O relato abaixo, de Carlos José Ferreira de Oliveira, mostra uma cronologia dos policiais civis mortos, em Goiás. No fundo, um protesto por segurança.
CRIMES CONTRA POLICIAIS CIVIS EM GOIÁS
Texto de Carlos José Ferreira de Oliveira é Agente de Polícia de Classe Especial e Diretor da União Goiana dos Policiais Civis – UGOPOCI
Tomando como base a data de 2003 até o ano de 2013 foram contabilizados 13 policiais civis assassinados por bandidos, todos de forma trágica e sem chances de defesas. Isso sem contar os cinco delegados e dois peritos mortos na tragédia de helicóptero no ano de 2012. Este ano, em 2013, com o aumento da criminalidade já foram contabilizados 03 policiais civis assassinados.
Só para relembrar e para não cair no esquecimento das autoridades de Goiás, imprensa e população em geral, não podemos esquecer do policial civil Paulo Vinícius Domingos, lotado na Delegacia Estadual de Atendimento a Mulher, que em dia de folga, atendendo aos apelos e anseios da comunidade, tentando evitar um roubo, foi baleado por um assaltante no Edifício Parthenon Center, no centro de Goiânia. Paulo Vinicius morreu no dia 16 de Outubro de 2003.
Em 29 de Março de 2006 o delegado da polícia civil Virgenor Florêncio Ramos foi assassinado ao reagir a uma tentativa de roubo nas imediações da agência do Banco do Brasil na Avenida Pio XII, Cidade Jardim. O crime foi cometido por dois homens que ocupavam uma motocicleta Honda CG Titan Azul. Um dos acusados, Luiz Antônio de Amorim Neto, foi morto durante a troca de tiros com o delegado.
O escrivão da polícia civil Leonor Pereira da Silva, morreu no dia 04 de maio de 2006 vítima de assaltantes. O policial foi baleado na cabeça durante assalta à sua mercearia, localizada no Setor Mansões Paraíso, em Aparecida de Goiânia. O assalto ocorreu pouco depois das 20 horas. A mulher do escrivão, Antônia Maria Pereira da Silva, conversava com uma vizinha e se preparava para fechar a mercearia, quando dois rapazes entraram e anunciaram o assalto. Os acusados preparavam-se para fugir, quando Leonor Pereira entrou por uma porta lateral. De acordo com informações prestadas pela esposa do policial civil, um dos ladrões segurou o escrivão e o outro atirou a menos de dois metros de distância. A bala atingiu a testa da vítima, que caiu agonizando no chão, vindo a falecer no Hospital de Urgências de Goiânia. Após o crime, a polícia civil de Goiás agiu rápida e prendeu os acusados do crime.
Três meses depois, no dia 14 de Agosto de 2006, o policial civil Adriano Gontijo Caixeta, foi espancado, torturado e assassinado com mais de seis tiros por bandidos que assaltaram um ônibus de carreira que fazia o trajeto Goiânia – Cavalcante (GO). Conforme as testemunhas, dois dos acusados entraram no ônibus e recolheram dinheiro e objetos de valor dos passageiros, enquanto os outros dois faziam a segurança do lado de fora. O policial civil teria tentado esconder a identidade profissional, mais foi percebido. Um dos assaltantes se aproximou e disparou um tiro na barriga dele. Não satisfeitos, os acusados retiraram o policial de dentro do ônibus e o torturaram até a morte. Alguns dias após o fato, a policia civil de Goiás, mostrando eficácia e inteligência nas investigações desse latrocínio (assalto seguido de morte), desvendou o crime e prendeu todos os meliantes.
No dia 05 de outubro de 2006, o policial civil Sidnei Ricardo foi encontrado morto e carbonizado dentro do porta-malas de seu veículo, um Uno, BLS-3270, de São Paulo, num local conhecido como Lajinha, nas proximidades do Jardim Tiradentes, em Aparecida de Goiânia. Sidnei foi morto com um tiro na cabeça. Até o momento, o crime não foi elucidado. A família espera por respostas.
Seis meses depois, mais precisamente no dia 06 de Abril de 2007, o policial civil Vagner Madeira, foi assassinado defronte sua residência, na cidade de Valparaíso – GO. De acordo com testemunhas, a vítima voltava de uma festa, quando foi surpreendido com tiros, pelas costas, de pistola .765. Apenas um tiro atingiu Madeira. Mesmo ferido ele tentou correr atrás dos meliantes até cair, 70 metros depois. Ao vê-lo no chão, os bandidos voltaram e desferiram outros tiros. Oito cápsulas foram achadas entre a casa de Madeira e o local onde ele foi encontrado pela Polícia Militar de Goiás. O Agente morreu a caminho do Hospital Regional do Gama. Alguns dias após o crime, a polícia civil de Goiás prendeu os autores do assassinato.
No dia 22 de fevereiro de 2007, o policial civil Antônio Carlos Bastos de Souza foi baleado durante um assalto no Setor Dona Íris, em Trindade – GO. Na ocasião, os assaltantes tomaram o veículo do policial e ordenaram que o mesmo corresse sem olhar para trás. Mesmo obedecendo à ordem dos meliantes, o policial foi alvejado pelas costa. Após o assalto, o policial civil foi socorrido e encaminhado ao Hospital São Lucas. Na madrugada do dia 07 de maio de 2007, setenta e sete dias após o crime, o policial civil Antônio Carlos, mais conhecido no meio policial por “Pit Bull” veio a óbito.
No dia 31 de Agosto de 2007, o policial civil Adevanir Alves, 50 anos, morreu ao ser baleado em tentativa de assalto no setor Cidade Jardim, em Goiânia. Segundo informações da Delegacia de Homicídios, a vítima estava na rua Natal e Silva, aguardando a esposa em frente à casa da sogra, quando dois homens armados chegaram e exigindo a posse do veículo, um Space Fox. De acordo com a polícia, Adevanir resistiu e foi alvejado dentro do próprio carro. Os tiros atingiram a cabeça e o ombro do agente, lotado no plantão do 15º DP de Goiânia. Os autores fugiram sem deixar pistas.
No dia 12 de agosto de 2008, depois de sacar de sacar R$ 5 mil em espécie na agência da Caixa Econômica Federal no centro do Gama, o policial civil Delson Douglas da Silva, 33 anos, escrivão da Delegacia de Formosa (GO), retornava para sua residência, na Quadra 49 do Setor Leste do Gama, quando dois homens em uma motocicleta atiraram contra ele, em frente a sua casa. Os tiros alvejaram o policial por três vezes, sendo dois tiros no braço e um que atingiu o abdômen. Após, o policial foi socorrido e encaminhado ao Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), para onde foi encaminhado de helicóptero pelo Corpo de Bombeiros. Cerca de cinco horas depois, Delson não resistiu aos ferimentos, vindo a óbito.
O agente da Polícia Civil Márcio Lucena de Freitas foi morto a tiros no dia 10 de setembro de 2011, na Cidade Vera Cruz, em Aparecida de Goiânia, quando tentava apaziguar uma briga de trânsito. O crime ocorreu em frente a uma confecção na rua H-18 do Setor Cidade Vera Cruz. Um amigo do policial, Alcio Pereira dos Santos, conhecido como “Pepeu” também foi baleado e encaminhado para o Hugo, porém não resistiu aos ferimentos e veio a óbito. A vítima trabalhava no 4º Distrito Policial de Aparecida de Goiânia e estava de folga quando foi assassinado. O crime foi elucidado e os criminosos presos.
No dia 19 de novembro de novembro de 2011 outro agente foi vítima de crime de homicídios. O Polícia Civil Marco Antonio Teixeira de Freitas, lotado no 4º DP de Goiânia, mas a disposição da 1ª DRP, foi vítima do crime de homicídio praticado por inclementes e impiedosos marginais, os quais tentavam roubar um supermercado existente no setor Santa Rita, na região oeste desta Capital. De acordo com informações da Supervisão da Polícia Civil, Grupo A, o policial agiu em legitima defesa própria e de terceiros, trocado tiros com os delinquentes. O bandido Rayner Dias Santana Rives também foi morto pelo policial. Algumas horas depois, após o evento fatídico, o competente e dedicado delegado Deusny, juntamente com sua equipe e os policiais civis Ricardo (academia) e Chacal, além de equipes da PM, prenderam o restante dos assaltantes, os quais foram autuados em flagrante na Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH).
Já no ano de 2013 três policiais civis foram barbaramente assassinados. O primeiro deles foi o Agente da Polícia Civil Claudio Gonçalves Dias,conhecido por Carral, lotado na Delegacia Estadual de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos Automotores – DERFRVA. Ele foi covardemente assassinado na tarde do dia 05 de novembro de 2013, em frente ao Hospital dos Rins, localizado próximo ao Lago das Rosas, quando foi atingido por vários disparos de arma de fogo. O Policial foi atendido no próprio Hospital e encaminhado para o Hospital de Urgência de Goiânia (HUGO), mas não resistiu aos ferimentos e morreu. No mesmo dia do crime, operação policial foi deflagrada para localizar e prender os autores deste bárbaro assassinato. Durante a noite deste mesmo dia, policiais civis já tinham a qualificação completa dos autores do homicídio contra Carral. Com medo de morrer, um dos autores do crime, Jefferson Diego Gaspar de Melo, de 25 anos, conhecido como Dieguinho, se entregou na sede do Ministério Público de Goiás (MPGO) e foi levado para a Casa de Prisão Provisória (CPP).
No dia 09 de novembro de 2013 a vítima foi o policial civil aposentado Waldir Ferreira dos Santos, de 53 anos. Ele foi morto na porta de sua casa no Residencial Real Conquista, na Região Sudoeste de Goiânia, por um homem que estava a pé. Waldir com o filho no colo, a mulher e vizinhos estavam sentados em cadeiras na calçada por volta das 23 horas quando chegou um homem magro, de boné branco, armado com uma pistola. “Põe o menino no chão”, determinou ao policial que, assustado, não teve tempo de fazer o que foi solicitado. Rapidamente, o homem descarregou a arma ferindo mortalmente Waldir. O agente, que passou pelos 3º e 5º Distritos Policiais em Goiânia e pela delegacia de Planaltina, foi transferido para Goiânia após um acidente de motocicleta no Entorno do Distrito Federal. Sua última lotação foi a Delegacia Estadual de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos Automotores. Ele estava inativo há cerca de 12 anos.
Nesta cronologia fatídica, o agente da polícia civil Marcondes Luiz Cavalcante Silva, de 56 anos, foi morto ao reagir a uma tentativa de assalto na noite de quinta-feira, do dia 27 de novembro de 2013, em frente ao Centro de Assistência Integral a Saúde (CAIS), do Setor Vila Nova, em Goiânia. Ele foi covardemente assassinado por dois bandidos, com cinco tiros fatais. O policial chegou a ser socorrido na própria unidade de saúde, mas não resistiu aos ferimentos. Segundo informação dos policiais civis, lotados na Supervisão, o agente estava com a esposa em frente ao CAIS, esperando sua filha tomar soro, pois estava com dengue. Neste ínterim dois criminosos surgiram a pé e tentaram roubar o carro dele. Depois de atirar os criminosos fugiram a pé. As investigações estão a cargo da Delegacia de Homicídios. Imagens do Circuito de Segurança de lojas próximas aos CAIS irão ajudar a identificar os criminosos. Denúncias podem ser comunicadas pelo telefone 197 da polícia civil.
A cronologia acima descrita é real. Aconteceu bem próximo de nós. Até quando iremos suportar essa situação? O momento requer um ato de repúdio patrocinado pelas entidades de representação de todas as polícias de Goiás, o Ministério Público, o Judiciário, a Ordem dos Advogados do Brasil e os representantes da sociedade civil organizada. Precisamos mostrar a importância da polícia como elemento de segurança pública e dar ao policial a segurança necessária para desempenhar as suas funções. Não podemos mais aceitar que policiais, responsáveis pela segurança pública, sejem alvos fáceis da bandidagem que agem ao arrepio da lei. Ao Estado cabe dar segurança a sociedade. O policial, membro dessa sociedade e agente público, responsável direto pelo cumprimento da lei, merece também a proteção do Estado. Merece antes de mais nada, o respeito de todos.
(Originalmente publicado no site da UGOPOCI)
Altair Tavares
Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .