastidores entornou de vez. Na segunda, Daniel deu o seu recado claro via coluna Giro. Disse ele:

– “Tentar interferir no partido alheio só dificulta qualquer composição.”

– “A política de colocar prepostos para atacar aliados e tentar interferir em partido alheio só dificulta qualquer composição e reforça os estigmas sobre o perfil de algumas lideranças.”

– “Desagregar é um caminho curto para a derrota.”

– “Ele (Luiz Carlos do Carmo, peemedebista suplente do senador Caiado) adota uma postura extremamente individualizada ao pedir que o PMDB abra mão de ter candidato (a governador) para que ele talvez ganhe uma vaga no Senado.”

– “Esses subterfúgios políticos não são bem vistos pela população.”

Luiz Carlos do Carmo é a ponta de lança de Caiado em todos os eventos pelo interior. Discursa em nome do PMDB, e indica que o nome da oposição é Caiado. Advoga em causa própria?

A declaração de Soyer nesta terça é, assim, reafirmação do jeito caiadista de conduzir a construção da unidade oposicionista. Depois de se reunir com o senador, e não com Daniel, ele, como bom peemedebista, defende a unidade direcionada a…

Por trás da estratégia do senador democrata está hoje um peemedebista que já teve voz de comando na legenda: Samuel Belchior, ex-presidente. Samuel é um dos principais articuladores políticos de Caiado.

Só que Samuel não decide mais. E sua presença ao lado de Caiado tem sido vista com outros olhos: para seus companheiros, muito além da construção de uma unidade, ele tem outro plano em mente para o PMDB. Samuel Belchior quer ser o vice de Caiado.

Por mais que o senador pregue e argumente, isso, por si só, não é garantia de adesão do PMDB ao seu projeto. Como não é garantia a simpatia do prefeito de Goiânia, Iris Rezende, à sua candidatura.

Alguém imagina Iris decidindo ficar contra o partido, apoiando Caiado (filho de uma Arena velha de guerra histórica com o MDB), justo no ano em que completará 60 anos de vida pública?

Iris só ficará com Caiado se Caiado criar condições para que ele o apoie. Se não fizer isso, Iris será Iris. É o que a história indica. Daniel, providencialmente, está se reaproximando do casal Iris. Criando as suas condições para o apoio irista lá na frente.

Quando Caiado diz que só será candidato se tiver o apoio do PMDB, mostra sinceridade. Mas, em outra esquina do PMDB, surge a pergunta: e se o candidato for do PMDB, ele apoia?

Uma questão para ser respondida com gestos e ações, e não com palavras. Por Caiado e por Daniel – entre outros, muitos outros da oposição.

***

E antes que alguém diga que isso é “consultoria” para a oposição, mostrando o caminho das pedras, etc., três considerações:

1 – não sou o único a escrever sobre isso, e não é a primeira vez (veja os links de textos publicados aqui no blog); aliás, no meu caso, é tão repetitivo que já escrevi inclusive como é repetitivo falar desse assunto;

2 – ouço a mesma coisa, de oposicionistas, quando a análise tem como foco a base governista: estou ‘ajudando’ a situação;

3 – elas por elas: pura pretensão achar que análise é consultoria.

Só rindo.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).