28 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 28/10/2012 às 22:49

A derrota e a derrota de Marconi para Lula e a volta dos cães de guarda da derrocada irista

As vitórias do PT na cidade de São Paulo e em Goiânia e Anápolis mostram que o partido tem especialmente dois diferenciais poderosos: uma militância aguerrida e um líder que faz política como nenhum outro no País, Lula.

Saem derrotados um José Serra envelhecido e um Marconi Perillo agressivo. Perde, portanto, um PSDB que, em vez de dialogar com o eleitor/cidadão, confronta-o e desafia-o em nome de uma ética e de uma moralidade que não sustenta.

Marconi Perillo bateu duro nos últimos meses na tese de que toda a Operação Monte Carlo, que prendeu o contraventor Carlinhos Cachoeira em uma casa que era sua, e, ato contínuo, a CPMI do Cachoeira nada mais eram que produto do rancor do ex-presidente Lula contra ele.

Alimentando a tese estava a argumentação de que Lula não perdoava o fato de que Marconi o teria alertado do mensalão. Um mantra que não tem pé firme na realidade.

Depois do suposto aviso, Lula e Marconi voltaram a conversar com possibilidade de retomar o bom entendimento. O goiano, então senador, foi quem procurou o petista prometendo apoio à aprovação da CPMF. Marconi prometeu e não cumpriu.

Marconi sustenta um discurso que custou caro a Demóstenes Torres: o de que ele está acima de todos os males de seu governo, e que é ético, enquanto todos os seus adversários não o são.

Santo Marconi… Um santo contra o mundo do mal.

Isso pode até sustentar-se por um tempo, como peça de marketing. Mas, fora da realidade, aos poucos perde consistência, e como imagem erigida sobre pés de barro, desfaz-se inevitavelmente.

Serra e o PSDB que se pretende limpo não existe simplesmente porque os fatos mostram que o partido tem problemas como todos os outros. Tem candidatos ficha-suja e tem um mensalão, o mineiro, a explicar.

Lula é o que é sem subterfúgios. Fala diretamente à população com a cara que tem e a coragem que o distingue.

O PT colhe bons resultados nesta eleição no momento em que é posto mais em xeque. No momento em que toda sua roupa suja é levada enquanto a dos seus adversários está suja.

Marconi Perillo talvez tira de tudo a lição de quem não é o senhor do mundo, muito menos o dono de Goiás. Precisa conversar, aceitar o contraditório, debater em vez de bater em tudo e em todos.

A estratégia do soco no inimigo está fazendo exatamente o inimigo reagir, em vez de se quedar vencido. Marconi, com seus cães de guarda do ataque desenfreado, está alimentando a sua derrota.

Aliás, os cães que agem em nome de Marconi são os mesmos que agiam em favor de Iris Rezende (PMDB) em 1998. Eles derrotaram Iris. Vão derrotar Marconi.

Uma questão em aberto dentro do governo goiano hoje é que Marconi está cada vez mais distante de seus antigos companheiros e cada vez mais cercado de ex-peemedebistas, de amigos de ocasião.

Mais do que se reinventar, Marconi antes de tudo tem que recuperar sua identidade política. Mais: tem que criar uma, o que pressupõe mais realidade e menos pirotecnia marquetológica.

Por exemplo: pular do barco de Serra para o de Aécio Neves é a saída? Pode ser, mas vai junto a hipocrisia do oportunismo.

Isso não é ser sério. É ser esperto, quando as urnas lembram: a esperteza engole o esperto.

Vale repetir: o maior inimigo de Marconi Perillo é Marconi Perillo.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).