Muito barulho no rastro da pesquisa Serpes/Acieg divulgada nesta terça, 5, mas nos números ela não apresenta nenhuma novidade substancial.
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– Pesquisa aponta caminhos para governo e oposição, que vivem dramas parecidos em Goiás
Ronaldo Caiado (DEM) é o líder com larga diferença, Daniel Vilela (PMDB) melhorou o desempenho depois de uma reação com campanha mais exposta no interior do Estado, e Zé Eliton (PSDB) segue como nome da base governista forte mas enfraquecido por conta de uma base que não vestiu pelo menos, ainda não.
A novidade está em outros pontos. Em três, principalmente:
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A pesquisa não foi publicada pelo jornal O Popular, como tradicionalmente as pesquisas Serpes são. Este fato gerou ruído, como se o jornal estivesse fazendo jogo do governo. Pode ser. Mas ocorre, porém, que a pesquisa não é boa para o governo. O candidato do Palácio das Esmeraldas, Zé Eliton, é o que tem menos a comemorar.
Talvez o jornal nem tenha sido informado sobre ela. Ou tenha, mas depois de realizada. Aí fez cara de paisagem para não parecer – é uma hipótese – que o jogo feito não era para o governo, mas para os empresários. Ou tenha desistido por razões de foro íntimo, depois de tudo pronto. Ponto.
Fora isso, se a pesquisa é da Acieg, o que obriga o jornal a publicá-la? Nada. Como nada impede que o faça depois de divulgada, porque é notícia. E que este também seja um passo pensado – antes ou depois.
E aqui está um ponto curioso: pela primeira vez, que eu me lembre, a Acieg parece ter feito um movimento político calculado, conseguindo efeito de longo alcance. Contrariada com o governo, que ameaça reduzir benefícios fiscais, resolveu expor o governo em um ponto fundamental: a fragilidade política.
A pesquisa revela um candidato governista com pouco crédito eleitoral e um governador com patrimônio político em xeque, dada a rejeição evidenciada. É o recado, por mais que se negue.
Quer dizer: a partir de hoje, o governo parece ter não mais como adversário uma oposição amadora, tão amadora que nem pesquisas para consumo interno faz, e sim empresários dispostos a investir em resultados eleitorais, e de forma profissional. Porque o movimento da Acieg foi politicamente profissional.
2
O que continua derrotando a oposição – Daniel e Caiado – não é a divisão, não é a falta de nomes: é o amadorismo.
3
Onde o governo parece estar envelhecendo é na visão de jogo: não é mais o dono da bola; é parte do time. Se não ajustar sua prática na relação com aliados e o empresariado, será vítima de seus 20 anos, que já pesam por si só como adversário mais temível que a oposição.
Essa ideia de que o cenário está parecido com o de 2006 soa como doce ilusão. Na época, o governo estava forte e Alcides Rodrigues, por mais que se queira desmerecer sua habilidade política, fez bem a sua parte na construção da aliança que o elegeu. Uma coisa amarrou a outra.
Agora, tem-se um vice que não agrada a todos, situação parecida com a de antes, mas um governo que está longe de ter a força que tinha, e uma situação política nacional bem diferente: o PMDB está no poder em Brasília e o PSDB não sabe para onde apontar o bico.
Talvez o cenário que melhor espelhe este instante para o lado do governo seja o de 1998. Novos tempos.
Por outro lado, os aliados que reclamam do governo também têm o que pensar: trabalhar para derrotar o governo pode ser um tiro no pé; perder é sempre perder poder. E quem garante que em Brasília há futuro?
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Empresário não tem partido. Tem lado: o próprio.
A saber: o empresariado goiano vai recompor com o governo, compor com a oposição ou bater asas em 2018, quem sabe lançando um candidato próprio?
Olha a explicação que o presidente da Acieg, Euclides Siqueira, deu ao DG sobre o que levou a entidade a encomendar o levantamento:
“Resolvemos contratar a pesquisa para ter noção se haverá, se a população em si, aceita novos nomes na disputa. Foi por isso que ela foi solicitada e colocada nomes diferentes que estão no jogo.”
Um novo nome na área? Na mesma entrevista, Euclides cita um, assim colocado providencialmente na cartela: Otávio Lage de Siqueira.
Tem respaldo: dos colegas empresários. Tem história: o pai, de mesmo nome, foi governador. E tem capital político pessoal acumulado: foi prefeito, elogiado, de Goianésia.
E uma lembrança: nome afinado com o governador Marconi Perillo, que teve muito respaldo do pai nas suas campanhas.
Euclides está em campo. O jogo é outro.
Leia também:
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(atualizada: 22h08)
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).