As possibilidades de monotrilho em cidades como Goiânia são estrategicamente muito positivas, avalia o vice-presidente sênior e head de marketing da chinesa BYD no Brasil, o goiano Alexandre Baldy, em entrevista especial ao jornalista Altair Tavares, editor-geral do Diário de Goiás.
Ante um cenário de transporte baseado em uma logística onde mais de 80% são realizados por meio rodoviário, que é o caso brasileiro, ele destaca planos da empresa para o país, assim como também analisa o momento conflituoso gerado pelo tarifaço dos Estados Unidos.
Em julho, a BYD colocou no mercado seu primeiro carro elétrico totalmente montado no Brasil, em Camaçari (BA). Em 2019, a chinesa era a 49ª no mundo em veículos elétricos e híbridos e no ano passado já era a 3ª e em 2025 superou a Tesla, mais antiga e que liderava mundialmente.
Confira abaixo a entrevista abaixo!
Altair Tavares: O setor de transporte coletivo vem transformando a sua infraestrutura, fazendo uma transição energética, por assim dizer, e na feira de produtos e serviços desse segmento, no Seminário Nacional de Transporte Urbano da NTU, acompanhamos diversas empresas e principalmente as que investem na área do ônibus elétrico. Entre elas, a BYD que tem o senhor, que é de Goiás, como CEO. O Brasil tem muitas possibilidades de monotrilho?
Alexandre Baldy – “Olha, o Brasil é um país de muita diversidade, que aí a gente avalia de regiões por regiões. A cidade de São Paulo é uma cidade que tem um volume de passageiros transportados diariamente muito grande, então o metrô se prova como o mais viável em termos de objeto de transporte, como é um meio pesado, porque você consegue numa linha de metrô transportar até um milhão e meio de passageiros diariamente. O monotrilho é um meio de transporte sob trilhos, vamos dizer assim, de média capacidade.
Então, regiões como Brasília, Goiânia, Curitiba, são evidentemente muito estratégicas e adequadas para que possam receber [o monotrilho], um meio de transporte médio, onde você comporta em torno de até 250, 300 mil passageiros diariamente.
Altair Tavares: O senhor citou Goiânia, então, vamos detalhar um pouco mais do nosso campo, o nosso quintal. Onde poderia colocar monotrilho em Goiânia? Numa visão de futuro, digamos que o senhor vai desenhar o futuro da cidade.
Alexandre Baldy – Bem, é uma opinião muito difícil, porque você tem que avaliar em termos de origem e destino dos passageiros para poder falar sobre um projeto efetivamente técnico. Não é simples e não é fácil você falar onde um projeto de trilho será funcional.
Você observa o Rio de Janeiro que fez monotrilho, fez VLT, Veículo Leve-Sob-Trilhos, e tem metrô. Então, quer dizer, é uma composição de modais de transporte de passageiros que são essencialmente no estudo técnico para entender a origem e o destino, para saber o que se prova viável. Um quilômetro de metrô, quando eu fui secretário de transportes no Estado de São Paulo, custava em torno de um bilhão de reais.
Um quilômetro de metrô. Um quilômetro de monotrilho custava em torno de 350 milhões de reais. Portanto, são obras bastante vultuosas que o poder público, como em toda parte do mundo faz, precisa subsidiar.
Mas é essencial que haja um estudo de origem e destino para saber de onde as pessoas partem para o destino ao qual elas irão, para saber qual é o modal adequado.
Altair Tavares: Agora, vai ser uma cena comum no futuro para o Brasil, para as regiões metropolitanas?
Alexandre Baldy – Olha, não há dúvida. Ônibus elétrico será comum. Os monotrilhos, os veículos leves sob trilhos.
A BYD, propriamente, já lançou um veículo leve sob trilho, que é conduzido com baterias, para que não haja também a necessidade de uma intervenção em vias públicas para a eletrificação, como é necessária num modal como um VLT tradicional ou num monotrilho, porque é uma intervenção urbana muito substancial, é um investimento muito expressivo.
E aí são, hoje, tecnologias mais evoluídas para que a gente possa ter uma solução de um modal ferroviário, mas com um investimento menor, que seja viável para regiões, sobretudo, como o Brasil.
Altair Tavares: Falando aqui de futuro, e a gente vendo ali uma carroceria, né, da BYD de ônibus elétrico. Esse aqui é o transporte coletivo que está, na transição energética, efetivamente, sendo posicionado, já para fora…
Alexandre Baldy – É verdade. E por várias razões. Porque se você observar para um operador, dono de uma empresa de ônibus, o óleo diesel hoje representa quase 30% do custo de uma operação de transporte de passageiro. Então, se você falar que o óleo diesel é um custo que representa quase um terço dessa operação, ele toma uma parcela importante da condição de viabilidade.
E aí, quando você fala de todo ano precisar de aumento de tarifa, porque são os aumentos de custos, folha de pagamento, óleo diesel, assim como tudo sobe, quando você fala da transição, para você colocar um ônibus elétrico, onde você pode reduzir em até cinco vezes o custo, comparado o óleo diesel com a eletricidade, e até 90% do custo de manutenção, imagine só, um ônibus a combustão, você tem um número de elementos e componentes muito maior do que um ônibus elétrico. Onde o custo de manutenção de um ônibus elétrico é 90% menor.
Então, quando a gente teve a pandemia, que eu pude, enquanto Secretário de Transportes, abrir e entender os custos de uma operação de transporte de ônibus coletivo em uma cidade, pude entender que o óleo diesel é realmente, para um médio prazo, inviável na manutenção de operações de transporte de passageiros.
Altair Tavares: Qual a sua visão sobre essa situação da disputa com os Estados Unidos, do Tarifaço com o Brasil, essa área mineral, as terras raras, e a BYD ampliando fábricas aqui no Brasil.
Alexandre Baldy –Toda crise para o Brasil é muito ruim. Porque o brasileiro, como qualquer cidadão no planeta, em qualquer crise que haja, ele não consome bens duráveis.
Então, você tem uma percepção de uma crise. Qual é o impacto que ele vai ter na sua vida, efetivamente? As pessoas, com a dúvida, o que elas fazem? Não consomem, com receio de que haja um impacto na vida delas. Especialmente de bens duráveis. Então, falamos de quê?
De carro. Hoje, com a taxa de juros já de mais de 15%. Então, você tem um impacto efetivo no mercado de carros, sejam novos, sejam usados.
Aí, você tem o impacto em eletroeletrônicos, o impacto em linha branca. Todo o consumo de bens duráveis, eles são afetados porque é onde a necessidade do consumidor se endividar pelo médio e longo prazo. Então, não é bom, não é nada qualitativo para o Brasil, para o brasileiro, para a indústria, para o comércio, para o varejo esse tipo de crise que nós estamos vivendo agora.
Altair Tavares: Então, finalizando, quais os planos da BYD quanto aos veículos, ônibus e veículos pesados para o Brasil?
Alexandre Baldy – A BYD hoje já fabrica no Brasil o chassi de ônibus elétricos que a gente está vendo ali ao fundo, desde 2014. Ela é a maior fabricante de painéis solares no Brasil desde 2017 e se tornará uma das maiores fabricantes de carros de passeio no Brasil já no ano de 2026. Portanto, os investimentos são muito estruturantes, muito estratégicos. Certamente também investirá para produzir carros pesados, como caminhões leves, caminhões médios e caminhões pesados, sejam os caminhões elétricos, aquele da primeira e última milha para atender entregas essencialmente urbanas, sejam caminhões híbridos para que a gente possa ter no meio ao pesado, fazendo o transporte com uma logística brasileira onde é mais de 80% rodoviária.
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