28 de agosto de 2024
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A guerra política de narrativas é uma guerra moral e nada cívica

(Foto: Reprodução)
(Foto: Reprodução)

A comunicação do governo federal não vai bem. A direita domina as redes, o governo perde feio as guerras de narrativa.

Esta parece ser a visão predominante hoje. A questão é tratada como técnica, e motivo de debate acalorado principalmente do lado que está em desvantagem.

Primeiro, a desvantagem é relativa. A governo tem estrutura e recursos, é o Poder. E não chega a perder todas. O problema é que deveria ganhar mais.

Do ponto de vista das disputas políticas, quem governa tem obrigação de estar no ataque, em vez de apanhar na defesa quase o tempo todo.

E o que impede o governo, a esquerda, o centro, esses que patinam na forma e no conteúdo de sua comunicação com o povo, de re-agir?

Não é falta de ferramenta. Não é inteligência. Não é estratégia. Pra mim, é outra coisa. É a disposição de fazer o que é preciso.

A maior parte dos líderes de direita e extrema direita que estão puxando o debate tem um ponto em comum: faz o que for preciso para vencer e impor a sua, claro, narrativa.

Não importa se, nesse combate, a verdade será distorcida, se reputações serão manchadas, se a terra deixará de ser redonda ou se Jesus vai se retorcer na cruz diante do uso em vão de seu nome e ensinamentos.

Os fins justificam os meios. E dane-se o resto do mundo. A bandeira é cívica, a razão é cínica.

É uma vitória de comportamento. Tem a ver com caráter, moral, dignidade, escrúpulo, ou a falta de.

Toda vez que alguém ligado à esquerda ou centro usa os mesmos meios para se impor, apanha dos próprios aliados. Vira um dilema moral: ou vencer sendo bom, ou vencer não sendo. A escolha: perder.

A forma de se comunicar mudou muito, continua mudando. A tecnologia se renova e se supera dia após diz.

Mas o cerne da mudança que controla tudo não está aí. Está no ser humano. Em como as ferramentas atingem o seu cérebro e o seu coração, o que antes parecia exclusividade das religiões ou afins.

Os valores estão confusos, a alma está caótica. O alvo é este. O dilema ‘somos os heróis ou os bandidos’ é explosivo de São João.

Para destruir a humanidade, danem-se os meios. E para salvá-la?

Moral da história: os bonzinhos são aqueles que contam a história.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).