31 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 13/02/2020 às 01:04

A lista do Fachin e o liquidificador eleitoral em Goiás

A lista de investigados do ministro Edson Fachin, do STF, inclui políticos de todo o País. Tem goianos, claro, nela e no sigilo levantado sobre os processos no Supremo: Maguito Vilela, Daniel Vilela, Iris Rezende, Marconi Perillo, Demóstenes Torres, Sandro Mabel, Ricardo Fortunato.

Quer dizer o seguinte: em Goiás, tá todo mundo no mesmo saco.

Situação, oposição, esquerda, direita, todo mundo deve, no mínimo, explicações.

O mais engraçado foi acompanhar no final da tarde e início da noite o barulho da divulgação de nomes e as primeiras repercussões.

Tucanos comemoravam a presença de peemedebistas na lista, mesmo com tucanos lá. Peemedebistas reagiam apontando o dedo para os tucanos, mesmo com peemedebistas lá. E gente de outros partidos na arquibancada, torcendo para o circo pegar fogo, mesmo sabendo que seu partido está lá.

No infortúnio comum, de comum acordo pareceram todas as respostas oficiais. Em resumo, todos acham um absurdo, ninguém tem nada a ver com nada.

A verdade? Só Deus sabe.

E aí está o ponto que mais mexe com o futuro político do País e do Estado.

Até que tudo seja esclarecido, a guerra será travada no palanque.
 
Em Goiás, ela já está em curso faz tempo. Mudará, certamente, o tom.
 
***

O cenário, até agora, era o seguinte.
 

O PMDB vinha baseando seu discurso de resistência e combate em dois pontos:
 
1 – denúncia das “promessas vazias” do governo: o plano de investir R$ 10 bilhões nos próximos anos, atendendo todos os 246 municípios com pelo menos R$ 1 milhão cada;
 
2 – ação do MPF contra o governador Marconi Perillo (PSDB) por suspeita de recebimento de vantagens indevidas da Delta.
 
Sobre esses dois pontos, o discurso mais forte sempre foi o do presidente estadual do PMDB, deputado federal Daniel Vilela, pré-candidato a governador.
 
“Falaram em R$ 2 bilhões, depois mudam para R$ 6 bilhões e no dia seguinte passou para R$ 10 bilhões, como se fosse brincadeira. Não dá para levar a sério”, atacou ele dias atrás, durante evento do partido no interior.
 
“O governo (de Marconi) envergonha Goiás com os escândalos de corrupção”, bateu, a respeito da denúncia contra Marconi.
 
Enquanto isso, o que se via na prática:
 
1.a – no evento do governo não faltou prefeito, em especial do PMDB, fartos inclusive em elogios ao governador;
 
2.a – o governador, em vez de ficar acuado, foi pra cima, como foi analisado aquí: Marconi vai para a ofensiva, em vez de padecer no desgaste da denúncia

No contra-ataque, o governador falou bem mais que a oposição.
 
Falou de investimentos. Falou em não fugir à luta…….
 
Da parte dos peemedebistas, pouquíssimas declarações, a não ser as de Daniel e do deputado estadual José Nelto.
 
De prefeitos, vereadores e outros peemedebistas tais, houve no máximo burburinho de bastidor.
 
Ainda o velho medo dos peemedebistas, apontado por Mauro Miranda na eleição passada?
 
Desconfiança do ‘agora vai’ não passar de um ‘de novo não deu em nada’?
 
Estratégia dos prefeitos, até pegar a verba do governo?
 
Tradicional expectativa de que uma hora o governador quebrará a cara por si mesmo, porque, se depender dos adversários, nada feito?
 
Várias versões, uma realidade: passam os anos e a oposição segue sem encontrar eco na própria oposição.
 
Não sabe o que dizer. O blog analisou: Desafio da oposição em Goiás ainda é acertar o discurso.

O deputado federal Ronaldo Caiado (DEM) bem que tenta. Porém é mais ouvido do que reverberado pelos companheiros, que costumam definir seu discurso como “agressivo demais”. Como se fosse possível fazer oposição de menos.
 
Pré-candidato a governador, Caiado não aparece na lista e não é alvo de outra investigação. Exceção à regra, até agora.
 
Sua candidatura, no entanto, passa pelo PMDB. E aí é que está.
 
No mesmo dia da divulgação da lista, ele já estava sendo cobrado: duro contra Marconi, será duro também contra Daniel, Maguito e Iris?
 
Qual será o seu discurso?
 
***
 
Olhando para 2018, o que se pode dizer, por ora.
 
No governo, segue o fluxo: para mostrar Marconi na ofensiva, apesar dos pesares, e para eleger José Eliton, custe o que custar. Em jogo está a sobrevivência política de um grupo que já foi mais unido e, portanto, mais forte.
 
Na oposição, o jogo é outro: está zerado.
 
Para o PMDB, a hora é de fazer as contas: aumentar a divisão interna entre os grupos de Iris e Daniel, enquanto todos morrem afogados pelo desgaste das denúncias, ou juntar e tentar achar um rumo, mesmo que seja apoiar Caiado?
 
Para Caiado, em vantagem competitiva, resta saber: como juntar o que na prática o discurso espalha?
 
Sintomaticamente, na semana passada o democrata pregou amor e conciliação com o PMDB – como se adivinhasse o que estava para acontecer. Como se adivinhasse.
 
***
 
A lista de Fachin pode triturar candidaturas. Mas dela pode sair vitamina eleitoral.
 
Que resulte, ao menos, em um País melhor. Para todos.

Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .