O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) dirigiu um apelo por anistia ao Supremo Tribunal Federal (STF), ante o enfrentamento com a Corte, negando as acusações do detalhado relatório da Polícia Federal (PF) sobre a trama golpista de 2022. A declaração tem tom de desespero e evoca uma “necessidade de pacificação política no país”, embora não haja clamor popular e a situação complicada seja dele próprio e de um grupo de aliados, vários presos e investigados.
Dessa vez, Bolsonaro apelou até para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ironicamente seria alvo fatal dos golpistas, segundo os planos descobertos durante a investigação e revelados da última semana para cá.
Em entrevista à Revista Oeste na quinta-feira (28), Bolsonaro comparou a situação atual à Lei de Anistia de 1979, promulgada no fim da ditadura militar, que perdoou crimes de ambos os lados do conflito político da época. “Para nós pacificarmos o Brasil, alguém tem que ceder. Quem tem que ceder? O senhor Alexandre de Moraes”, disse o ex-presidente, defendendo uma anistia ampla para, segundo ele, “zerar o jogo” e, em sua visão, evitar um cenário de maior tensão institucional.
“Eu apelo aos ministros do Supremo, repensem (…) se tivesse uma palavra do Lula (…)”, diz Bolsonaro ao pedir anistia
Alvo de investigações e acusações que incluem discussões sobre o uso do artigo 142 da Constituição, estado de sítio e estado de defesa após sua derrota eleitoral em 2022, Bolsonaro reforçou o apelo direto ao STF e ao presidente Lula. “Eu apelo aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Por favor, repensem. Vamos partir para uma anistia. Vai ser pacificado”, afirmou. Mais adiante pediu novamente: “Agora, se tivesse uma palavra do Lula ou do Alexandre de Moraes no tocante à anistia, estava tudo resolvido. Não querem pacificar? Pacifica”.
O ex-presidente também classificou o relatório da PF sobre a trama golpista como uma “peça de ficção” e buscou minimizar as acusações, citando depoimentos de comandantes militares que corroboram discussões que, no entendimento dele, não tinham implicações práticas para o golpe.
Disputa entre Poderes
Bolsonaro acusou diretamente o STF de contribuir para a escalada do conflito político. Segundo ele, decisões como a multa de R$ 22 milhões aplicada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ao PL, após questionamentos sobre as urnas eletrônicas, foram desproporcionais e motivaram debates internos no governo sobre alternativas dentro das “quatro linhas da Constituição”.
Busca pela liderança do Congresso
Ele elogiou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por sua atuação após o indiciamento do deputado federal Marcel Van Hattem (Novo-RS) pela PF. Para Bolsonaro, o fortalecimento da Câmara é fundamental diante do que ele considera uma “omissão” do Senado.
Críticas a Rodrigo Pacheco
Bolsonaro afirmou não esperar postura semelhante de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, sugerindo que o Senado tem adotado uma posição de complacência em relação às ações do STF.
Desespero, medo de morte e comparações com outros líderes
Visivelmente preocupado com a possibilidade de prisão cada dia mais plausível diante das descobertas realizadas pela PF e já nas mãos da PGR, Bolsonaro comparou sua situação com a de líderes perseguidos em países como Venezuela, Nicarágua e Bolívia.
Ele insinuou temer medidas extremas, além da inelegibilidade. “Querem arrumar uma maneira de me tirar de combate. Alguns acham até que não é nem tornar inelegível por mais tempo ou uma condenação. Querem é executar. Vou acabar sendo um problema para eles trancafiado”, declarou.
Bolsonaro também rebateu as revelações da PF sobre reuniões com militares no fim de seu governo, afirmando que os encontros eram conversas exploratórias diante das sanções aplicadas pelo TSE ao partido. Segundo ele, “rapidamente viu-se que não havia sucesso” em avançar com qualquer plano fora do âmbito constitucional.
Estratégia para se manter vivo no meio da divisão
O apelo desesperado de Bolsonaro sinaliza não apenas o cerco jurídico ao qual está submetido, mas também a luta para manter relevância política em meio às investigações que o associam a tentativas golpistas. Enquanto insiste na narrativa de injustiça e perseguição, desqualificando o trabalho da PF e do STF, o ex-presidente tenta se manter vivo, ao contrário do discurso pacificador, se mantém focado em reforçar divisões no cenário político.
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