27 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 04/07/2019 às 16:14

A ilha do Dr.Moreau e os monstros do Dr. Moro

(Foto: Reprodução)
(Foto: Reprodução)

Quem como eu – já dizia Cora Coralina –  “vem do século passado” -,  certamente se lembra do Livro de de H.G.Wells , “A ilha do Dr. Moreau” (The Island of Dr. Moreau, 1896), que teve duas adaptações para o cinema, uma de 1977, com Burt Lancaster (A um passo da eternidade) no papel principal, e outra, com Marlon Brando (O Poderoso Chefão) de 1996.
H.G.Wells, foi um gênio da ficção científica que também teve outro livro ” Guerra dos mundos” (1897), exibida nas telonas com Brad Pitt em 2005).  Herbert George Wells, apresenta em “A ilha do Dr. Moreau um cientista que “em nome da ciência”, faz as experiências mais bizarras no campo da genética, transformando homens em animais e vice-versa, por meio de cirurgias e hipnose. H.G.Wells põe em xeque visões religiosas e sobre a ética da ciência. Meio século depois, médicos nazistas, sob o comando do Dr. Josef Mengele, praticariam “em nome da ciência”, horrores e mais horrores nos campos de concentração com prisioneiros judeus, poloneses, ciganos, testemunhas de Jeová e comunistas.
Em nome do “combate à corrupção” o ex-juiz federal Sérgio Moro, à frente da Operação Lava Jato,  também fez um circo de horrores: mutilou o Código Penal, o Código da Magistratura, a Presunção da Inocência e a própria Constituição Federal. Sua verdadeira história está sendo contada pela Vaza Jato, através das corajosas reportagens iniciadas pelo jornalista Glenn Greewald, no seu site The Intercept.  Glenn foi ganhador do Prêmio Pulitzer de jornalismo em 2013 pelas revelações sobre a espionagem feita pela NSA (Agência de Segurança Nacional), mais conhecido pelo “Caso Edward Snowden”, onde revelou como os Estados Unidos espionam, através da internet, os governos de outros países – incluindo  o Brasil, onde a Petrobrás e a ex-presidenta Dilma Roussef foram alvos dos arapongas yanques.
A coragem de Glenn está inspirando outros jornalistas, como Reinaldo Azevedo, em seu blog na UOL e seu programa na BandNews FM, e também os jornalistas da Folha de S. Paulo e da Revista Veja, que agora se dedicam a dissecar as mensagens recebidas pelo The Intercept, que expõe as entranhas da relação anti-ética entre o ex-juiz Moro e os procuradores da Lava Jato, tendo Deltan Dallagnol e Carlos Santos, nos papeis principais.
A Lava Jato extrapolou todos os limites legais. Os diálogos vazados entre o ex-juiz e os procuradores mostram conluio entre o magistrado e o Ministério Público, que demonstram toda a parcialidade da operação, que forçou delações, condenou sem provas, instruiu testemunhas de acusação e não permitiu que réus como o ex-presidente Lula tivessem direito a um julgamento justo, pois tanto o juiz, quanto os integrantes do MPF na Lava Jato se mostraram parciais, e sobretudo, empenhados numa cruzada ideológica contra um inimigo político – e o mais grave: orientados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos -, o que confira um crime de lesa-pátria, pois advogaram em favor de interesses estrangeiros contra políticos e empresas brasileiras.
Assim como o Dr. Moreau, o Dr. Moro criou monstros. No domingo, 30 de junho, grupos de extrema-direita foram às ruas apoiar o “salvador Moro”, contra a imprensa, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, que diante das revelações do The Intercept, Folha, Band, Veja, Correio Braziliense e blogs independentes, expuseram todo o jogo sujo de Moro e seus asseclas. Os monstros de Moreaou eram vítimas de um cientista inescrupuloso; os enganados por Moro se lançam numa sanha que ameaça a própria democracia e o Estado de Direito, indo às ruas pregar a volta da ditadura.
Moro foi sabatinado no Senado e na Câmara Federal, onde não respondeu perguntas, mas manteve a fleuma de justiceiro, que insiste na tese de que os fins – o combate à corrupção –  justificam os meios – o estupro ao Estado de Direito.
Mas esta semana Moro foi mais além. Como ministro da Justiça, e portanto, chefe da Polícia Federal, Sérgio Moro colocou a polícia federal contra Glenn Greewald, oficiando ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras )um relatório das atividades financeiras de Greewald. Trata-se do mais grave atentado à liberdade de imprensa do país, desde 13 de dezembro de 1968, quando o general-presidente Costa e Silva editou o AI-5, que instituiu a censura à imprensa, cassação de mandatos políticos, revogação do habeas-corpus e deflagrou prisões políticas que levaram milhares de brasileiros às prisões, levando à morte e ao desaparecimento de cerca de 500 adversários políticos do regime militar.
São enormes os estragos  feitos por Moro e sua turma às garantias individuais, e o devido processo legal; assim como começa a ser contabilizado o rombo causado ao país com o desmonte de cadeiras produtivas inteiras como a construção civil, indústria naval e à indústria nacional, com a falência de empresas como a OAS, Odebrecht e a privatização da Petrobrás. 
Moro, Dallagnol e seus cúmplices ainda responderão à Justiça por seus crimes. A imprensa, no entanto, não irá se calar ou ser calada.  Quanto mais avançarem os desdobramentos da Vaza Jato, mais a nação brasileira terá ao seu favor o antídoto para o veneno que foi inoculado nas suas veias por falsos profetas e falsos heróis. Moreau, Moro e Mengele criaram monstros e passaram à história como vilões. A verdade vencerá, como disse o Papa Francisco. A luz solar da verdade vai desinfetar as feridas da nação. Todo pus será purgado, e a lata do lixo será o receptáculo final da infâmia e dos infames.