19 de novembro de 2024
Publicado em • atualizado em 12/02/2020 às 23:59

162 anos de ferrovias no Brasil

Composição da FCA em trecho ferroviário em Catalão (Foto: Samuel Straioto)
Composição da FCA em trecho ferroviário em Catalão (Foto: Samuel Straioto)

30 de abril de 1854. Há 162 anos o progresso começava a trilhar o Brasil. Na referida data, Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, inaugurava a Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis, ou simplesmente a Estrada de Ferro Mauá, primeira ferrovia a ser estabelecida no Brasil. Ao longo dos anos, sem dúvida as ferrovias foram um dos principais mecanismos de interiorização e desenvolvimento do país. Na atualidade, mesmo com o descaso das autoridades, importantes funções são dadas a muitas “senhoras de ferro”, espalhadas pelo país.

Origem do progresso

O Barão de Mauá, Irineu Evangelista de Souza, foi sem dúvida um dos principais visionários do Brasil. Um homem muito a frente do seu tempo, que como capitalista, queria sim ter seus lucros, mas ao mesmo tempo sonhava com um Brasil desenvolvido, independente, das grandes potências, o que não aconteceu até os dias de hoje.

O pensamento arcaico, conservador de parte da elite brasileira, aliado aos interesses da Inglaterra e outros países não permitiu que o sonho do gaúcho de Arroio Grande Barão de Mauá, fosse completamente realizado. Ele foi industrial, banqueiro, político e diplomata.

Em 30 de abril de 1854, o Barão de Mauá inaugurava o primeiro trecho ferroviário do Brasil, ligando o Porto de Mauá a Fragoso, no Rio de Janeiro, num total de 14,5 km. Na inauguração, foi colocada para trilhar na nossa primeira linha a “Baroneza”, locomotiva em homenagem à esposa do Barão, Dona Maria Joaquina, e foi nesta oportunidade também, que o Imperador Dom Pedro II conferiu a Irineu Evangelista de Sousa o título de Barão de Mauá.

Além de empreender a construção da primeira ferrovia brasileira, ele ainda promoveu a Fundação da Companhia de Iluminação a Gás do Rio de Janeiro, da Companhia de Navegação a Vapor do Amazonas e chegou a ser Deputado Federal pela província do Rio Grande do Sul com mandato entre os anos de 1856 e 1875, entre tantas realizações.

Era considerado um liberal, abolicionista e antagônico à Guerra do Paraguai. Com suas atitudes contra o governo, acabou por se transformar em uma pessoa não bem vista pelo Império. Foram várias as ações feitas para destruir os negócios dele. Faliu, morreu sem nenhum bem, terminou seus dias sem nenhum patrimônio, mas com algo que valia mais que qualquer bem material, dignidade e fidelidade às suas convicções. Um homem a ser lembrado pelo Brasil.

Crescimento

Na era pós Mauá, já na época da República velha, as primeiras ferrovias se espalharam pelo país, alimentadas principalmente pelo café, em linhas situadas no interior de São Paulo e em muitas regiões de Minas Gerais.

Com a crise do café, muitas companhias ferroviárias foram à falência. O governo federal encampou várias delas, até que em 1957, o então presidente da República, Juscelino Kubistchek criou a Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) e todas as ferrovias foram unificadas.

O planejamento no período de JK na área de transportes era relativo a rodovias e ferrovias, principalmente. O setor rodoviário avançou já o ferroviário nem tanto. Novamente os interesses externos, aliados a incompetência e corrupção na RFFSA impediram o desenvolvimento das nossas ferrovias.

Devolvam o Trem Azul

As ferrovias foram sem dúvida o mais importante mecanismo de interiorização do Brasil, entrepostos comerciais se formavam à beira das estações, a partir cidades sugiram, outras já existentes se desenvolveram, saíram do isolamento.

Famílias foram formadas, as ligações ferroviárias intensificadas. O desejo de ser ferroviário era passado de pai para filho, os laços permanecem até hoje. A nostalgia pelos trilhos também foi marcada pela presença do Trem Azul da RFFSA.

Os trens atendiam a populações de pequenas e grandes cidades brasileiras, transportavam pessoas, cargas grandes e pequenas também. Mas o trem foi embora, as autoridades brasileiras na era FHC tiveram a estúpida ideia de acabar a RFFSA, privatizando de qualquer forma, realizando concessões mal feitas e trazendo prejuízo a população.

Vários ramais foram erradicados. Trens de cargas deixaram de circular em muitos pontos. Transporte de passageiros nem pensar. Trem de passageiros não é para dar lucro, mas sim contrapartida social.

Com mais ferrovias e as existentes em melhores condições, teríamos menos caminhões nas estradas, ou seja, menos acidentes, menos mortes nas rodovias, menos gasto em saúde e em reparos nas rodovias devido ao excesso de peso nos caminhões.

Neste 30 de abril de 2016, dia do Ferroviário, data em alusão ao feito do Barão de Mauá, deixo aqui a reflexão de um pouco da nossa rica história, que pode ser melhorada se pensarmos como aquele que iniciou o progresso pelos trilhos brasileiros. Parabéns a todos os ferroviários.

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Samuel Straioto é jornalista, especialista em História Cultural pela Universidade Federal de Goiás, pesquisador ferroviário, com ênfase na antiga Estrada de Ferro Goyaz