23 de dezembro de 2024
Política

Ciro ensaia apoio ao PT, e Marina revive drama

Foto: Agência Brasil
Foto: Agência Brasil

GUSTAVO URIBE, JOELMIR TAVARES E ANGELA BOLDRINI
BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mesmo tendo declarado que pretende se recolher, o candidato do PDT, Ciro Gomes, deve anunciar apoio a Fernando Haddad, do PT, em eventual segundo turno que o exclua.

Segundo aliados, mesmo que magoado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o pedetista não manteria neutralidade diante de um risco de vitória da direita.

Em conversas reservadas, Ciro avalia que Lula agiu de maneira desleal ao ter atuado para esvaziar sua candidatura, impedindo o apoio dos partidos do centrão e influenciado o PSB a declarar neutralidade na disputa presidencial.

“O PT, independentemente de qualquer resultado, acabará fazendo uma autocrítica. Ele maltrata todos os seus aliados, mas, depois, vem buscar parcerias”, criticou o líder do PDT na Câmara dos Deputados, André Figueiredo.

Para ele, “saem ranços do processo eleitoral” na relação dos dois partidos.

Para evitar críticas de fisiologismo, a ideia é que o PDT anuncie apoio ao PT, mas sem a promessa de compor um eventual governo.

Mesmo assim, aliados de Haddad pretendem oferecer a Ciro um posto no comando da campanha e sinalizar com a incorporação de promessas eleitorais, como o SPCiro, e com um cargo ministerial.

Figueiredo diz que ainda acredita na possibilidade de Ciro passar para o segundo turno, mas, caso o cenário não se confirme, ele afirma que o pedetista não deixará a vida pública. “Ele continuará fazendo política, independentemente de mandato”, diz.

A campanha de Marina Silva (Rede) diz publicamente que ela pode passar ao segundo turno, por mais que as pesquisas digam o oposto.

Em privado, no entanto, já era admitida a avaliação de que ela não terá votação suficiente e será pressionada a se manifestar.

Esse cenário apresenta outro problema: ninguém sabe ao certo o que se passa na cabeça da presidenciável.

A definição dependerá, dizem interlocutores, de mais um dos habituais períodos de reflexão que ela adota antes de decisões importantes.

No pano de fundo está o trauma de 2014, quando ela apoiou Aécio Neves (PSDB) em detrimento de Dilma Rousseff (PT). Marina passou os últimos meses tendo que responder sobre o gesto.

Se já era controverso na época (depois de ter passado a campanha criticando a polarização e o PSDB), o endosso se tornou ainda mais problemático depois das revelações da Lava Jato sobre Aécio.

Embora o rumo da candidata num cenário Bolsonaro versus Haddad seja uma incógnita, a possibilidade aventada é que ela se manifeste a favor de um voto “pró-democracia”, rechaçando, dessa forma, Bolsonaro.

Ela caracteriza o deputado como líder de uma onda antidemocrática e autoritária. A ex-senadora participou em São Paulo do ato #EleNão, de oposição ao deputado.

Uma adesão mais explícita a Haddad é vista como praticamente impossível, em virtude das discordâncias dela com o PT, sua antiga sigla, e das mágoas que guarda da campanha de desconstrução que diz ter sofrido em 2014.

Se a postura no segundo turno é desconhecida, o futuro mais distante parece mais nebuloso ainda. Sem cargo eletivo, Marina corre o risco de repetir o sumiço pós-2014 apontado por detratores (e sempre negado por ela). Nenhum aliado arrisca dizer se ela pensa em disputar outro cargo que não seja a Presidência, depois de tentar chegar ao Planalto em três eleições seguidas (2010, 2014 e 2018).

Marina vê ainda se impor algo mais sério: o futuro do partido fundado por ela. A Rede teme não conseguir ultrapassar a cláusula de barreira e, com isso, ficar com sua sobrevivência ameaçada.

Hoje, a Rede tem só dois parlamentares.


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