Quando se discute políticas públicas no Brasil, a chamada “pauta da família” costuma aparecer de maneira enviesada, muitas vezes restrita a debates morais ou ideológicos. No entanto, uma verdadeira defesa da família brasileira precisa ser construída sobre bases concretas, como o acesso a creches públicas de qualidade, que atendam às necessidades das mães trabalhadoras e promovam o desenvolvimento infantil, segundo o socioólogo João Cézar de Castro Rocha.
Em recente participação no canal Livraria Leonardo da Vinci, ele trouxe à tona uma proposta que, segundo ele, deveria estar no centro do debate público: o projeto “Creche Brasil”. A ideia é criar, até 2030, 100.000 creches em todo o país. Ele considera que é um número significativo, mas não impossível, especialmente considerando os desafios enfrentados pelas mães brasileiras que precisam equilibrar trabalho e cuidado infantil em condições de extrema precariedade.
Ele argumenta que as mulheres que não tem opções seguras para deixar os filhos e recorrema soluções improvisadas e arriscadas. A falta de creches não é apenas um problema social; é uma questão de vida e morte, argumenta Castro.
Para ele, o governo federal tem uma oportunidade histórica de transformar essa realidade, priorizando investimentos em educação infantil e indica que o projeto “Creche Brasil” poderia ser financiado com recursos provenientes da taxação de grandes fortunas, lucros exorbitantes de bancos e dividendos. Medidas como essas enfrentam resistência, mas são necessárias para romper o ciclo de desigualdade que afeta as famílias brasileiras há décadas.
Para o professor, Investir em creches não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia econômica. Cada ponto percentual de redução na taxa Selic economiza bilhões de reais em juros da dívida pública, compara ele.
Para João Cézar, é preciso que a esquerda retome o debate real e palpável das dificuldades reais das pessoas ao invés de perder tempo em discursos ideológicos abstratos. É hora de propor projetos que dialoguem com a vida cotidiana dos brasileiros. Criar creches é, antes de tudo, reconhecer que a pauta da família vai muito além de slogans vazios: ela está nas políticas que garantem dignidade, segurança e futuro para mães e crianças, diz o professor.
Para ele, a verdadeira pauta da família exige coragem política. Não basta apresentar propostas; é preciso enfrentar os interesses que bloqueiam avanços estruturais, como o poder do sistema financeiro e as resistências de um Congresso conservador.
Por fim, disse Castro, rojetos como o “Creche Brasil” têm o potencial de expor essas contradições e abrir um novo capítulo na política brasileira, onde cuidar das crianças e das famílias deixa de ser promessa e se torna prioridade.
Altair Tavares
Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .