18 de dezembro de 2024
Economia • atualizado em 13/02/2020 às 01:37

“Cenário não é favorável”, diz presidente do Sindicarne

O médico veterinário e presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados no Estado de Goiás (Sindicarne), José Magno Pato falou em uma entrevista ao Diário de Goiás sobre a situação do mercado de carne, após a Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal no mês de março deste ano, que trouxe à tona o debate em torno da qualidade da carne produzida e comercializada no Brasil.

De acordo com o presidente, houve uma queda no consumo de carne em todo o país, o que prejudicou toda a cadeia produtora. Segundo ele, o cenário não é favorável e não há previsão para melhora. “As indústrias de exportação sofreram um baque na redução das exportações de carne e até hoje essa situação não foi estabilizada. O consumo continua retraído, as indústrias em sua maioria estão com dificuldades de abaixar o preço”. José Magno ainda acrescenta que uma estratégia deve ser pensada a fim de superar a crise.

De que forma a Operação Carne Fraca impactou no mercado e na economia de carne em Goiás?

Presidente: Essa operação teve repercussão na produção de carne não só bovina, mas em principal. Isso colocou na cabeça do consumidor que as indústrias estariam envolvidas em fraudes, o que foi comprovado não ser verdade, com isso o consumidor retraiu, o que resultou em uma queda no consumo. Houve uma queda brusca no consumo de carne, principalmente no Estado de Goiás, as indústrias frigorificas estavam com dificuldades de vender carne, não só para o mercado interno, mas para o mercado brasileiro. As indústrias de exportação sofreram um baque na redução das exportações de carne e até hoje essa situação não foi estabilizada. O consumo continua retraído, as indústrias em sua maioria estão com dificuldades de abaixar o preço, no entanto, só agora está vendo uma redução pequena no preço da carne. Os frigoríficos estão entregando a carne por R$ 8,00 e R$ 7,50 o quilo, mas mesmo assim não é suficiente para aumentar a oferta, então o consumo continua baixo. O brasileiro parou de consumir carne e isso está prejudicando o mercado. Como a cadeia de carne é extensa, começa no produtor, tem o transporte, os laboratórios que produz insumos para pecuária, a indústria frigorífica, o mercado varejista até chegar no consumidor, é uma cadeia longa onde estamos sentindo um prejuízo em todas as partes. O produtor tem dificuldades porque a carne de boi abaixou demais, o frigorífico tem prejuízo por não consegui trabalhar com 100% da sua capacidade, ou seja, todas as partes são prejudicadas. A única parte da cadeia que não teve muito prejuízo foi a varejista, pois se ele está acostumado a vender 30 quilos de carne, ele compra apenas 30 quilos, na hora que o consumo cair ele passa a comprar menos. Estamos tendo esse problema, pois ainda não conseguimos recuperar.

Com o acumulo de bois nos pastos, consequentemente existem menos abastes. Esse fator prejudica o produtor?

Presidente: Os grandes frigoríficos que fazem muito abastes e os que trabalham no mercado internacional, estão trabalhando com ociosidade de dois dias na semana. Pois eles não tem capacidade de estocagem, a estocagem está limitada. A venda também está prejudicada, nós não conseguimos reverter isso até hoje. Podemos considerar que essa crise gerou um estrago terrível. Nós também não podemos focar todos os problemas a partir da Operação Carne Fraca, existem 14 milhões de brasileiros desempregados e quem está empregado tem medo de perder o emprego, consequentemente consumem menos e quem está desempregado não consume mesmo. Esse problema está ficando bastante difícil. Havia uma expectativa de que nesse ano de 2017 seria muito bom, que a economia voltaria a crescer, mas não cresceu. O desemprego continua e o único setor que está empregando ainda é o setor rural, o resto estão todos parados e sem dinheiro ninguém come. Há uma expectativa de ter até deflação e isso é terrível por um país que tem 200 milhões de habitantes.

Há uma expectava para o aumento de exportação e até mesmo para se recompor desse crise?

Presidente: Não, por enquanto não. O cenário não é favorável. Lamentavelmente a gente tem que falar isso, não é ser pessimista, o cenário não é favorável, não é bom. Não existe um cenário dizendo que nós vamos aumentar, pois o único jeito de recuperar a pecuária seria a exportação, porque o consumo está no limite máximo. O brasileiro se habituou a comer outras carnes então reduziu em 15 anos, 10 quilos de carne bovina por habitantes ao ano e nós temos aumentado de mais a produção. Há um desequilíbrio, teremos que fazer um trabalho para estabilizar a pecuária, pois aumentou a oferta, o brasileiro não come mais carne e o comercio está no limite, com o mercado desfavorável. Vamos ter que equilibrar, o cenário não é favorável ao setor.

Com a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de 12% para 7%, isso ajudou o mercado de carne?

Presidente: Esse ICMS é só para a saída de boi do Estado. O ICMS interno é muito menor para a indústrias e para o abate, que gira entorno de 4%, mesmo assim ainda há dificuldades. Houve uma reforma do Governo, que resultou em um aumento na carga tributária para as indústrias de Goiás. As industrias frigoríficas de Goiás pagam mais ICMS do que outros estados, como Tocantins, Minas Gerais, Mato Grosso, São Paulo, Paraná, entre outros. Com essas novas medidas tomadas no final do ano passado, foi aumentada a carga tributária encima de Indústria Frigorífica do Estado de Goiás, o que dificulta um pouco mais, fazendo com que o preço do boi reduza para o produtor.

Qual a estratégia para melhorar o mercado e/ou sobreviver à crise?

Presidente: O preço tem que cair. A indústria tem que fazer duas coisas: a primeira é reduzir o preço para o mercado, na tentativa de fazer a população voltar a consumir e reduzir o abate. Isso irá refletir, lamentavelmente, na primeira fase da cadeia que é o produtor. Havia uma expectativa para que no mês de julho e agosto o arroba voltasse a subir, no entanto, aconteceu ao contrário, fez abaixar. Por outro lado, o Estado não pode isentar todo o setor de ICMS porque o mercado pode parar. 

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