(Artigo publicado no Diário da Manhã, 28/12/12)
O grande fato novo da política goiano é que ninguém é de ninguém.
Há um governador desgastado, com perspectiva de poder abalada para a reeleição, e uma oposição por se estabelecer, e que pode vir de qualquer lado, inclusive de dentro do governo.
Há mais: indefinições por todos os lados, a começar pelo governador, que pode nem ser candidato, o que por si só abre mais uma frente de guerra para saber quem vai substituí-lo.
E ainda: há espaço de sobra para surgir um ‘novo’ e se estabelecer. E ‘novo’ porque hoje nem ‘existe’ nas bolsas de apostas.
Está tão aberto o campo de negociações em Goiás que é difícil arriscar quem vai ficar com quem de forma segura.
Se se partir do pressuposto de que PSDB e PMDB-PT estarão em lados opostos, a partir daí tudo é possível.
Aparentemente, PSD fica com os tucanos no Estado. Mas e se Gilberto Kassab negociar com a presidente Dilma, em Brasília, e isso se estender para os Estados?
O fator Dilma é importante nessa e em todas as outras avaliações porque ela deverá ser candidata à reeleição e terá de construir a base de sua estrutura política e isso terá naturalmente implicações diretas nos Estados.
Em Goiás, Dilma tem PMDB e PT como aliados inevitáveis; e PSD, PTB, PSB, PR etc, como potenciais.
No que se refere ao PSD, ainda assim é razoável acreditar que o PSD goiano ficará com o PSDB do governador Marconi Perillo.
A aposta do presidente local do partido e deputado federal Vilmar Rocha é clara: Senado ou vice de Marconi.
Isto posto, pode ser que tenhamos um PSD dividido, fazendo campanha para Dilma, aliada de PT e PMDB em Goiás, e para Marconi.
Nesse caso, o que o PSD poderá acrescentar ao governador? Tem estrutura partidária sólida no interior para puxar votos? Uma chapa de candidatos a deputado suficiente para fazer a diferença?
Nesse último caso, dá até para dizer que sim, porque o partido tem nomes competitivos – por conta da capacidade de gasto ou de articulação – como Thiago Peixoto, Heuler Cruvinel e Armando Vergílio.
Mas esses nomes são todos verdadeiramente oposição a Dilma para fazer uma campanha absolutamente marconista no Estado?
O que se sabe é que Armando e Heuler, todos hoje deputados federais, se apresentam como da base dilmista. Devem fazer mais uma campanha própria do que para Marconi…
O que só reforça a divisão do PSD.
O PTB de Jovair/Henrique Arantes vai no mesmo caminho. É dilmista e marconista. No fim das contas, vale o interesse partidário, notadamente pessoal do deputado federal Jovair. Pode ser Marconi com convicção; pode não ser. Depende.
O PSB do presidenciável Eduardo Campos – atual governador de Pernambuco – é outra legenda que ninguém sabe para onde vai.
Júnior Friboi se apresenta como candidato a governador e procura se posicionar como oposição a Marconi Perillo. Não convence.
Friboi dá sempre a entender que, se Marconi acenar para uma desistência de candidatura à reeleição, pode virar o candidato marconista.
À parte isso, há o jogo nacional de Campos, que pode ficar ou não com Dilma, e há principalmente os interesses do grupo JBS, ligado ao PT e que pode, de última hora, atender a um pedido da presidente para enviar Júnior a uma missão no exterior. Não seria a primeira vez.
A própria aliança PT-PMDB em Goiás é uma coisa tida como certa, porém… a depender de alguns considerandos.
O candidato a governador será do PMDB ou do PT? O prefeito reeleito de Goiânia, petista Paulo Garcia, será ou não candidato com aval do peemedebista Iris Rezende? Aliás, Iris vai apoiar Paulo ou vai ele mesmo encarar nova disputa?
E o prefeito de Anápolis, Antônio Gomide, do PT, consegue convencer o PMDB de que não fez corpo mole na campanha de Iris, em 2010, e merece, sim, o apoio para ser ele o nome da aliança?
Os dois partidos, PT e PMDB, em se entendendo, são fortes, tem tudo para vencer – como mostraram Iris e Paulo Garcia em Goiânia; mas, em se dividindo, são dois braços sem controle, imprevisíveis, têm tudo para mais uma vez perder.
Outros partidos também falam em lançar candidato a governador. Porém, falam sem mostrar o que têm. Têm?
E tem quem se apresenta na teoria, sem mostrar base prática.
Vanderlan Cardoso tenta se viabilizar para 2014.
Mas sem partido, atritado com PT e PMDB, oscilando em se assumir como oposição ao tucano Marconi Perillo, para onde vai Vanderlan?
Hoje ele vende a ideia de uma nova terceira via que teria como outro aliado o DEM do deputado federal Ronaldo Caiado.
Vanderlan e Caiado juntos como alternativa?
Em que termos?
O DEM está na base de Marconi Perillo, já que o vice-governador – José Éliton – é da legenda, e é oposição nacional a Dilma.
Caiado, no entanto, não tem uma boa relação com Marconi, está em atrito com Éliton e alimenta essa ideia de uma alternativa com Vanderlan.
Alimenta principalmente o desejo de ser candidato a governador ou a senador.
Ou seja: o que fará de fato?
O que virá de José Éliton, que se agrupa com o deputado estadual Helder Valin, presidente eleito da Assembleia Legislativa, e Jardel Sebba, presidente que sai prefeito eleito de Catalão, ambos tucanos mas não tão afinados assim com Marconi Perillo – a não ser quando atendidos nas pressões corriqueiras e escancaradas por nomeações e outras avenças políticas?
O que vem, o que vai na disputa pelo poder em Goiás é uma incógnita que deixa todos de sobreaviso e cheios de devaneios: como ninguém é de ninguém e tudo está aberto, ser candidato e, inevitavelmente, ser eleito é apenas um detalhe.
Daí que, apesar de todos os pesares…
…Friboi vê chance de ter apoio de PT e PMDB…
…Vanderlan acredita que ainda pode aglutinar todos os ‘oposicionistas’
…Iris sonha com mais uma disputa…
…Paulo Garcia e Gomide estão prontos para colocar o chamado time em campo…
…Caiado põe fé em ter com ele candidato a governador até os peemedebistas…
…Marconi Perillo se anima com a reeleição (nada como uma boa negociação, política ou não, para selar uma aliança que passa por cima de desgastes e denúncias)…
…Armando Vergílio e Vilmar Rocha se apresentam para o que der e vier, seja Senado, seja vice, seja governo…
…José Éliton busca formar ou integrar um grupo, como forma de segurar a vice ou, quem sabe, ir além…
…e quem não é nem citado – do governo, fora, lá e cá, dos dois… – vê possibilidades reais de ser o escolhido, de ser o… Eleito!
Goiás é o Estado onde, diante de uma vitória tão provável, a guerra nos bastidores não tem cor partidária, não tem fidelidade canina, muito menos ideologia. Limites, então, nem pensar.
O jogo está aberto para o bem e para o mal.
Vassil Oliveira
Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).