28 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 16/07/2014 às 01:12

A bala perdida das redes sociais

A campanha eleitoral em Goiás não pegou fogo nem nas redes sociais, nem nas ruas.

Nas ruas, é até natural o banho-maria. Culpa da Copa do Mundo? Assim é, se lhe parece.

Na prática, as campanhas só deslancham em meados de agosto. Sempre assim.

Enquanto isso, o que se tem é movimentação sem grande impacto, para cumprir agenda.

Pura racionalidade: os primeiros dias são de esquentamento eleitoral. Servem para os candidatos ajustarem a máquina e o eleitor ligar o cérebro na disputa.

Aí, sim, vem a avalanche, que se potencializa com os programas eleitorais no rádio e TV.

Mas, nas redes sociais, por que a demora?

Bem entendido: há muita discussão, muito auê nas redes, mas é uma coisa solta, um trem desgovernado, poeira de redemoinho, gente agindo por conta própria.

Não há estratégia: há desordem.

Tanta expectativa foi criada nos últimos meses com ações nessa área… Tanta…

Com previsão de coisa inovadora pela frente, solucionática capaz de definir eleição. E… nada.

Pode ser que o motor também esteja na fase do esquentamento. Pode ser.

Não é o que parece.

Olhando daqui, o que se vê é uma ‘matemática eleitoral’ que não bate. Não soma ação com urna.

Campanha é conteúdo, mas os candidatos têm mostrado enxergar a internet com outros olhos.

A pressão exercida pela necessidade de se fazer algo, o cuidado excessivo e o receio mais excessivo ainda de errar fazem com que os caçadores de voto se preocupem demais com a forma, deixando em segundo plano o fundamental: a mensagem.

A mensagem, ou conteúdo, é o detalhe essencial que vai dentro do design e das ferramentas. O mensageiro, idem.

Porque a mensagem precisa ser levada, propagada, debatida, repercutida. Precisa ir e vir, com a precisão de quem sabe o que faz. O resto é fake. Resto.

Ou será que os códigos de programação são suficientes para conquistar o seu, o meu, o nosso voto?

Falo por mim: meu voto tem alma, e não dígitos (e vale o duplo sentido).

A perguntinha básica, nisto tudo, é: usar pra quê, como, onde, quando, as redes sociais?

A resposta é um debate aberto.

Usar as redes sociais para pedir voto? Convencer alguém pelo tuíter?

Tem gente fazendo coisas interessantes; têm outros que nem tanto.

A página da presidente Dilma Rousseff, por exemplo, é a que mais chama a atenção até agora, pelo visual e pelo que oferece de interação. É um caminho.

Porém o fundamento continua a ser mais para palco do que para plateia. Expõe a candidata. ‘Vende’ seu peixe. Não é algo feito para seduzir, conquistar. O voto, claro.

Um único diferencial esboçado: uma conta no WhatsApp para o eleitor falar direto com ela. Quem sabe?

Os candidatos criam suas estratégias na internet sob o conceito de bonitinhas, apesar de ordinárias na hora do voto.

O extraordinário nas redes sociais custa caro.

O extraordinário, que tem base no conteúdo, não sensibiliza quem paga a conta das campanhas. É visto como gasto, e não como investimento.

Traduzindo: o que tem de candidato se armando para fazer campanha bombástica nas redes sociais com um ou dois garotos no comando das teclas, normalmente parentes que precisam ser empregados, não é brincadeira.

Sim. Campanha inteiras a serem executadas por quem não sabe o que é campanha, não tem formação mínima para saber o que dizer sem comprometer o candidato, e muito menos acumulou experiência de vida para segurar-se no equilíbrio do bom senso e da responsabilidade.

E quando o tom subir, a barra pesar? Por exemplo.

Muita pretensão dos candidatos para pouca inteligência estratégica. Na ponta do lápis, muito investimento em gasto à toa.

Incógnita estabelecida, a rede social não é um espaço para amadores.

E se é um desafio para quem quer conquistar votos, para se perder uma eleição, ali o espaço é infinito.

Porque o conteúdo que falta de um lado vira munição contrária, para atiradores vendados.

No fogo cruzado que é eleição, nada pior do que de repente ver tuíter, facebook, instagram e whatsapp transformados em bala perdida.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).