A cautela em relação à carne brasileira que provocou alarme no exterior e fez alguns dos principais importadores suspenderem a compra de produtos do país passou longe das mesas de churrascarias de São Paulo neste sábado (25).
A reportagem esteve em cinco estabelecimentos de São Paulo neste sábado para verificar o impacto da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, no movimento de clientes. Em todas, os responsáveis disseram não ter notado alteração na frequência.
Nas unidades em que a reportagem esteve, poucas mesas vazias. Em um restaurante da Fogo de Chão, uma das maiores redes de churrascaria do país, nos 15 minutos em que a reportagem permaneceu no local, oito famílias chegaram para almoçar.
Um funcionário do local afirmou que a última semana foi a melhor do mês de março, e que nenhum cliente demonstrou preocupação com a origem da carne servida.
Em outros lugares, consumidores chegaram a fazer perguntas sobre o tema. “No domingo passado [18] uma senhora questionou a procedência da carne”, conta Marcelo Fernandes Alves, gerente da unidade da Bovinu’s da avenida Rebouças. Segundo ele, os produtos servidos são importados. “A carne nacional que chega não é tão boa quanto a que vem de fora. Então priorizamos cortes internacionais”, diz.
Na Marginal Grill, na Marginal Tietê, o gerente de salão, Gilmar Vieira, não viu mudanças na movimentação. Os clientes com os quais a reportagem conversou não demonstraram preocupação especial com o tema.
“Quando essa história começou, achamos estranho. Pensamos que era para tirar o foco da reforma da Previdência e da terceirização. A gente come carne há tantos anos e nunca teve problema, nunca aconteceu nada”, diz Flavia Castilho, 35, coordenadora administrativa.
O empresário Claudio Gomes Fernandes, 48, afirma estar preocupado, mas prefere esperar o fim das investigações antes de mudar seus hábitos. “Não vou deixar de frequentar a churrascaria. E parece que foi uma conversa mal interpretada [em referência ao áudio de funcionários de uma unidade da BRF no Paraná que supostamente falariam sobre misturar papelão com embutidos]”, diz.
Silvio Lazarini, proprietário do Varanda Grill, afirma ter tido movimento cerca de 20% acima da média no último final de semana, logo após a operação. Para ele, o público que frequenta seu restaurante deu pouco crédito a parte das denúncias.
HÁBITOS NOVOS
Em algumas churrascarias paulistanas, funcionários notaram mudanças nos hábitos de consumidores.
Segundo Inácio Sousa, gerente do restaurante Jardineira Grill, localizado no Itaim Bibi, houve aumento no número de clientes que pedem para visitar a churrasqueira do restaurante e ver a carne sendo preparada. “O que antes era raro passou a acontecer até três vezes em um mesmo dia”, diz.
Ele afirma que, embora nenhum de seus fornecedores esteja sendo investigado pela operação, o restaurante passou a ser mais restritivo na seleção das carnes.
“Se aceitávamos certo tipo de carne com vencimento em 15 dias, agora só aceitamos com ao menos 30 dias de prazo.”
César Sinato, da unidade do Novilho de Prata no Jardim Paulista, diz que alguns clientes não perderam a oportunidade de fazer piada sobre o assunto. “Brincaram, perguntaram se minha carne não tinha papelão ou cabeça de porco.”
No Pobre Juan também não faltaram brincadeiras sobre o assunto. “Recebemos alguns comentários em tons de brincadeira, mas nossa equipe participa constantemente de treinamentos e está preparada para informar aos clientes todo o processo pelo qual a carne passa”, afirma o restaurante em nota.
Para outros, porém, o impacto da Carne Fraca ainda não pode ser medido. Paulo Solmuci Junior, presidente da Abrasel (associação de bares e restaurantes), reconhece que os efeitos podem ter sido negativos para o setor.
“Por mais que o cliente ache a preocupação que se tem com a operação exagerada e critique o modo como ela foi conduzida, acaba tendendo a restringir o consumo de carne, mesmo que seja de modo inconsciente”.
(FOLHA PRESS)
Leia mais sobre o assunto
China, Chile e Egito retomam importações de carne brasileira
Leia mais sobre: Economia